Commodities: Mineradora vai receber US$ 1,1 bi em dinheiro e ficar com 22% do capital do grupo norueguês
Apesar de deter ativos de classe mundial para produção de matérias-primas do alumínio - bauxita e alumina -, a Vale anunciou ontem que transferiu ao grupo norueguês Norsk Hydro ASA todas as suas operações do setor de alumínio no Brasil por se ver sem potencial de crescimento na cadeia de fabricação do metal devido à falta de acesso a fontes de energia de baixo custo. Em troca, a companhia brasileira vai receber US$ 1,1 bilhão em dinheiro e ações que vão lhe garantir 22% do capital da Hydro, tornando-se seu segundo maior acionista. A norueguesa assume também uma dívida US$ 700 milhões. O valor total da operação é avaliado em US$ 4,9 bilhões.
A Hydro é a terceira maior produtora de alumínio da Europa e tem 43,8% do seu capital em mãos do governo norueguês. Essa fatia cairá para 34,5% após o fechamento do negócio. Pelo acordo, a Vale não poderá aumentar sua participação na empresa além dos 22% e deverá mantê-la por pelo menos dois anos. Após esse período, comprometeu-se a não vender mais que 10% das ações.
Com a transação, a Hydro passa a controlar no Brasil, em instalações existentes no Pará, 51% da fabricante de alumínio Albrás, 91% da produtora de alumina Alunorte e 81% da CAP, refinaria de alumina ainda em desenvolvimento. No futuro, também vai absorver 60% "Bauxite JV", empresa vai gerir a Paragominas, mineradora de bauxita da Vale, que é a terceira do mundo. Tem ainda a opção de comprar o restante das suas ações, em duas parcelas de 20% cada uma, em 2013 e 2015.
Para a Hydro, o negócio é considerado excelente. "Esse acordo leva a Hydro para um novo patamar no cenário da indústria de alumínio global", celebrou o principal executivo da companhia, Svein Richard Brandtzaeg, conforme comunicado divulgado ontem. Executivos da Vale não estavam disponíveis para comentar a operação, segundo a assessoria de imprensa da empresa, que também divulgou um comunicado.
Para Brandtzaeg, "a operação vai assegurar o fornecimento de bauxita e alumina para nossas operações, melhorando significativamente nossa competitividade e tornando-nos financeiramente mais robustos e bem posicionados para crescer, tanto internacionalmente quanto na Noruega". A empresa norueguesa reforçou que o negócio, que tem previsão de ser concluído no último trimestre deste ano, assegura suprimento de bauxita para sua produção para os próximos cem anos.
Em seu comunicado, a Vale destacou que "a Hydro é uma grande produtora de alumínio primário, tendo acesso à energia com custos competitivos, expertise tecnológica e potencial de crescimento" e que a combinação dos seus ativos "criará uma das maiores e mais competitiva companhia produtora integrada de alumínio".
Sem escala na produção do metal, a Vale destacou que o grande gargalo é o custo da energia, considerado elevado no Brasil para se fazer alumínio. "É um fator fundamental para a competitividade nessa indústria", argumenta na nota. Vários grupos estão migrando para o Oriente Médio e outras regiões onde o custo do MWhora fica na faixa de US$ 20. No ano passado, por conta da queda do preço do alumínio com a crise econômica mundial e devido ao custo de energia, decidiu fechar as portas da Valesul, em Santa Cruz (RJ).
A Hydro está presente no Brasil desde 1974 e é parceira da Vale desde então, como sócias na Alunorte, na Mineração Rio do Norte (MRN) e no projeto da CAP. É dona de 5% na MRN, consórcio de vários produtores de alumínio criado para produzir bauxita e tem capacidade de 17 milhões de toneladas por ano.
No ano passado, a Hydro produziu 1,4 milhão de toneladas de metal primário de alumínio, atrás de gigantes como Rusal, Alcoa e Rio Tinto Alcan, com fundições na Noruega, Austrália, Canadá, Alemanha e Eslováquia. Em abril, inaugurou a joint venture com a Qatar Petroleum, apta a fazer 600 mil toneladas e com previsão de dobrar a capacidade. Em produtos de alumínio, fabricou 794 mil toneladas de laminados e 450 mil de extrudados (perfis).
Com receita de US$ 11,4 bilhões em 2009, a norueguesa vai herdar no Brasil um variado portfólio de ativos na cadeia de alumínio. Recebe uma fundição de metal com capacidade de 460 mil toneladas por ano (Albrás); uma refinaria de alumina (Alunorte), com porte de 6,3 milhões de toneladas; a mineradora de bauxita Paragominas, que já faz 9,9 milhões de toneladas e tem planos de chegar a 15 milhões; e o projeto da CAP. Essa nova refinaria de alumina, da qual a Hydro já tinha 20%, começará com capacidade de 1,86 milhão de toneladas, mas seu desenho prevê chegar a 7,4 milhões de toneladas em novas etapas de expansão. Esse negócio é o terceiro maior da Vale em receita.
A decisão da Vale retrata a grande apreensão no setor de alumínio no Brasil. Por conta de alto custo de energia, o país vai se transformar em grande produtor de matéria-prima (bauxita e alumina) e passar, mais cedo que se imagina, a importar o metal para suprir sua indústria de transformação.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro, de São Paulo
PUBLICIDADE