Há pouco mais de um mês no cargo, o novo presidente da BR Distribuidora, Wilson Ferreira Junior, começa a gestão na companhia com foco definido.
Uma das prioridades do executivo é posicionar a BR na transição para uma economia de baixa emissão de carbono. “Temos como aspiração identificar os rumos da transição energética para ver de que maneira uma companhia que detém a confiança de tanta gente pode ser ainda mais parceira ao longo desse processo. Estamos nos preparando dentro de um conjunto de diferentes cenários”, disse Ferreira ao Valor, na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, em 16 de março.
PUBLICIDADE
Ele chegou à BR depois de quase cinco na presidência da Eletrobras. No novo cargo, Ferreira terá o desafio de comandar a maior distribuidora de combustíveis do país, com uma rede de mais de 8 mil postos de combustível e um público de interesse que reúne 8 mil revendedores, 7 mil grandes clientes e um total de 30 milhões de CPFs (consumidores).
Ferreira também terá como missão consolidar o processo de privatização da companhia, que deixou de ser estatal em 2019 quando a Petrobras vendeu 30% do capital da BR. Hoje a estatal ainda detém 37,5% do capital da distribuidora, fatia que a valor de mercado equivale a cerca de R$ 10 bilhões.
Na entrevista ao Valor, Ferreira disse que vai anunciar um “pacote de medidas” em 11 de maio, quando divulgar o balanço contábil da companhia. Embora seja o maior player do negócio de distribuição de combustível, a BR quer ser também o mais eficiente, e tornar-se “referência” em termos de práticas de ESG (agenda ambiental, social e de governança corporativa) no setor.
Ele disse que a operação de venda da fatia remanescente de Petrobras na BR faz “todo sentido”, embora reconheça que a decisão dependa da estatal.
Na gestão de Roberto Castello Branco, a Petrobras esperou condições favoráveis de mercado para a venda, mas a operação não saiu porque se considerou que a ação de BR estava sub-avaliada. C
Chegou a se fixar um preço-alvo, de R$ 24 por ação, que foi, inclusive, superado quando Ferreira foi indicado para dirigir a companhia. Hoje o valor da ação de BR está em R$ 22.
Ferreira antecipou que deve se encontrar com o novo presidente da Petrobras, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, para discutir o tema da venda de ações da BR. Ambos têm bom relacionamento e se conhecem da época em que Silva e Luna presidia Itaipu Binacional e Ferreira ocupava assento no conselho da companhia como representante da Eletrobras. “Trata-se de um excelente profissional”, disse Ferreira, referindo-se ao general.
Ele também elogiou o discurso de posse de Silva e Luna, ontem, em particular o trecho em que o general disse que vai buscar reduzir a volatilidade dos preços dos combustíveis sem desrespeitar a paridade internacional. “Foi uma fala bastante consciente. Se tiver instrumentos para conter a volatilidade, isso é bom pra todo mundo”, disse Ferreira. Na visão dele, a ideia de Silva e Luna de conciliar os interesses de consumidores e acionistas não inviabiliza a importação de combustíveis de empresas como a BR.
Ele destacou que a BR e a Petrobras têm uma história de 50 anos, relação essa que é reconhecida pelos consumidores a partir do fornecimento de um combustível de qualidade. A questão, segundo ele, é como “potencializar” a relação com os clientes.
U
m dos caminhos é justamente a transição energética. Lembrou que, recentemente, a empresa anunciou a compra da comercializadora de energia elétrica Targus, o que permitirá apoiar clientes da BR na transição rumo a uma economia de baixo carbono. Há duas semanas, por exemplo, a BR reuniu revendedores em uma convenção nacional e ofereceu a eles a possibilidade de suprimento dos postos de gasolina com energia renovável mais barata, vinda da Targus.
“A gente quer ser uma marca que, para além da confiança, seja essa parceira na transição, seja você um usuário de automóvel ou um grande consumidor de energia, para que você possa ter a BR como o parceiro que te ajudou a criar mais valor no processo de transição energética”, disse Ferreira Junior.
Ele reconhece, no entanto, que a transição energética não vai acontecer “amanhã”. Vai se tornar uma realidade ao longo do tempo. Nesse cenário, o executivo vê o gás natural e o gás natural liquefeito como “energéticos” importantes nessa transição. Ferreira citou a parceria feita pela BR, recentemente, com a Golar Power (adquirida pela New Fortress), para a formação de uma sociedade na área de distribuição de gás natural liquefeito (GNL).
“Temos que pensar também lá na frente no tema do hidrogênio, que é outro energético, que ainda não é disponível comercialmente no Brasil, mas é um combustível também importante para o futuro, notadamente na mobilidade. Isso tudo nós vamos estudar”, afirmou.
Fonte: Valor