Indústria, agropecuária, navegação, comércio e serviços: os setores da economia gaúcha de maior destaque são responsáveis também por definir o perfil da atividade contábil nas diferentes regiões do Estado
Indústria, agropecuária, navegação, comércio e serviços: os setores da economia gaúcha de maior destaque são responsáveis também por definir o perfil da atividade contábil nas diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Segundo o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), João Marcos Leão da Rocha, a profissão segue o movimento do mercado, com destaque para algumas áreas. “De qualquer forma, existem condições favoráveis e ainda não é possível falar em saturação em todo o Estado”, afirma Rocha. Os principais polos para a Contabilidade são hoje Serra, onde a indústria está fortemente desenvolvida, e Grande Porto Alegre, que concentra grandes empresas de auditoria e sedes do poder público.
A área de auditoria é uma das que desperta maior interesse dos jovens profissionais. O motivo, segundo o sócio do escritório de Porto Alegre da PricewaterhouseCoopers Emerson Macedo, é o forte incentivo a experiências de desenvolvimento pessoal e profissional.“Investimos fortemente em educação de nossos auditores, que ingressam na empresa por meio de nosso processo de trainee.”
A seleção desses jovens profissionais leva em conta características como dinamismo, conhecimentos de língua estrangeira, facilidade de trabalho em equipe e capacidade de entregar resultados sob pressão.“Precisamos de pessoas com esse perfil, uma vez que esta é uma área complexa, que exige muita responsabilidade em função das mudanças na Contabilidade e da expectativa dos clientes. Trabalho há 20 anos em auditoria e nunca vi essa pressão positiva diminuir”, afirma Macedo. Ele ainda cita como quesitos da área a diversidade de experiências a que são expostos os auditores, que atendem a empresas de todos os portes e segmentos, representadas por pessoas de várias regiões e com formas diversas de trabalhar.
Em uma região cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresce quase 20% ao ano - percentual quase três vezes superior ao nacional, que no ano passado foi de 7,5% - as oportunidades são boas também para os contadores. A Serra gaúcha concentra o polo metalmecânico e também indústrias de móveis, plásticos e têxteis, setores cujo bom desempenho foi acelerado com o momento favorável à economia brasileira.
Este cenário tem gerado grandes demandas para a área contábil, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas da Região Serrana do Rio Grande do Sul (Sescon Serra Gaúcha), Tiago De Boni Dal Corno. “Devido ao crescimento da nossa indústria, existe a necessidade de que os exercícios contábeis estejam muito bem organizados, inclusive para obtenção de crédito”, diz. Dal Corno, reforça que os profissionais da região precisam estar atualizados com as normas internacionais (IFRS) e devem saber comunicar da forma mais fácil possível os balanços de seus clientes, de forma que os investidores possam interpretar os bons resultados do setor claramente.
É o que faz a Assecont Gestão Empresarial, que tem como clientes indústrias metalúrgicas, moveleiras e de plásticos. Os sócios Clênio Freitas e Juarez Dutra explicam que os funcionários da empresa utilizam a Contabilidade como ferramenta da gestão, atuando diretamente no escritório do cliente. “Trabalhamos com planejamento estratégico, captação de recursos e cálculo de custo industrial, nosso diferencial é fazer isso diretamente do chão de fábrica”, afirma Freitas.
A atividade econômica da região dita o perfil de seus contadores, que precisam ser criativos na hora de oferecer serviços e conquistar mercados, apostando principalmente na inovação. “A indústria da região é muito competitiva nacional e mundialmente, precisamos oferecer a mesma qualidade em nosso trabalho”, afima Dal Corno.
Porto de Rio Grande oferece boas perspectivas
Investimentos no polo naval de Rio Grande e os novos empreendimentos decorrentes disso - prédios comerciais e residenciais, hotéis e shopping centers -, têm sido os fatores de maiores expectativas econômicas na Metade Sul do Estado. Para o professor Artur Gibbon, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), os últimos cinco anos significaram o renascimento econômico da região Sul: “Temos também um forte desenvolvimento na cidade de Pelotas, especialmente em comércio e serviços; de Santa Vitória do Palmar e São Lourenço do Sul, no setor de turismo; e ainda o fortalecimento da pequena empresa agropecuária e familiar”, explica Gibbon.
O desenvolvimento das cidades deve aumentar também a demanda de trabalho para os contadores, afirma Eduardo Nelci Pereira, proprietário do ENP Escritório Contábil. Ele trabalha com assessoria para empresas agentes de navegação e acredita que, além desta, as principais áreas que apresentarão aumento na demanda serão a de comércio, a de serviços e a trabalhista.
Para se adequar ao perfil econômico da região, é essencial conhecimento em comércio exterior, acredita o contador. “A base de tributação das diferentes atividades é praticamente a mesma, o diferencial do profissional deve estar relacionado ao potencial da região para as relações comerciais com outros países, em virtude do nosso porto”, recomenda.
O profissional contábil da região Sul do Estado precisa ainda ser adaptado e conhecedor das novas tecnologias e com um alto grau de instrução formal. De acordo com Gibbon, ele deve ser capaz de trabalhar em equipe e a distância, uma vez que algumas empresas têm a sua diretoria fixada em outros estados brasileiros ou em outro país. “Além disso, precisa se atualizar continuamente sobre legislação e técnicas da profissão contábil e ter fluência em inglês ou espanhol devido às relações exteriores”, complementa.
Agricultura e pecuária mantêm demandas na Campanha
A atividade econômica da Campanha gaúcha, baseada na agricultura e na pecuária, é responsável também pelas principais oportunidades na Contabilidade. “A maioria dos profissionais da região tem como clientes produtores rurais, engenhos de arroz ou comerciantes”, diz a contadora Rose Mary Dias, proprietária da W/Pinheiro Contabilidade, de Bagé.
Na cidade, as demandas relativas a pessoas físicas são motivadas pela presença dos quatro quartéis e das duas universidades existentes, responsáveis por atrair moradores de outros municípios da região. “Temos bastante movimentação também na área do comércio, a demanda que não existe aqui ainda é em indústria”, explica Rose Mary.
O perfil econômico da Campanha não exige um perfil diferente para os contadores em relação às outras regiões, de acordo com a contadora, sendo necessário sempre buscar conhecimento atualizado independentemente da área de atuação. “Devemos estar atualizados em relação às mudanças na legislação, modificações em alíquotas e tributação. Alguma diferença em relação à atividade agropecuária é mais fácil de entender quando se tem conhecimento de tudo.”
Vale dos Sinos exige profissionais com visão global
As cidades do Vale do Sinos são sede do polo coureiro-calçadista do Estado e de grandes indústrias químicas, com foco em exportação. Por estas razões, existem boas oportunidades na área contábil, principalmente para aqueles profissionais que buscam diferenciais como fluência em outro idioma e conhecimentos de mercado. “Muitas das empresas da região têm filiais no exterior ou fazem negócios fora do País, aqui já temos muitos contadores em cargos de gerência”, explica Marcelo Ayub, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Feevale.
Apesar do foco em calçados, as cidades maiores do Vale do Sinos estão diversificando suas atividades econômicas, com indústrias de outros setores e serviços. “Aqui em Novo Hamburgo nem temos mais tanto foco na fabricação calçadista, pois boa parte da indústria migrou para outros municípios”, diz Roberto Brandt, delegado do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC-RS) na cidade. Ele conta que, por este motivo, muitos dos profissionais passaram a atuar em outras áreas, como a consultoria. “Apesar do forte peso da indústria calçadista na região, estamos deixando de ter este foco de atividade”, afirma Brandt.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)/Luciane Costa
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