Os tremores que causaram devastações no Japão abriram espaço para correções no mercado de açúcar em Nova York nos últimos dias.
Diante do pessimismo no mercado financeiro e da elevação da aversão ao risco dos investidores, o primeiro contrato futuro caiu 321 pontos, de 28,86 centavos de dólar por libra-peso no dia 11 de março, sexta-feira, para 25,65 centavos na última terça-feira, dia 15 de março.
Não obstante os fatores técnicos, alguns fundamentos também afetam as negociações na Bolsa de Nova York, como a paralisação dos portos no Japão, que é um dos dez maiores importadores de açúcar do mundo.
Anualmente, os japoneses consomem 2,3 milhões de toneladas de açúcar cru equivalente, dos quais apenas 35% são atendidos pela produção doméstica.
O consumo de açúcar no Japão já chegou a 2,8 milhões de toneladas entre os anos 80 e 90, porém mudanças no hábito de consumo de alimentos, tais como aumento de produtos dietéticos e também a disponibilidade de substitutos como o sorbitol, reduziram a demanda pelo açúcar.
Cerca de 80% da produção doméstica é derivada da beterraba, cuja produção está centrada na ilha de Hokkaiko, no norte do país.
Os outros 20% estão localizados nas pequenas regiões de Okinawa e Kagoshima, a partir de cana-de-açúcar. Apesar dos baixos índices de produtividade, a produção doméstica tem se mantido viável por conta dos subsídios do governo.
O Japão já chegou a produzir quase 1 milhão de tone- ladas de açúcar em 2009/10, das quais 880 mil toneladas produzidas a partir da beterraba. Mas, para 2010/11, devido ao clima adverso, há previsão de que apenas 840 mil toneladas sejam produzidas.
Com isso, o Japão importa cerca de 1,5 milhão de toneladas de açúcar ao ano, cuja metade do volume tem como origem a Tailândia. O Japão é o terceiro principal destino do açúcar tailandês.
E, de todo o açúcar importado, mais de 98% é na forma de açúcar cru. A maior parte das refinarias de açúcar está localizada nas redondezas de Tóquio e em outras cidades mais ao sul do país.
Contudo, o aumento da demanda no mercado interno tailandês e a quebra de safra na Austrália têm forçado o Japão a buscar açúcar em outros mercados fornecedores, como o Brasil. Em 2010, o Brasil exportou para o Japão 116 mil toneladas, ante 5.800 em 2009.
Os graves problemas causados pelos tremores seguidos de tsunamis devem aumentar as preocupações com segurança alimentar e a necessária recomposição de estoques, não apenas no Japão, mas também em outras partes do mundo.
PLINIO NASTARI é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da Datagro Consultoria.
Fonte: Folha de São Paulo/PLINIO NASTARI/ESPECIAL PARA A FOLHA
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