A Tupy, maior fabricante global de blocos e cabeçotes de ferro fundido, passou por uma reestruturação nos últimos anos e agora está pronta para engrenar seu crescimento. Depois de quase quebrar em 2003, teve uma lenta recuperação até atingir uma situação operacional positiva. Hoje, é líder no país na maioria das áreas em que atua e tem duas fundições no México. Agora, planeja ir além. A empresa tem sido bem vista pelo mercado, entre outros motivos, por ter a maioria de suas receitas em dólares, em um momento de valorização da moeda americana.
Financeiramente, a Tupy tem boa estrutura e um caixa de R$ 1,05 bilhão, após uma oferta subsequente em que levantou R$ 517 milhões em outubro. Ainda precisar melhorar seus indicadores de retorno, dizem analistas, mas tende a apresentar bons resultados.
No comando da companhia desde 2003, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro capitaneou a reestruturação da Tupy nos últimos anos, principalmente com ações de redução de custos. Indicado para a presidência da fundição por seus principais acionistas - Previ e BNDESPar, com 28,2% do capital cada uma - ele afirma ter vivido "várias Tupys", que resultam numa nova Tupy bem estruturada.
De um grande endividamento no início da década passada, com a dívida líquida de 5,5 vezes o Ebitda, a Tupy hoje tem uma posição confortável para investir, ele afirma, com sua dívida líquida equivalente a 3 vezes o Ebitda.
O uso dos recursos da oferta de ações ainda não está definido, mas Ferro adianta que entre as suas prioridades está a continuidade da expansão em solo mexicano. "Hoje em dia, olhando as regiões que a Tupy atende, é a que tem maior potencial", afirma.
A ida ao país foi um grande acerto em sua estratégia de internacionalização, na opinião dos analistas do setor. Por US$ 441,7 milhões, a Tupy fincou seus pés no país em 2011 e facilitou seu crescimento no mercado automotivo norte-americano.
Agora, está nos planos de Ferro o início da usinagem no México. Com esse processo, a Tupy faz o acabamento das peças, o que agrega valor aos seus produtos. "Temos sinais concretos de clientes que querem isso", afirma, mas completa que a usinagem é "um negócio que custa caro" e, por isso, a decisão sobre a possibilidade de uma eventual aquisição local vai depender de avaliações de retornos.
A produção mexicana, direcionada à blocos e cabeçotes para motores, adicionou 308 mil toneladas à capacidade anual da Tupy, para 843 mil toneladas, e 3,5 mil funcionários ao seu quadro, a 12,5 mil pessoas. Com isso, a Tupy estima ter 25% de participação nos mercados das Américas e da Europa, quando somadas as operações. Também elevou sua receita vinda do setor automotivo. Do total de R$ 2,3 bilhões nos primeiros nove meses do ano passado, 92% veio deste segmento, com peças para veículos leves, comerciais e usados em construção, agricultura e mineração. Os demais 8% vieram do setor hidráulico.
No início, o avanço à América do Norte ajudou a pressionar seus balanços (em 2012, a Tupy lucrou R$ 66,4 milhões, queda de 67% em um ano). Agora, contribui para que tenha 65% de suas receitas em dólares - e apenas 30% das despesas. Essa exposição é um dos pontos mais fortes da empresa, na visão de analistas.
Nas contas de Bernardo Carneiro, do Deutsche Bank, a cada R$ 0,10 de queda do real, seu Ebitda cresce em R$ 46 milhões.
Além da continuidade do avanço no México, outras prioridades de Ferro são a busca de um melhor aproveitamento de suas unidades e o fortalecimento no mercado local, no qual a Tupy divide a liderança com a Teksid, fundição do grupo Fiat. "Queremos distribuir nossos produtos de forma que as linhas mais eficientes sejam as mais utilizadas".
A empresa tem dois parques industriais no país -um em Joinville (SC), sua sede, e Mauá (SP).
O crescimento no país, onde o setor automotivo vem mostrando expansão contida, exige inovações. Hoje, a empresa investe cerca de 3% de seus custos em pesquisa e desenvolvimento, afirma Ferro. Para analistas, este é outro ponto forte da Tupy, que surgiu em 1938 justamente como resultado de uma busca por inovação.
Dez anos antes, os fundadores tentavam descobrir uma fórmula de ferro fundido maleável para a fabricação de conexões. Após anos de tentativas e erros, Albano Schmidt, Hermann Metz e Arno Schwarz chegaram à composição. Em 1981, o então presidente da empresa, Hans Dieter Schmidt, filho de Albano, faleceu em um acidente aéreo. Uma década depois, o controle da empresa passou para a Previ e BNDESPar.
Mas foi no fim do ano passado que a empresa ganhou maior visibilidade, com sua oferta subsequente de ações. Desde que abriu seu capital, em 1966, tinha pouca liquidez na bolsa. Mas saltou de um movimento diário de cerca de R$ 200 mil antes de outubro para perto de R$ 6 milhões. Os acionistas minoritários, que antes representavam 5% do capital da empresa, passaram a 33,1%.
"A Tupy entrou no radar dos analistas e investidores", diz Rogério Araújo, analista do Brasil Plural. Mário Bernardes Junior, do Banco do Brasil, concorda. "A Tupy 'matou dois coelhos'. Levantou recursos para investir em melhoria de eficiência e ganhou liquidez".
A ação da companhia, que saiu a R$ 17,50 na oferta, foi negociada ontem a R$ 19,60, alta de 12%. Chegou a superar os R$ 20, mas já teve uma realização considerada natural pelos analistas. Sua real liquidez, porém, terá que ser observada passado um período de estabilização de um ano, afirma Carneiro.
BB, Brasil Plural e Citi, que passaram a cobrir a companhia no ano passado, recomendam compra da ação. Já o Deutsche Bank iniciou sua cobertura neste ano com sugestão de manutenção. Entre os pontos negativos da empresa, o analista do banco alemão cita seus fracos indicadores de retorno financeiro. Ao comparar a Tupy com Autometal e Mahle, por exemplo, diz que tem os piores retornos sobre capital investido e sobre patrimônio líquido.
Fonte: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo
PUBLICIDADE