O Brasil reverteu, em novembro, a tendência de forte déficit na balança de petróleo e derivados. Com esse movimento, encerrou o mês com um superávit de US$ 1,7 bilhão na balança comercial do país. No ano, o resultado ainda é de um déficit de US$ 89 milhões, resultado que o governo espera reverter em dezembro para um saldo positivo.
No ano, o Brasil acumulou um déficit de US$ 19,5 bilhões, apenas nas exportações e importações de petróleo e derivados. O déficit é quase quatro vezes o saldo negativo de US$ 5,6 bilhões de janeiro a novembro de 2012. Em novembro, o déficit em petróleo e derivados foi de US$ 633 milhões, resultado 70% inferior ao de igual mês do ano passado.
Por outro lado, o Brasil exportou US$ 1,8 bilhão em plataforma de petróleo em novembro deste ano, valor 173% superior ao de igual mês de 2012. Além do menor déficit na balança de petróleo e derivados e da ajuda das plataformas, o Ministério do Desenvolvimento (Mdic) avalia que o câmbio começou a ajudar o exportador e a inibir importações.
Faltando um mês para o fim do ano, a balança comercial brasileira se aproximou do resultado esperado pelo governo, que continua prevendo um saldo "equilibrado" ou "um pequeno superávit" no desempenho do comércio internacional do país em 2013. No entanto, o Mdic não descartou a possibilidade de um déficit próximo de zero no ano.
A expectativa do governo é que o câmbio continue no patamar em que está. No nível atual, ele deve continuar a estimular as exportações, além de contribuir para que as importações não subam [no mês], segundo o diretor do Departamento de Estatística e Apoio à Exportação (DEAEX) do Mdic, Roberto Dantas. "A questão cambial vem diminuindo a demanda por bens importados", disse, frisando que esse impacto está sendo registrado nas compras de bens de consumo duráveis e de não duráveis. Do lado das exportações, o câmbio ajuda os produtos brasileiros. Ele citou como exemplo a venda de automóveis, que cresceu 47% de janeiro a novembro em relação a igual período de 2012, com o "impulso" do câmbio mais favorável.
Além disso, o diretor do Mdic lembrou que, em dezembro, há "movimento de importação bem menor que novembro". O mês também é marcado por uma atividade econômica mais fraca e pela entressafra de produtos agrícolas, que resultam em uma menor demanda por insumos e por diesel estrangeiros, respectivamente.
A Tendência Consultoria também vê influência do câmbio no superávit de US$ 1,7 bilhão registrado em novembro, além da menor importação de derivados. De acordo com Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, o resultado veio acima do saldo positivo de US$ 1 bilhão esperado para o mês pela consultoria.
Nas exportações, que cresceram 1,9%% na média diária com novembro do ano passado, chamou a atenção o crescimento de 12,6% nas vendas ao exterior de minérios, de 5,1% de carnes e de 41,4% de material de transporte. As exportações de petróleo, que no ano recuaram 38%, foram idênticas as de novembro de 2012. "O crescimento das exportações de alguns produtos pode refletir o longo período em que estamos com desvalorização cambial. A balança uma hora iria começar a sentir esse efeito também", afirma Salto.
As plataformas de petróleo contribuíram de forma significativa para a redução do déficit da balança no acumulado do ano. Somente em novembro foram US$ 1,83 bilhão em exportação de plataformas. No acumulado, as plataformas representam 7,8% da exportação brasileira de manufaturados e 3% da exportação total. Principal item da pauta de exportação de manufaturados do Brasil, as plataformas vendidas para o exterior somaram US$ 6,58 bilhões no acumulado de janeiro a novembro, contra US$ 1,46 bilhões contra mesmo período de 2012.
A contabilização da plataforma de petróleo como exportação é considerada polêmica porque o item, na verdade, não deixa o país. A legislação tributária, porém, considera a operação como exportação para fins de aplicação de benefícios fiscais. A contabilização serviu para amenizar o mau desempenho da exportação brasileira. Retiradas as plataformas, a queda da exportação total do país teria sido de 3,4%, considerando a média diária no período de janeiro a novembro, contra iguais meses de 2012. Com as plataformas, a queda foi, no mesmo critério, de 1,1%. As importações totais, por sua vez, cresceram 7,2% até novembro.
Nos últimos anos, dezembro tem sido um mês de grandes superávits. De 2001 a 2012, o último mês do ano teve um saldo positivo entre US$ 845 milhões e US$ 5,3 bilhões. Mas Dantas, do Mdic, frisou que o resultado da balança comercial em dezembro de 2013 vai "depender" do comportamento da chamada conta petróleo, que considera a diferença entre exportações e importações de petróleo e derivados.
Fonte: Valor Econômico/Thiago Resende, Rodrigo Pedroso e Marta Watanabe | De Brasília e São Paulo
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