David Friedlander - O Estadao de S.Paulo
A crise econômica foi dura, mas depois de um ano e meio o Grupo Votorantim volta a exibir resultados parecidos com os que tinha antes da recessão global. No ano passado, as empresas da família Ermírio de Moraes lucraram R$ 4,7 bilhões líquidos. O desempenho é muito melhor que os R$ 14 milhões de 2008, fase em que a crise mais machucou o grupo. E está no mesmo patamar dos R$ 4,8 bilhões de 2007, último ano de bonança da economia global.
"O grupo agora está numa situação favorável", afirma Raul Calfat, diretor-geral da Votorantim Industrial e principal executivo do grupo. "Com as novas plantas (compradas ou construídas) e a recuperação dos preços das commodities, o Ebitda (geração de caixa) será melhor que o de 2009. No ano passado, o Ebitda ficou em R$ 5,5 bilhões, abaixo dos R$ 7,3 bilhões de 2008.
O faturamento do grupo no ano passado foi de R$ 28,6 bilhões, 18% menor que o de 2008. Mas a Votorantim investiu R$ 5,5 bilhões, mais do que os R$ 4,4 bilhões inicialmente previstos. Parte disso foi usada na aquisição da Aracruz e na compra da participação que a Vale vendeu na Usiminas. O grupo também investiu na conclusão de uma hidrelétrica e de quatro novas fábricas: uma de celulose, duas de cimento e uma siderúrgica. A dívida total do grupo, também inflada pela crise, foi reduzida de R$ 32,6 bilhões para R$ 22,6 bilhões, uma queda de 31%.
Um ano atrás, afetada pela queda mundial no consumo de matérias-primas e por perdas bilionárias em operações financeiras, o grupo foi alvo de toda sorte de rumores. Falou-se na venda do banco Votorantim, no fracasso da compra da Aracruz, numa mudança radical no modelo de gestão - com a troca de executivos por gente da família. Metade do banco foi vendida ao Banco do Brasil, mas a família continua no ramo financeiro. As outras previsões não se confirmaram.
"Uma lição que fica é: nada é tão bom que dure para sempre, nem tão ruim que nunca acabe", diz Carlos Ermírio de Moraes, presidente do conselho de administração da Votorantim Participações. "Foi bom para testar nossa capacidade de reação", diz José Ermírio de Moraes, vice-presidente do conselho e presidente da Votorantim Industrial. "Mantivemos projetos importantes, aumentamos nosso share (participação de mercado) em tudo, demos partida a fábricas novas."
Investimento. Para este ano, o grupo planejou um investimento de R$ 4,5 bilhões. As prioridades são celulose, cimento e aço. No setor de cimento, ramo que sempre foi destaque dentro da Votorantim, o processo de expansão já está rodando. Em menos de três meses, o grupo comprou participações em três indústrias de cimento fora do País: Avellaneda (Argentina), Artigas (Uruguai) e 21,2% da Cimentos de Portugal (Cimpor), a 11ª maior indústria de cimentos do mundo.
"O que nos atraiu foi a internacionalização e o acesso a mercados que não conhecemos. A Cimpor vai ser um veículo de crescimento no exterior", afirma Calfat.
Nessa última operação, a Votorantim entrou numa disputa ferrenha com outros dois grupos brasileiros, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Camargo Corrêa. A CSN ficou sem nada, mas a Camargo comprou uma participação ligeiramente maior que a Votorantim, e agora os dois são os maiores acionistas de uma empresa que atua em mais de dez países, com forte presença em economias emergentes, como China, Índia e Turquia. Para ficar com parte da Cimpor, a Votorantim deu em troca três fábricas de cimento no Brasil ao grupo francês Lafarge.
"No começo, nossa negociação era com a Lafarge. Ela queria vender", afirma Carlos Ermírio. "Agora vamos compartilhar o controle com a Camargo." E a ação da CSN, que procurou as autoridades de defesa da concorrência na tentativa de barrar o negócio com a Cimpor? "É o papel da CSN. Faz parte do jogo", diz José Roberto.
Energia. O grupo também está interessado no setor de energia, área em que já investe há muitos anos, mas para consumo próprio. A Votorantim está num dos consórcios que pretendem disputar o leilão de concessão da usina hidrelétrica de Belo Monte, que será a terceira maior do mundo, ao lado da Andrade Gutierrez, da Vale e da Neoenergia.
Por enquanto, a ideia é entrar no segmento como autoprodutor, garantindo fornecimento de energia para suas operações. Mas o grupo pode também passar a encarar o setor de energia como investidor. "Vai depender do edital, que está para sair", diz Carlos Ermírio. "Mas é uma área para olhar com atenção, não tem dúvida", completa José Roberto. (fonte: Estadão)
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