A ThyssenKruppp, conglomerado alemão com negócios em componentes automotivos, equipamentos industriais, elevadores e siderurgia, colocou em operação na semana passada uma nova unidade de negócios no Brasil - uma fábrica de autopeças. Em razão da contração da indústria automotiva no país, a instalação, em Poços de Caldas (MG), inicia produção com metade (500 mil peças ao ano) da capacidade projetada.
Do investimento total em Poços de Caldas, de R$ 100 milhões, devido ao encolhimento da demanda, foi aplicado 60%. "Vamos ocupar a capacidade mais devagar que o previsto. O restante, vamos definir quando o mercado voltar a mostrar sinais de recuperação", disse ao Valor o presidente da companhia na América Latina, Michael Hollermann.
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A fábrica mineira começa empregando 60 pessoas. Quando for inteiramente ocupada no futuro, com o restante do investimento para adquirir mais equipamentos, vai atingir 170 funcionários.
O executivo informa que essa unidade está dotada de tecnologia de última geração, toda automatizada, ao mesmo tempo que outras linhas na Alemanha e China, para fazer o eixo comando de válvula. O componente tem como cliente a plataforma de carros da Volkswagen no Brasil. No futuro deve ser adaptado para outras marcas. Sua maior vantagem, diz, é ser mais leve, com menor consumo de combustível e emissão de gás carbônico na atmosfera.
Na área automotiva, a companhia está equilibrando o desempenho de suas operações no Brasil graças a aumento nas exportações, favorecidas pelo dólar valorizado e pelos canais de exportação que abriu nos últimos cinco a seis anos, informou o executivo. A fabricação de autopeças em Campo Limpo Paulista (SP), por exemplo, já tem 75% das vendas destinadas ao exterior, para diversos mercados. "Como companhia é global, temos as vantagens tecnológicas e de acesso a mercados. Agora, contamos também com maior competitividade do câmbio", disse Hollerman. Antes da retração, os embarques representavam cerca de 45%.
Também no negócio de elevadores a Thyssen vem desovando parcela da produção ao exterior, especialmente na América do Sul. A fábrica situada em Guaíba (RS), que ganhou expansão de 30% na capacidade, está embarcando kits de elevadores para Colômbia, Panamá e Chile. "São as vantagens de uma gestão centralizada na região", afirmou Hollermann.
Uma área em expansão no país, que favorece o grupo, é a de energia eólica, com fabricação de peças de aerogerador
Segundo o executivo, o mercado de elevadores enfrenta retração de 15% a 25% no Brasil, dependendo do segmento. Em pedidos novos, a TK Elevadores sente recuo da ordem de dois dígitos. O setor sofre com a queda de lançamentos imobiliários nos últimos anos - destaque para grandes edifícios - e com a paralisia em obras de infraestrutura, como aeroportos e linhas de metrô.
A área de equipamentos para atividades industriais de mineração, cimento, siderurgia e outras também enfrenta baixa demanda. Compensa com algumas vendas na região, como Colômbia, onde ganhou contrato para uma grande fábrica de cimento.
Nesse negócio, uma boa notícia do Brasil vem da área de geração de energia eólica. Em Diadema (SP), a Thyssen fabrica rolamentos para os aerogeradores fabricados por diversos grupos, como GE, Gamesa, Avec e Acciona. "É um mercado bem disputado", disse o executivo, que no mínimo uma vez por mês viaja à Alemanha para reportar a situação e o desempenho dos negócios.
A produção de aço semiacabado (placas) da ThyssenKrupp CSA, siderúrgica localizada no Rio de Janeiro, está estável. "Estamos operando no nível desenhado de 80% da capacidade instalada - 5 milhões de toneladas ao ano -, exportando para os EUA, México e Europa (Alemanha e Leste Europeu)", diz Hollermann. A CSA, uma associação com a Vale (27%), segundo ele, gostaria de elevar a produção, mas o mercado de aço no mundo está deprimido, com excesso de oferta e preços em queda.
A empresa, que vai divulgar seus dados anuais, cujo ano fiscal encerrou em 30 de setembro, no dia 19 deste mês, não informa números financeiros. No ano passado, a receita líquida no Brasil atingiu a cifra de R$ 9,3 bilhões, sendo 60% desse valor com a CSA, 27% com componentes e equipamentos e 13% com elevadores.
Hollerman disse que os ajustes do quadro de pessoal no país devido à crise acabou equilibrado, com cortes em algumas áreas mas contratações em outras (nova linha de Campo Limpo e Poços de Caldas). A empresa tem 12 mil funcionários no Brasil - 38% nas áreas de componentes e plantas industriais, 33% na de elevadores e 29% na atividade siderúrgica.
O grupo tem plano de investimento de R$ 2 bilhões até 2020 no país. Sua aplicação vai ser ajustada conforme as condições do desempenho da economia local.
Fonte: Valor Econômico/Por Ivo Ribeiro | De São Paulo