Do pequeno agricultor que confia sua sobrevivência a uma atividade que tem perdido espaço a cada ano ao empresário ávido por novos clientes, os mais de 44 mil habitantes do Município de São Gonçalo do Amarante convivem com uma certeza. Nos próximos anos, a cidade passará por transformações que afetarão a vida de todos os moradores.
Em meio à perspectiva de mudança, contrastam, nas declarações e nos semblantes dos habitantes, sinais de otimismo, saudosismo e receio. Independente dos sentimentos de cada um, todavia, todos projetam seus pensamentos para um único ponto - o futuro que chega a um ritmo cada vez mais acelerado.
Com a primeira estaca cravada no dia 17 de julho último, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) é hoje o maior ícone das alterações previstas para uma cidade que, apesar do desenvolvimento que já ocorre, enfrenta deficiências ligadas à infraestrutura e à educação.
Com a promessa de oferecer 23 mil empregos diretos e indiretos - dado que representa cerca de 79% dos 29 mil moradores do município que têm entre 15 e 64 anos, a usina se apresenta como uma oportunidade gigantesca para aqueles que procuram postos de trabalho ou enriquecimento através do fornecimento de produtos ou serviços.
Com investimento que supera US$ 5 bilhões, o empreendimento, antes de operar, poderá ser responsável por ajudar a solucionar gargalos como a baixa escolaridade de São Gonçalo, onde 20% da população maior de 15 anos é analfabeta.
O índice de médicos por cada mil habitantes (0,84), que é inferior à média do Estado (1,15), e o percentual de domicílios atendidos com abastecimento de água pela rede pública (50,25%) e com rede de esgoto (178,8%), são outros pontos que podem ser aprimorados em curto prazo.
Benefícios se espalham
Também é consenso, porém, que os benefícios da instalação da siderúrgica se estenderão por dezenas de outras cidades, afetando o entorno do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) e municípios mais distantes que já fornecem mão de obra e produtos, como Limoeiro do Norte e Sobral.
Há décadas aguardada no Ceará, a siderúrgica traz consigo a promessa de atrelar a suas atividades uma postura de sustentabilidade atenta aos impactos que serão gerados ainda durante a construção.
Com investimentos vultosos voltados para a preservação ambiental, estudos destinados à valorização da mão de obra local e diálogo intenso com o poder público e com entidades que acompanham o processo de instalação, a siderúrgica cearense deve levar o Estado a uma posição de ainda mais destaque no cenário internacional.
Enquanto todas as perspectivas aguardam o momento certo para a concretização, as cidades no entorno vivem a agitação da expectativa e o anseio do planejamento, à espera de que comece a se tornar mais nítido o resultado dos investimentos dos empresários e pequenos comerciantes e da chegada de centenas de estrangeiros, principalmente da Coreia do Sul.
Por hora, o ritmo acelerado de crescimento, que aponta para uma série extensa de benefícios, já mostra também alguns efeitos negativos, como a especulação imobiliária e a maior demanda da população por serviços básicos, como saúde, segurança, mobilidade e educação.
Fonte: Diário do Nordeste / João Moura
PUBLICIDADE