Líder mundial em turbinas eólicas, a dinamarquesa Vestas pretende ser um player importante do mercado brasileiro de energia eólica em alto mar (offshore). Essa nova frente do segmento começou a engatar e deve ganhar uma regulamentação até fim do ano.
Em entrevista ao Valor, o CEO global da companhia, Henrik Andersen, destacou a eólica offshore e o hidrogênio verde como tecnologias fundamentais para o processo de transição energética global e que, em sua avaliação, encontrarão terreno fértil no Brasil.
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O executivo esteve há duas semanas com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, na COP26, em Glasglow, antes de desembarcar no Brasil para uma série de reuniões. Segundo Andersen, o governo brasileiro deve lançar um programa “realista” para eólica offshore, tanto em prazos quanto em capacidade instalada. Para ele, os compromissos indicados pelo ministro poderão viabilizar, daqui a alguns anos, a produção local de aerogeradores voltados a esses empreendimentos.
Atualmente, a Vestas tem uma unidade industrial em Aquiraz (CE), onde fabrica aerogeradores de até 4,2 megawatts (MW) de potência para usinas terrestres, modelo que se adaptou bem aos ventos brasileiros. Os equipamentos para offshore, porém, têm outra escala: eles podem atingir até 15 MW. E o diâmetro do rotor supera facilmente 200 metros. Por isso, para fabricá-los, seriam necessários investimentos em novas linhas produtivas.
“Se os países falam que vão construir ‘algumas’ eólicas offshore por ano, nós pensamos: ‘plano errado’. Ou se constrói gigawatts por ano, ou não conseguirá o compromisso privado e o investimento. Basicamente, precisaria instalar por volta de 74 turbinas por ano, ou 1 GW, para a produção local fazer sentido”, explica.
O mercado espera ansiosamente o lançamento de um decreto para as eólicas no mar, prometido para o fim deste ano ou início de 2022. O MME tem dado poucos detalhes sobre seus planos para a nova fonte, mas já anunciou que vai incluí-la no Plano Decenal de Energia (PDE) - 2031. Conforme o mapeamento do governo, o potencial do offshore no Brasil é de 700 GW, quatro vezes superior ao que o país já tem em capacidade instalada de todas as fontes. Mesmo sem ainda ter bases regulatórias, várias empresas já têm projetos em fase de licenciamento no Ibama, como Neoenergia e Equinor.
Enquanto os negócios na nova fonte não se concretizam, a Vestas aposta num aumento expressivo da demanda por energias renováveis no longo prazo, não só no Brasil como em toda a América Latina. A região vem ganhando mais relevância para o grupo - tanto é que, a partir de 2022, a fabricante operará com uma unidade de negócio específica para a América Latina, com reporte direto a Andersen.
“O Brasil é um dos primeiros países que estou visitando junto com o vice-presidente comercial após o ‘lockdown’. Com certeza, estará entre os cinco principais mercados para a Vestas em todo o mundo”, afirma o executivo. A fabricante está estudando o potencial de crescimento da demanda a longo prazo para decidir sobre novos investimentos em ampliação da planta cearense. “A última coisa que se quer é uma fábrica ociosa”.
Na visão de Andersen, o Brasil tem metas sensatas de expansão das energias renováveis, equilibrando-as com combustíveis de transição, como o gás. Para ele, planos “pé no chão” inspiram mais confiança no setor privado do que iniciativas radicais de aposentar rapidamente fontes como o carvão. “Hoje nós precisamos de todas as fontes, o mundo está consumindo mais energia do que as renováveis podem proporcionar. Estamos numa transição dos fósseis tradicionais para as renováveis, e não acho que vamos ter encerrado essa transição em 30 anos".
Outra aposta global da Vestas é o hidrogênio verde, tecnologia que poderá transformar o negócio de aerogeradores no futuro. A dinamarquesa estuda o hidrogênio há anos em parceria com a Mitsubishi Heavy Industries. “A tecnologia já funciona em escalas menores. Acreditamos que essa indústria vai acontecer até 2030, mas não vai ser em 2022”.
Fundada em 1945, a Vestas tem mais de 145 GW em turbinas instaladas em 85 países. Ao final do terceiro trimestre deste ano, sua carteira de pedidos totalizava 24 GW, o correspondente a € 19,3 bilhões.
Fonte: Valor