O anúncio feito ontem pela Vale de que colocou em manutenção a mina de carvão de Isaac Plains, na Austrália, segue uma tendência de mercado no atual cenário de preços em queda para a commodity. Produtores australianos de carvão têm paralisado minas de maior custo para evitar prejuízos mais altos. A Vale não é uma exceção nesse cenário. Em maio deste ano, a empresa já havia anunciado a paralisação da também australiana mina de Integra Coal. Junto com Isaac Plains, Integra Coal é um complexo de maior custo dentro da indústria do carvão. Nessas operações, a Vale tem "joint ventures" com sócios japoneses.
Isaac Plains é um dos complexos de produção de carvão térmico e metalúrgico que a Vale tem na região australiana de Queensland, onde também está Carborough Downs. No segundo trimestre do ano, esta unidade produziu 591 mil toneladas, quase 12% abaixo das 670 mil toneladas do mesmo período do ano anterior. Não há indicações de que a Vale também vá fechar Carborough Downs uma vez que esse complexo não está perdendo dinheiro, segundo especialistas.
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A conta que os produtores de carvão fazem na Austrália é se é possível ter uma economia - ou um prejuízo menor - fechando minas no atual cenário de preços do carvão. Isso porque, mesmo fechando uma operação, os produtores australianos de carvão têm de continuar a pagar contratos firmes de transporte ("take or pays") com ferrovias e portos com os quais possuem contratos de serviços logísticos. Esse é o caso de Isaac Plains e de Integra Coal, dizem analistas do setor.
No acumulado do ano, os preços do carvão metalúrgico, usado como matéria-prima pelas siderúrgicas, caiu cerca de 20% no mercado à vista da Austrália. Na sexta, o preço à vista do carvão metalúrgico no mercado australiano situava-se na faixa de US$ 112 por tonelada, US$ 21 abaixo dos preços do começo do ano, de US$ 133 por tonelada. Em 2011, os preços do carvão metalúrgico superaram os US$ 300 por tonelada. O produto "premium" australiano está estabilizado na faixa de US$ 120 a US$ 125 por tonelada há oito meses, disse um especialista do setor.
Nesse ambiente adverso, a Vale tem enfrentado dificuldades para concluir a venda de ativos de carvão em Moçambique, na África, onde a empresa desenvolve um projeto integrado por mina, ferrovia e porto. A mina de Moatize terá duplicada a capacidade de produção, para 22 milhões de toneladas por ano a partir do segundo semestre de 2015, e o Corredor Nacala, composto por ferrovia de 912 quilômetros e por um porto, deve começar a operar a curto prazo. O investimento nos dois projetos é de US$ 6,4 bilhões.
A Vale tem dito que pretende passar o primeiro trem pelo Corredor Nacala ainda este ano, mas a atual situação de mercado pode não exigir tanta pressa, dizem analistas. É possível, no entanto, que a Vale anuncie ainda em 2014 acordo de venda de uma participação societária no Corredor Nacala e nos ativos de carvão. Entre os potenciais compradores, estão investidores japoneses. A meta inicial da Vale era fechar a venda dessas participações acionárias em Moçambique em junho, o que não aconteceu. Na visão de especialistas, o projeto de carvão da Vale em Moçambique tem potencial para ser um ativo valioso a longo prazo, embora hoje opere abaixo de seu potencial uma vez que o Corredor Nacala ainda não está pronto.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e Alessandra Saraiva | Do Rio