Sem perder a marca de cidade-balneário, famosa pelas belezas naturais, e até por essa razão, o Rio de Janeiro quer passar a ser também conhecida como uma das capitais do petróleo no mundo Ocidental, rivalizando com a americana Houston, a norueguesa Stavanger e a escocesa Aberdeen. A descoberta de grandes reservas de petróleo na camada pré-sal da costa brasileira, parte considerável delas no subsolo marinho do Estado do Rio de Janeiro, seria a coroação de uma vocação enraizada nos fatos de a cidade ser a sede da Petrobras e de outras grandes empresas do setor e de o Estado já produzir cerca de 80% de todo o petróleo extraído do subsolo brasileiro.
Com esse perfil e com um estudo da consultoria Booz & Company recém-saído do forno, mostrando o interesse de várias empresas do setor de se instalarem ou ampliarem suas instalações na cidade debaixo do braço, uma delegação do Rio desembarca dia 2 de maio na abertura da tradicional Offshore Technology Conference (OTC), o maior evento do calendário mundial da indústria do petróleo. Pela primeira vez a cidade do Rio de Janeiro terá um estande oficial no evento, ponto de partida para uma maratona de encontros da delegação carioca chefiada pelo diretor-executivo da Rio Negócios, a agência de promoção de investimentos do município, Marcelo Haddad.
"O estudo (da Booz) comprovou que o Rio tem tudo para ser a capital de energia do Brasil e da América Latina e uma das principais do mundo", afirma Tiago Silveira, gerente da Rio Negócios responsável pela área energética, um dos membros do pelotão avançado que, além de Houston, irá também a Nova York e Washington.
De acordo com Arthur Ramos, coordenador do estudo da Booz & Company, foram ouvidas cerca de 30 grandes empresas internacionais, a maioria já presentes na cidade, e dois terços delas manifestaram disposição de fazer investimentos nos próximos anos, sejam comerciais ou industriais. Entre as empresas internacionais que ainda não estão no Rio e nem no Brasil, e que a prefeitura do Rio quer atrair, estão a dinamarquesa DMT, as americanas Davis Lynch e ION e a suíça Aibel. Outras que estão sendo almejadas já estão em outros Estados, como a Rockwell, a Yokogawa, a Krohne e a Aker. Segundo Silveira, da Rio Negócios, a intenção não é canibalizar outros Estados, mas atrair futuras expansões dessas empresas que estão em outros Estados.
A pesquisa, segundo Arthur Ramos, mostrou que, diante do novo ciclo da indústria do petróleo brasileira desencadeado pela descoberta do pré-sal, as empresas estão revendo seus planos de crescimento orgânico e planejando saltos mais rápidos.
Ramos disse que somente os investimentos totalmente certos para os próximos cinco anos somam R$ 3 bilhões e uma geração de aproximadamente 4,5 mil empregos, números que ele considera muito conservadores e até pouco representativos das reais perspectivas para a cidade. O consultor da Booz & Company disse que o estudo buscou identificar a percepção da cadeia produtiva do petróleo em relação à cidade, partindo de evidências como as reservas de óleo, a sede da Petrobras e a formação crescente de um polo de inovação e tecnologia em torno das universidades.
Ao lado do quadro favorável que emergiu da pesquisa, o trabalho detectou também as preocupações das empresas com problemas que podem dificultar os planos da prefeitura da capital fluminense. Segundo Ramos, os obstáculos mais citados foram problemas de logística, relacionados com mobilidade urbana (transporte público) e de telecomunicações, altos preços dos imóveis e segurança pública.
O analista relativizou o primeiro e o último. No caso dos transportes, com as obras em curso ou programadas para os Jogos Olímpicos de 2016. No caso da segurança, Ramos ressalvou que a pesquisa foi feita antes da ação de limpeza (no sentido da segurança) e ocupação pelas Forças Armadas do Complexo do Alemão, uma espécie de marco da reversão de expectativas quanto à segurança que já havia começado com o programa de Unidades de Polícias Pacificadora (UPPs), iniciado em novembro de 2008.
O secretário de Desenvolvimento da Cidade do Rio de Janeiro, Felipe Góes, disse que a maior prova do acerto da atual política de segurança, tarefa que compete ao governo do Estado, é que nos contatos com investidores para a atração de novos negócios, o problema da violência vem deixando de ser "o entrave central", como era em passado recente, para tornar-se uma "preocupação periférica".
Segundo o secretário, os números recentes mostram que o Rio já superou o longo período negativo vivido desde a transferência da capital federal para Brasília (1960). No ano passado, por exemplo, o município criou 120 mil empregos formais, correspondentes a 5% da base de empregos da cidade.
No campo da infraestrutura de transportes, o secretário disse que as obras em andamento, incluindo uma nova linha de metrô (Ipanema-Barra da Tijuca) e quatro linhas de BRT (sigla em inglês para corredores segregados de ônibus articulados), farão com que o transporte em meios de alta capacidade no município passe dos atuais 16% para 50% até 2016.
Questionado sobre a sua ausência e a do prefeito Eduardo Paes (PMDB) na delegação que vai aos Estados Unidos, o secretário disse que o objetivo é dar um caráter eminentemente técnico à missão, cabendo à cúpula da administração municipal agir em uma etapa mais avançada de negociações para a atração de negócios.
Fonte: Valor Econômico/Chico Santos | Do Rio
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