Apesar de as experiências com biogás (produzido a partir de fonte orgânica) estarem ainda “engatinhando” no Rio Grande do Sul, dentro de cinco anos a expectativa é de que a geração comercial desse combustível chegue a cerca de 300 mil metros cúbicos diários. A aposta é do diretor-presidente da Sulgás, Roberto Tejadas, que ressalta que se trata de uma importante alternativa para atenuar a dificuldade de oferta de gás natural no Estado. O dirigente revela que os gaúchos estão consumindo, em momentos de pico, cerca de 2 milhões de metros cúbicos ao dia de gás natural. Somente o mercado de gás natural veicular (GNV) demanda aproximadamente 210 mil metros cúbicos diários. E a capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que abastece o Rio Grande do Sul, é de apenas 2,8 milhões de metros cúbicos ao dia quando atinge o Estado.
Tejadas adianta que a Sulgás detectou uma perspectiva de curva vigorosa na demanda de gás para os próximos anos e tem discutido com a Petrobras opções de suprimento ao Estado. O diretor detalha que temas pontuais debatidos com a Petrobras foram atendidos, como um acréscimo de volume para atender à unidade de Guaíba da CMPC Celulose Riograndense. Porém, ainda existe uma lacuna quanto às respostas estratégicas, de longo prazo. Tejadas salienta que obras de infraestrutura têm que ser trabalhadas com previsibilidade e antecedência, e um gasoduto leva cinco anos ou mais para ser construído. “O mercado dos estados do Sul chegou à exaustão do ponto de vista de suprimento, portanto precisamos de uma solução urgente para isso”, frisa.
Na manhã desta quinta-feira, Tejadas testemunhou um indicativo de que o biogás pode ser viável. O dirigente esteve em Montenegro acompanhando a operação da planta-piloto de biometano (um biogás purificado com a retirada do CO2) dirigida pelo Consórcio Verde-Brasil, formado pelas empresas Ecocitrus e Naturovos. A atividade também fez parte dos eventos da Renex South America - Feira Internacional de Energias Renováveis, que será encerrada nesta sexta-feira, no Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre.
A Sulgás está em tratativas avançadas com essas companhias para comprar o combustível e depois revender aos seus clientes o produto, chamado de GNVerde. Para que o contrato se concretize, ainda é preciso debater questões de regulação com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Tejadas comenta que o biogás produzido em Montenegro, a partir de dejetos de aves poedeiras e de resíduos agroindustriais, demonstra equivalência com o gás natural boliviano que abastece o Estado. Ou seja, sendo análogo o insumo pode ser utilizado em todas as aplicações habituais do combustível fóssil (geração de energia elétrica, térmica, abastecimento de veículos etc).
A planta tem capacidade para gerar até 5 mil metros cúbicos ao dia de biometano, e há planos para atingir cerca de 20 mil metros cúbicos diários em meados do próximo ano. O investimento na unidade, até agora, foi de cerca de R$ 4 milhões. O diretor da Naturovos, João Carlos Müller, esclarece que a empresa buscou a Ecocitrus para transformar os rejeitos em adubo orgânico. No entanto, no transcorrer do projeto, percebeu-se que seria possível ter uma valoração maior do produto agregando a geração de gás. O combustível produzido é usado no consumo próprio do consórcio para abastecer, por exemplo, automóveis. Müller antecipa que uma possibilidade para o complexo é candidatar-se aos créditos de carbono.
O presidente da Ecocitrus, Fábio José Esswein, argumenta que o apelo da sustentabilidade é muito forte, e os empreendedores podem aproveitar esse diferencial na área do marketing. O empresário calcula que a viabilização da comercialização do gás pela Sulgás se dará em poucos meses. O dirigente projeta que o transporte do biogás pela distribuidora até os clientes finais, inicialmente, deverá ser feito por cilindros, já que a rede de gasodutos ainda não avança até o local de produção.
Fonte: Jornal do Commercio (POA)/Jefferson Klein, de Montenegro
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