Em meio às discussões internas da Petrobras sobre o seu novo pacote de venda de ativos, os próximos meses prometem ser decisivos para a Transpetro, braço de logística da estatal. Com um plano de investimentos de R$ 4,1 bilhões para 2019-2023, a subsidiária tenta se reposicionar como prestadora de serviços para terceiros. As operações futuras - e o próprio tamanho - da companhia, no entanto, estão hoje em aberto.
Num momento em que o comando da Petrobras reavalia toda a sua carteira de ativos e defende a intensificação dos desinvestimentos, é natural que o papel da Transpetro também seja rediscutido. No ano passado, o estatuto da subsidiária foi alterado, de forma a abrir a possibilidade para venda de seu controle. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, contudo, já disse que a venda da empresa "não está nos planos".
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"Eu não tenho conhecimento, nem por parte da Petrobras, nem por outro tipo de fonte. Não há nenhum estudo no ministério em relação a isso", disse, durante audiência no Congresso, neste mês.
Empresa enxerga chances para fornecer desde cabotagem a serviços de alívio de navios para petroleiras
Uma fonte da estatal afirma que a empresa de logística ainda aguarda as definições da controladora sobre o seu futuro, mas que independentemente do cliente para quem vir a operar, a Transpetro vem se preparando para se manter competitiva no mercado.
Nesse sentido, a Transpetro toca um plano de negócios focado na melhoria de sua saúde financeira. O plano, aprovado em dezembro, prevê uma meta de desalavancagem de 2,6 vezes a relação dívida líquida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para 2019, ante o patamar atual de 2,8 vezes. A empresa também quer aumentar o retorno sobre o capital empregado, dos 6,6% de 2018 para 8,2% neste ano.
Uma outra fonte explica que a venda da Transpetro é vista com cautela dentro da holding, porque a subsidiária tem muita conexão com as operações da controladora. O futuro da Transpetro, segundo ela, passa necessariamente pela definição, prevista para o primeiro semestre, sobre o modelo de vendas das refinarias da Petrobras.
Se a petroleira resolver vender as suas refinarias, junto com os terminais e dutos associados, a expectativa é que a Transpetro encolha de tamanho e passe a operar uma quantidade cada vez menor de ativos para a Petrobras.
Por outro lado, se a opção for por vender somente as refinarias, isoladamente, ganharia força a ideia de transformar a Transpetro numa empresa de prestação de serviços que se rentabilizaria com a abertura de sua infraestrutura para terceiros - esse modelo permitiria uma eventual venda, ainda que não integral, da empresa de logística, no futuro, quando a Transpetro consolidasse sua independência da Petrobras.
"O futuro da Transpetro está muito atrelado ao futuro do modelo de venda das refinarias, que pode ser mais desverticalizado ou mais verticalizado, com a compra da infraestrutura associada. Esse modelo, com a venda dos terminais e dutos, pode gerar mais valor para a Petrobras, mas cria espécies de monopólios regionais que podem não interessar ao Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]", afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
A Petrobras é praticamente a única cliente da Transpetro, que também tem contrato para operação dos gasodutos da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), controlada pelo consórcio liderado pela Brookfield. Dentro do reposicionamento da Transpetro, a companhia enxerga oportunidades para fornecer desde serviços logísticos de cabotagem para distribuidoras de combustíveis a serviços de alívio de navios para petroleiras.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Hélder Queiroz, o aumento esperado da produção das petroleiras internacionais, nos próximos anos, abre um nicho de mercado para a Transpetro. A empresa possui frota de 57 navios.
"A Transpetro pode vir a se tornar uma empresa de serviços e ter eventualmente um percentual de seu capital vendido pela Petrobras. Com a desconcentração da produção de petróleo, as empresas vão precisar de infraestrutura logística", comenta.
Uma inspiração pode ser a Vale, que criou a VLI Multimodal, de soluções logísticas. Ao longo do tempo, a mineradora reduziu sua participação no ativo, mas ainda mantém uma fatia de 37,6% no negócio. O diretor do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), Carlos Müller, contudo, defende a necessidade de a Petrobras manter certo controle sobre a Transpetro, ainda que a subsidiária passe a prestar serviços para outros clientes.
"Manter os navios operados pela Transpetro é estratégico para a Petrobras, sob o risco de a empresa perder o controle sobre os custos de frete das operações, como aconteceu com a Vale, quando vendeu seus navios Valemax para os chineses", ressalva.
Fonte: Valor