Sergio Lamucci, de São Paulo
Na sexta-feira, o conselho de administração da Meias Lupo bateu o martelo e decidiu mais do que dobrar o volume de investimentos em 2010, passando dos R$ 18 milhões definidos no ano passado para R$ 37 milhões. Desse total, R$ 32 milhões devem ser destinados à compra de máquinas e acessórios, principalmente para a produção de roupas esportivas. Em fevereiro, a Lupo já havia recebido 98 máquinas importadas da Itália na sua fábrica de Araraquara, em São Paulo, para ampliar a fabricação de meias. Com essas medidas, a empresa pretende aumentar em 15% a capacidade de produção em relação a 2009, quando confeccionou 90 milhões de peças, conta o diretor comercial da Lupo, Valquírio Cabral. "A expectativa é de que o faturamento cresça de 20% a 22% neste ano. No primeiro bimestre, o aumento foi de quase 24%."
A história da Lupo é um bom retrato do ciclo de investimentos que volta a ganhar corpo no Brasil. O principal motor da empresa é o mercado interno, que responde por 95% de seus negócios. Companhias voltadas ao mercado doméstico estão apostando na ampliação da capacidade produtiva, estimulados pela força do mercado de trabalho e pela ampla oferta de crédito, diz o chefe do departamento econômico do BNDES, Fernando Puga. O quadro é mais positivo no setor de petróleo e gás, com inversões puxadas pela Petrobras.
O número de empresas que anunciam projetos de investimentos aumentou bastante a partir de novembro, segundo levantamento do Bradesco. Em fevereiro, foram 103, o maior nível desde os 110 de maio de 2008. O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, diz que os investimentos estão "espraiados" pela economia, destacando que a indústria, que sofreu muito em 2009, voltou a investir com força. "A resistência da economia brasileira potencializou os investimentos do setor privado, passada a turbulência." Como o Brasil mostrou força num momento de forte incerteza, as empresas se sentem seguras para investir em projetos de maior amplitude, com horizontes dilatados, afirma Barros, que prevê alta de 21,1% para o investimento neste ano.
A retomada das inversões fica clara na demanda por empréstimos para a compra de máquinas e equipamentos do BNDES, impulsionada também pela baixa taxa de juros cobrada no Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), de 4,5% ao ano.
A Prysmian Cabos e Sistemas (ex-Pirelli Cabos) é uma das companhias que recorreram ao BNDES. O grande projeto da empresa hoje é a construção de uma fábrica em Vila Velha, no Espírito Santo, voltada para a produção de tubos flexíveis, com o objetivo principal de atender a demanda da Petrobras para a exploração em águas profundas. Do custo total de R$ 240 milhões, R$ 178 milhões vêm do BNDES. Dado o tamanho do empréstimo, os contratos foram acertados diretamente com o banco estatal. Dos R$ 178 milhões, R$ 100 milhões se referem a compra de máquinas e equipamentos, a taxas de 4,5%. Segundo o presidente para a América do Sul da Prysmian, Armando Comparato Jr., a empresa não teve problemas para acertar as operações, uma das quais fechada no começo do mês.
Comparato conta que a empresa vai investir metade dos R$ 240 milhões neste ano - mais que os 40% gastos no ano passado. Para 2011, devem ficar os 10% restantes. A expectativa é que a nova fábrica comece a produzir no fim deste ano ou no primeiro trimestre de 2011. A empresa planeja destinar 70% da produção de tubos flexíveis para a Petrobras e outros 30% para o mercado externo. Segundo ele, a Prysmian investirá mais R$ 15 milhões em 2010 na "melhora e upgrade" de máquinas como as voltadas para a produção de cabos de distribuição de energia, mineração e metalurgia e veículos.
O caso da Prysmian evidencia a capacidade da Petrobras de dinamizar investimentos de seus fornecedores. Levantamento do BNDES aponta que as inversões do setor de petróleo e gás entre 2010 e 2013 devem totalizar R$ 295 bilhões, dos quais cerca de 80% são projetos da Petrobras. No primeiro bimestre, o maior volume de consultas ao BNDES veio do segmento de coque, petróleo e combustível - R$ 3,989 bilhões, 598% a mais do que no mesmo período de 2009.
Nos setores mais voltados ao mercado interno, o automotivo e o petroquímico são os grandes destaques. A indústria automotiva deve investir R$ 32 bilhões entre 2010 e 2013, 40,8% a mais do que no ciclo de 2005 a 2008. Na petroquímica, os projetos chegam a R$ 36 bilhões entre 2010 e 2013, 87,1% acima do período anterior. Outra boa notícia, segundo Puga, é que têm surgido sinais favoráveis em setores que exportam insumos industriais importantes, como papel e celulose e siderurgia.
Há também empresas que não projetam altas do investimento em 2010, mas nem por isso vão deixar de apostar no aperfeiçoamento de seus processos produtivos. É o caso da Weg, fabricante de motores, geradores, transformadores e tintas, que planeja investir R$ 260 milhões neste ano, um volume um pouco inferior aos R$ 270 milhões de 2009. Segundo o diretor de Relações com Investidores da Weg, Alidor Lueders, os recursos serão aplicados especialmente em máquinas para aumentar a flexibilidade da companhia, de modo a atender com mais rapidez os pedidos dos clientes. Ele diz que a demanda do setor de bens de capital, responsável por cerca de 50% do faturamento da Weg, teve melhoras a partir de outubro de 2009, mas não tão intensas como as do segmento de bens duráveis que usam motores de menor porte (como cortadores de grama, secadoras e lavadoras de roupa). Esse setor, porém, só responde por 10% a 12% dos negócios da Weg.
O assessor da presidência da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Bernardini, vê a situação do investimento com mais ceticismo que Puga e Barros. Para ele, há uma recuperação forte nos últimos meses, mas que se dá depois do forte tombo do investimento em 2009, de 9,9%. "Há uma melhora, mas não vejo esse oba-oba todo que alguns apontam." Bernardini considera importante que as condições do PSI, programadas para terminar em junho, não acabem de modo brusco. O ideal, segundo ele, é que a alta da taxa do financiamento de máquinas e equipamentos aumente gradualmente dos atuais 4,5%, e suba pouco. Sem isso, a demanda pode cair bastante no segundo semestre, avalia.
Fonte: Valor
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