Itabira é palavra de origem indígena que pode ser interpretada como pedra que brilha e que dá nome ao município onde a Vale começou sua história em 1942. O brilho da pedra relatado pelos tupis não vinha do ouro, mas da quantidade de ferro que se encontrava no local. Por décadas, essas jazidas foram exploradas pela Vale e a perspectiva era de declínio e de exaustão da produção. Mas com investimentos de US$ 5,5 bilhões até 2016 a empresa pretende estender por cinco décadas a vida útil de minas de minério de ferro em Itabira e em outros locais do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.
Os investimentos estão sendo feitos em projetos de construção e de adaptação de usinas de beneficiamento de seis minas nos complexos de Itabira e de Vargem Grande, pertencentes à Vale. Essas plantas vão transformar em produto comercial minérios pobres, os chamados itabiritos compactos. É um minério com até 40% de teor de ferro e alta presença de contaminantes, como a sílica (areia), que foram sendo acumulados em pilhas ou depositados em barragens. Com o passar das décadas, essas pilhas viraram morros com grandes reservas de minério. Foi a partir do desenvolvimento de novas tecnologias pela Vale que tornou-se possível projetar e construir unidades de tratamento para beneficiar os itabiritos compactos.
No Complexo Itabira, são desenvolvidos os projetos de Conceição Itabiritos I, Conceição Itabiritos II e Cauê-Itabiritos. Os três projetos somam investimentos de US$ 3,9 bilhões. Na virada do século XIX para o XX, o Pico do Cauê, em Itabira, foi mapeado como a maior jazida de ferro do mundo, segundo o livro em homenagem aos 70 anos da Vale, completados em 2012. Já no Complexo de Vargem Grande, em Nova Lima, na grande Belo Horizonte, a Vale investe US$ 1,6 bilhão para construir nova planta de beneficiamento, o projeto Vargem Grande Itabiritos. Juntos os investimentos nos dois complexos somam US$ 5,5 bilhões.
Lúcio Cavalli, diretor de ferrosos sul da Vale, disse que existe a previsão de desenvolver projetos semelhantes a esses para outras minas nos sistemas Sul e Sudeste da Vale, todas situadas em Minas Gerais. No total, a Vale tem 19 minas de minério de ferro no Estado. O sistema Sul escoa a produção via ferrovia da MRS Logística e portos do Rio (Itaguaí). Já o sistema Sudeste permite transportar o produto do Quadrilátero Ferrífero via Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) até Vitória (ES). Cavalli confirmou que existem estudos para desenvolver projetos para processamento de itabiritos compactos também no Complexo de Mariana (MG).
O executivo afirmou que a mineração se dá em safras. Primeiro se explorava os minérios mais ricos, depois os mais pobres. "Hoje, se fôssemos considerar só os conceitos do passado, Itabira estaria exaurida. Mas o desenvolvimento de tecnologia de processamento de minérios mais finos e o aumento da recuperação de massa [tecnologia aplicada ao processamento do minério] vão permitir recuperar materiais que estavam estocados e que, no passado, foram considerados estéreis", disse Cavalli. Ele acrescentou que o projeto reduz o impacto ambiental pois elimina a necessidade de novas áreas para a formação de pilhas.
O executivo disse ainda que, embora o crescimento maior de produção de minério de ferro da Vale vá se concentrar em Carajás, no Pará, os sistemas Sul e Sudeste da mineradora continuarão sendo importantes. A Vale prevê chegar a 2017 produzindo 402 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, sendo 215 milhões de toneladas em Minas Gerais e 185 milhões de toneladas no sistema Norte, informou. O volume de 400 milhões de toneladas significa aumento de 26% sobre os 320 milhões de toneladas de minério de ferro produzidos pela empresa no ano passado.
O primeiro dos projetos de processamento do itabirito compacto a entrar em operação, o Conceição Itabiritos I, em Itabira, está em fase final de obras. Deverá entrar em operação em outubro ou novembro deste ano. "Estamos concluindo a montagem [da planta] e começamos os testes para entrar em operação no segundo semestre de 2013", disse Carlos Eduardo Miana, diretor dos projetos do Complexo Itabira. Conceição Itabiritos I compreende nova unidade de beneficiamento de minério de ferro que está recebendo investimentos de US$ 1,2 bilhão. Quando atingir plena capacidade, o projeto vai produzir 12 milhões de toneladas anuais de pellets (finos de minério). A unidade é a primeira desse tipo construída pela Vale. Já os projetos de Conceição de Itabiritos II, com investimentos de outros US$ 1,2 bilhão, e Cauê Itabiritos, com desembolsos de US$ 1,5 bilhão, incluem adaptações de plantas de beneficiamento para tratar itabiritos de baixo teor de ferro.
Com o investimento, a produção nos complexos de Itabira e Vargem Grande vai aumentar em 56%, saindo dos 61 milhões de toneladas por ano atuais para 95 milhões de toneladas por ano em 2016. Hoje os dois complexos produzem juntos 61 milhões de toneladas, em grande parte dos chamados itabiritos friáveis, com teores de ferro de cerca de 50%. O minério friável é mais poroso e fácil de quebrar do que o compacto, que precisa passar por britagem e também por uma etapa de moagem.
Em Conceição Itabiritos I, depois de quatro etapas de britagem e três de peneiramento, o minério irá para a moagem, fase em que é reduzido ainda mais para chegar ao tamanho necessário da flotação, quando ocorre a separação das impurezas. Na etapa final do processo, a polpa de minério obtida é bombeada via mineroduto, filtrada e os finos de minério ficam estocados no pátio à espera do carregamento nos vagões dos trens.
Nos complexos de Itabira e Vargem Grande, a produção do minério do tipo friável está em declínio. O Complexo de Itabira produziu, em 2012, 38 milhões de toneladas, basicamente de minério friável. Esse volume deverá cair para 20 milhões de toneladas em 2016. Já no Complexo de Vargem Grande a produção de itabiritos friáveis, de 23 milhões de toneladas em 2012, deverá situar-se em 10 milhões de toneladas em 2016.
Os novos projetos em curso para processar os itabiritos compactos vão mais do que compensar essa queda. Haverá acréscimo de 65 milhões de toneladas, volume obtido a partir do processamento de minério compacto, estendendo a vida útil das minas. Serão 55 milhões de toneladas produzidas no Complexo de Itabira e mais 10 milhões de toneladas no Complexo de Vargem Grande. Esses 65 milhões de toneladas vão se somar à produção dos itabiritos friáveis, garantindo produção de 95 milhões de toneladas por ano nos dois complexos a partir de 2016.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | De Itabira (MG)
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