A Petrobras deve divulgar nesta sexta-feira um dos piores resultados dos últimos anos devido a um conjunto de fatores que o BTG Pactual descreveu como "a tempestade perfeita" em relatório para clientes do banco.
O analista do banco Gustavo Gattass estima queda de 60% no lucro líquido da companhia, comparado ao trimestre anterior e de 45% na comparação com o terceiro trimestre de 2010. O especialista prevê lucro de R$ 2,595 bilhões. A receita deve ficar em R$ 40,5 bilhões e o Ebitda, em R$ 10,082 bilhões, o que representa um aumento de 6% e 3%, respectivamente, de um trimestre para outro.
Para efeito de comparação, o lucro da Petrobras no terceiro trimestre do ano passado foi de R$ 4,7 bilhões, quando contabilizou receitas de R$ 30,88 bilhões e Ebitda de R$ 8,1 bilhões.
As projeções do BTG são menores que as do Deutsche Bank, que espera um lucro líquido de R$ 4,779 bilhões e R$ 15,448 bilhões para o EBITDA no terceiro trimestre deste ano.
O conjunto de fatores que deve jogar para baixo o resultado da Petrobras nos últimos três meses, com reflexos no consolidado de 2011, inclui falta de recuperação na produção de óleo e gás, paradas para manutenção de plataformas, câmbio desfavorável e baixos preços dos derivados no mercado doméstico, ressalta o analista do BTG Pactual.
Esse último problema foi minimizado pelos aumentos de 10% da gasolina e de 2% no diesel no fim do mês passado, mas que só farão realmente diferença nos últimos meses do ano.
A estimativa da própria Petrobras é que o aumento dos derivados - mesmo considerando que o diesel não agradou já que se mantém abaixo da paridade internacional em cerca de 15% - trará uma receita adicional de US$ 1,5 bilhão por ano, ou US$ 125 milhões mensais.
Entre julho e setembro o preço do petróleo do tipo Brent, que é usado como referência pela Petrobras, caiu 10,26%. O dólar, que teve variação de 20,49% no período, afeta a companhia porque ela tem dívidas denominadas nessa moeda, como também ativos e operações no exterior, incluindo importações de derivados a preços internacionais para atender o mercado brasileiro.
Já a produção é um assunto à parte. Depois da euforia das descobertas do pré-sal, que foi seguida pela capitalização que tirou o humor de grande parte dos analistas do mercado financeiro, a Petrobras enfrenta uma preocupante dificuldade para aumentar sua produção nos níveis esperados tanto por ela quanto pelos acionistas privados.
O problema, causado em parte pela frequente paralisação de plataformas para manutenção - entre setembro e outubro onze unidades pararam -, está sendo potencializado por uma queda acelerada da produção de alguns campos gigantes e já maduros da bacia de Campos, entre eles Marlim, Albacora e Roncador, como destacou um relatório do Credit Suisse.
O banco suíço chamou a atenção para a taxa de depleção (redução da produção devido a um esgotamento natural dos reservatórios), que se acelerou a partir de 2009 e está em torno de 20% ao ano, quando a taxa média reportada pela companhia é de 7,5% a 10% ao ano.
Sobre isso, tanto o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, como o diretor financeiro, Almir Barbassa, explicaram recentemente ao Valor que o problema está sendo causado pela demora na entrega de sondas de perfuração para águas profundas. Barbassa lembrou ainda que a partir de 2007 a empresa deslocou para a exploração do pré-sal equipamentos que deveriam ser usados para perfurar novos poços nos campos em produção.
"Deixamos de fazer para garantir os blocos [onde foram encontrados os campos do pré-sal]. E a estratégia foi um sucesso. Fomos responsáveis por um terço das descobertas mundiais nos últimos cinco anos, sem incluir as águas rasas e isso teve um preço em termos de manutenção da produção", disse o diretor.
O resultado negativo da Petrobras não será o único entre seus pares internacionais. A Shell teve queda de 19,46% no lucro em relação ao segundo trimestre, enquanto na ExxonMobil a redução foi de 19,46%.
Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner | Do Rio
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