Dois acidentes em refinarias da Petrobras num período de cinco dias acenderam alerta sobre o programa estatal de otimização de seu parque de refino. Trabalhadores e analistas questionam as altas taxas de utilização das refinarias, que têm operado este ano a 98% de sua capacidade para dar conta da expansão do consumo nacional de derivados de petróleo. Procurada pelo Brasil Econômico, a Petrobras não comentou o tema.
O primeiro acidente ocorreu em 28 de novembro, após o rompimento de uma tubulação na unidade de destilação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. O incidente provocou um incêndio e vazamento de 100 metros cúbicos de produtos, segundo estimativas do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR/SC). No segundo caso, registrado em 2 de dezembro, houve explosão na unidade de craqueamento catalítico da Refinaria Isaac Sabá (Reman), em Manaus, durante paralisação das operações para início de manutenção. Três trabalhadores ficaram feridos - dois deles ainda estão hospitalizados, segundo o Sindicato dos Petroleiros do Amazonas.
"Há uma combinação de efetivo reduzido e esforço pelo aumento da produtividade que compromete a manutenção, a inspeção de equipamentos e a análise de risco", diz o presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR/SC), Silvaney Bernardi, acrescentando que, antes do acidente, a preocupação já havia sido levada para avaliação do Ministério Público do Trabalho.
Após um longo período sem investimentos em novas refinarias, a empresa optou, no início dos anos 2000, por investir em modernização e ampliação das unidades existentes. Hoje, toca as obras de duas novas refinarias no país, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Como resultado do programa de modernização, a Petrobras vem comemorando mensalmente novos recordes de refino no país. No último comunicado sobre o tema, de 5 de novembro, a empresa informa ter atingido a marca de 2,25 milhões de barris por dia processados em suas refinarias.
O aumento da taxa de utilização das refinarias foi apontado no relatório de divulgação do balanço do terceiro trimestre como um dos fatores que minimizaram os impactos negativos da importação de combustíveis para abastecimento do mercado interno. Mesmo com três unidades paradas para manutenção no terceiro trimestre, a empresa comemorou o aumento na produção de diesel e de gasolina no período.
Em relatório divulgado nesta terça-feira, analistas do HSBC questionam a alta taxa de utilização das refinarias da estatal nos últimos meses. "Na nossa visão, essa taxa é insustentável e a companhia não aprendeu com as consequências da falta de manutenção na área de exploração e produção", escrevem os analistas, referindo-se a interdições de plataformas por más condições de segurança.
Parada forçada em alto-mar
Após uma série de inspeções, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) determinou, em 2011, que a empresa iniciasse um programa de manutenções em suas plataformas de produção de petróleo. A paralisação temporária das unidades foi apontada pela empresa como uma das razões para o mau desempenho dos indicadores de produção de petróleo e gás nos últimos dois anos.
Intensificadas em 2010, as inspeções da ANP foram motivadas por uma série de pequenos acidentes em plataformas instaladas em alto-mar.O órgão regulador chegou a interditar várias
unidades, até que a empresa concluísse programas de inspeção e manutenção. A primeira delas foi a P-33, instalada sobre o campo de Marlim, na Bacia de Campos. Segundo comunicado distribuído pela agência na ocasião, as operações da unidade ficariam paralisadas "até que os níveis de segurança requeridos pela ANP sejam restabelecidos".
Nos últimos dois anos, a produção nacional da companhia tem oscilado entre 1,9 milhão e 2 milhões de barris de petróleo por dia. A empresa espera reverter este quadro a partir do ano que vem, como início das operações de novas unidades.
Fonte: Brasil Econômico/Nicola Pamplona
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