As relações comerciais entre Brasil e Canadá já começam a apresentar sinais de queda devido ao avanço do novo coronavírus (Covid-19), segundo dados da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC). Para fazer com que os produtos brasileiros cheguem a terras canadenses, exportadores já estão precisando pensar em novas alternativas e rotas diferenciadas.
O diretor de relações institucionais da CCBC, Paulo de Castro Reis, destaca dois importantes impactos relacionados à logística comercial provocados pela pandemia. O primeiro diz respeito à redução dos fretes aéreos ocasionando, por consequência, aumento das taxas aéreas em praticamente oito vezes. As viagens aéreas para o Canadá são usadas para transportar carga perecível, como é o caso dos alimentos.
Como alternativa a essa escassez, as empresas estão optando por exportar produtos com durabilidade maior, como é o caso de algumas frutas, pela rota marítima. No entanto, a saída pelo mar também já enfrenta problemas de logística. Segundo De Castro Reis, as exportações marítimas foram impactadas pela redução de contêineres disponíveis. A paralisação comercial da China em razão do coronavírus provocou essa escassez e impactou as rotas comerciais como um todo.
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Diante desse cenário, a Câmara vem trabalhando em parceria com os associados na busca por soluções que minimizem esses impactos e garanta a continuidade do fluxo comercial. Entre as alternativas negociadas, estão sendo discutidas as possibilidades de rotas alternativas; a busca por diferentes fornecedores para a utilização conjunta de contêineres, dentre outras orientações e apoios.
De Castro Reis afirmou que os principais produtos brasileiros comercializados com o Canadá são commodities, em especial minérios em geral e insumos do agronegócio. No entanto, com o subsídio da CCBC, o Brasil vem aumentando a diversificação de produtos exportados como é o caso das frutas frescas. O país ainda exporta maquinário e demais alimentos e bebidas.
O presidente da MELLOHAWK Logistics Inc., empresa especialista em serviços de transporte e logística, Arnon Melo, afirmou que o comércio marítimo entre ambos os países tem sofrido alguns pequenos atrasos. Mas embora o longo período de paralisação na China tenha afetado a vinda de contêineres vazios para o Brasil, ele lembrou que após um mês de normalização logística naquele país, o atraso nas exportações não deve continuar. No entanto, empresas ainda reclamam da demora na entrega dos contêineres vazios.
Para enfrentar a pandemia, Melo afirmou que tem sugerido aos clientes que façam rotas marítimas do Brasil direto para o Canadá, sem passar pelos Estados Unidos. Ele explicou que a rigidez alfandegária americana pode manter por muito tempo o contêiner preso para a inspeção, o que pode causar custos elevados para as empresas. “É preferível ir direto para o Canadá mesmo que demore cinco ou dez dias a mais para que a carga chegue ao destino. É mais seguro”, frisou.
Já nas rotas comerciais aéreas entre Brasil e Canadá o coronavírus tem impactado o chamado Mercado da Saudade, isto é, a exportação de produtos típicos brasileiros como biscoito, açaí, pão de queijo, entre outros. Melo afirmou que estoques desses produtos já começam a ficar reduzidos nas grandes redes comerciais do Canadá. Segundo ele, eventualmente isso pode ocasionar na procura por outros mercados, mas que ainda não tem conhecimento que nenhum contrato com fornecedores brasileiros tenha sido cancelado.
Os produtos canadenses importados pelo Brasil também estão sendo impactados pela escassez dos voos. Segundo ele, devido à pandemia, a companhia aérea Air Canada que faz rota com o Brasil passou a operar apenas com cinco cidades em todo o mundo. Nenhuma no Brasil. Diante disso, alguns produtos importados chegam de um avião cargueiro, com frete mais caro e com demora na entrega.
As atuais dificuldades motivadas pela pandemia do coronavírus não reduzem o interesse da CCBC em fortalecer a parceria comercial entre Brasil e Canadá. Ao contrário, De Castro Reis afirmou que um dos desafios da Câmara é mostrar que o Canadá também pode ser um importante mercado. Ele disse que ainda são comuns análises superficiais sobre o potencial canadense. De Castro Reis destacou, porém, que isso encobre um dado importante: que o Canadá é um dos maiores importadores do mundo, até mesmo mais que o México e a Índia. E que já importa de outros países produtos exportados pelo Brasil.