O fundo de investimento em infraestrutura com recursos do FGTS registrou em 2015 o primeiro retorno negativo desde a sua criação, de acordo com fontes com conhecimento do assunto.
As demonstrações contábeis do FI-FGTS só devem ser oficialmente fechadas nas próximas semanas, mas os números preliminares apontam um retorno negativo de 3% no ano passado. Em moeda corrente, isso significa uma baixa de cerca de R$ 900 milhões no patrimônio do fundo.
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O resultado negativo se explica, em grande medida, por uma provisão de R$ 2 bilhões constituída para absorver prováveis perdas em investimento na Sete Brasil, empresa criada para fabricar e alugar sondas para a Petrobras, que enfrenta dificuldades.
Também pesou no mau resultado a revisão na avaliação de outros investimentos feitos pelo FI-FGTS, o que tecnicamente é chamado de teste de paridade (também conhecido pela palavra em inglês "impairment").
Dois motivos levaram auditorias independentes a recomendar a redução do valor atribuído a alguns dos investimentos. Primeiro, a alta dos custos de financiamento, que em alguns casos levou a uma majoração de 14% para 18% ao ano na taxa de desconto usada para avaliar os empreendimentos. O outro fator é a queda das receitas esperadas em alguns dos empreendimentos, em virtude do cenário econômico mais desafiador.
Um dos investimentos que tiveram impacto negativo no balanço do FI-FGTS é na Odebrecht Transportes, com uma baixa de R$ 400 milhões. O FI-FGTS não teve perdas diretas com a Operação Lava-Jato, mas algumas das empresas em que investe tiveram de reavaliar seu valor de mercado devido ao escândalo, como no caso da Odebrecht Transportes.
Mas a provisão para investimentos na Sete Brasil foi determinante para o retorno negativo. Em termos líquidos, esse investimento teve um impacto negativo de R$ 1,1 bilhão no balanço de 2015. Isso porque o FI-FGTS recebeu R$ 900 milhões em garantias do Fundo de Garantia para a Construção Naval (FGCN), por meio de ações do Banco do Brasil.
No balanço de 2015, essas ações estão contabilizadas pelo valor com que foram recebidas. Mas, desde então, elas tiveram uma valorização, para R$ 1,5 bilhão. Se pudessem ser contabilizadas por esse valor, a rentabilidade negativa do FI-FGTS teria sido de 1%, em vez dos 3% apurados no exercício.
O resultado negativo apurado em 2015 não compromete o patrimônio aplicado pelo FGTS no FI-FGTS nem representa um passivo para a Caixa Econômica Federal, que é a gestora do fundo.
O acordo entre a Caixa Econômica Federal e o FGTS prevê que o banco estatal garanta, ao longo de vários anos, uma rentabilidade média equivalente a pelo menos a taxa referencial (TR) mais 3% ao ano aos investimentos do FI-FGTS. Historicamente, desde a criação do fundo, sua rentabilidade acumulada ficou acima disso.
Os aportes feitos pelo FGTS no fundo somam R$ 20 bilhões, em valores históricos. A rentabilidade acumulada desde a criação do fundo (legalmente instituído em 2007, mas com início de operação apenas em 2008) chega a 53%, enquanto o referencial acumulado pela TR mais 3% ao ano chega a 33%. Em 2015, o patrimônio do FI-FGTS chegou a R$ 31 bilhões, informam fontes com conhecimento dos números.
Embora não represente um risco latente para a Caixa, o desempenho do FI-FGTS durante o período ficou aquém do seu "benchmark", que é a TR mais 6% ao ano. No período, o benchmark acumulado chega a 65%.
Fonte: Valor Economico/Por Alex Ribeiro | De Brasília