A Vale vai reduzir os investimentos pelo quinto ano consecutivo, em 2016, e a previsão da companhia é que esse gasto seja ainda menor até o fim da década. A mineradora anunciou ontem, em encontro com investidores em Nova York, que planeja investir US$ 6,2 bilhões em projetos e manutenção no ano que vem, número que representa uma economia de US$ 2 bilhões em relação aos US$ 8,2 bilhões que deverão ser aplicados pela empresa em 2015. A redução será de quase 25%. "Estamos entrando em uma nova era em termos de investimentos", disse o diretor-executivo de finanças da Vale, Luciano Siani Pires em apresentação aos investidores.
O argumento de Siani se apoia no fato de que os grandes empreendimentos da Vale estão entrando na etapa final de implantação. É o caso do projeto de minério de ferro S11D, em Carajás, dos projetos Itabiritos, em Minas Gerais, e do carvão de Moatize, em Moçambique. Os investimentos nos próximos anos serão sobretudo em manutenção e reposição, disse Siani. Para 2017, a Vale prevê aplicar US$ 5,3 bilhões, número que deverá permanecer um pouco acima dos US$ 4 bilhões nos três anos seguintes (US$ 4,6 bilhões em 2018, US$ 4,4 bilhões em 2019 e US$ 4,2 bilhões em 2020).
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Desse total acima dos US$ 4 bilhões por ano, a parte de manutenção será sempre superior a US$ 3 bilhões entre 2018 e 2020, enquanto a parcela do investimento referente a projetos foi estimada em US$ 1,1 bilhão por ano no período. Mesmo que a Vale anuncie novas expansões de produção, esse número não deve mudar.
Em 2015, a queda do investimento na mineradora sofreu influência da desvalorização do real frente ao dólar. Grande parte dos investimentos da companhia são feitos no Brasil e denominados em reais. No fim de 2014, a Vale projetou que investiria US$ 10,2 bilhões em 2015, mas houve revisão e agora a Vale trabalha com US$ 8,2 bilhões para o ano. Na conjuntura atual de queda nos preços do minério de ferro, reduzir o investimento dá fôlego adicional à empresa, embora as projeções do mercado indiquem que, em 2016, a Vale ainda vá trabalhar com fluxo de caixa livre negativo.
Ontem, na apresentação aos investidores, a Vale mostrou dados que indicam que a média dos analistas projeta um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de US$ 7,6 bilhões para a Vale em 2016. Se descontar os investimentos de US$ 6,2 bilhões, o pagamento de juros (US$ 1,5 bilhão), de imposto de renda (US$ 500 milhões), do Refis (US$ 300 milhões) e operações de "hedge" do combustível de navegação (US$ 600 milhões), o fluxo de caixa livre poderia ficar negativo em US$ 1,5 bilhão. Mas a mineradora afirmou que desinvestimentos vão mais do que compensar um potencial fluxo de caixa negativo no ano que vem.
Segundo Siani, desinvestimentos potenciais poderão somar entre US$ 4 bilhões e US$ 5,5 bilhões no ano que vem. Entre as iniciativas previstas, estão a joint venture com os japoneses da Mitsui no carvão, em Moçambique; a associação estratégica na área de fertilizantes; a venda de 11 navios mineraleiros e de ações preferenciais ligadas a algum projeto, como a empresa já fez com a mineradora MBR; a venda na fatia da MRN (bauxita) e a venda de ativos de energia. O ritmo dessas transações deverá depender das condições de mercado.
O que não ficou claro foi qual será a política de dividendos para 2016. O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse que a empresa deverá ser "prudente" em relação ao pagamento de dividendos em 2016 e em 2017. Ele disse haver um "alinhamento total" entre a diretoria e o conselho da Vale na questão dos dividendos. E afirmou que a política de dividendos será definida no conselho de administração com base no fluxo de caixa disponível. A Vale anuncia sua política de dividendos sempre no começo de cada ano. Também ontem a Vale confirmou uma meta de produção entre 340 milhões e 350 milhões de toneladas de minério de ferro para 2016. É um número que, se confirmado, vai ficar praticamente estável em relação a 2015, quando a previsão da empresa é produzir 340 milhões de toneladas. A estimativa anterior de produção de minério da Vale para 2016 era de 376 milhões de toneladas.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e Rafael Rosas | Do Rio