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À sombra da Petrobras, UTC cresce o triplo da média do setor

Os números do grupo UTC - citado em meio à denúncia do Ministério Público Federal (MPF) oferecida à Justiça contra Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e outras nove pessoas - mostram que o grupo aproveitou o bilionário plano de investimentos da estatal nos últimos anos e teve uma expansão acima da média do setor. Considerando um período de 12 anos após 2000, a UTC Engenharia - principal empresa do grupo e prestadora de serviços para a petroleira - cresceu o triplo de empresas da engenharia industrial.

Dados da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi, à qual a UTC é associada) mostram que as empresas de montagem (classificação da UTC na Abemi) ligadas à entidade tiveram crescimento anual médio de 22,1% de 2000 a 2012 (números mais recentes). No mesmo período, a UTC Engenharia teve 66,7% de evolução média. A companhia defende que a classificação da Abemi não considera grandes grupos que atuam também em outros setores, como a construção pesada. Mesmo assim, considerando as 20 maiores associadas da entidade, o crescimento anual médio é de 28% - enquanto a UTC cresce 37% (informações de 2005 a 2012, os mais recentes disponíveis para a comparação).

A arrancada da UTC Engenharia está concentrada nos últimos sete anos, sendo que nos dois mais recentes a empresa viveu um excelente período: cresceu 111% em faturamento em 2012 contra um ano antes (para R$ 2,8 bilhões) e mais 11% em 2013 (para R$ 3,2 bilhões). Mais da metade das receitas atuais da UTC Engenharia (entre 50% e 55%) vieram da petroleira em 2013, embora a companhia observe que existem inúmeras empresas beneficiadas pelos planos de investimentos da estatal.

Dos 16 grandes contratos de engenharia industrial em andamento pela UTC, dez (ou 62%) são firmados com a Petrobras. Dois se referem a trabalhos no multibilionário Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Um é a construção da central de utilidades (para fornecimento de energia elétrica, vapor, água e tratamento de despejos industriais) e outro é a instalação do chamado "pipe rack" (estrutura para tubulações).

O crescimento acelerado é o recorte de um passado mais recente para a UTC. Ao longo de sua história, a companhia já enfrentou dificuldades e desde sua origem passou pelas mãos de três controladores diferentes. Criada em 1974 pelo grupo Ultra (dono da distribuidora de combustíveis Ipiranga) com o nome de Ultratec, um dos primeiros projetos da empresa foi no Polo Petroquímico de Camaçari. Também participou da instalação de turbinas na hidrelétrica de Itaipu, ainda nos anos 70, e de outros empreendimentos.

A partir de meados dos anos 80, com a economia do país em crise, a Ultratec viveu um período de dificuldades, tendo que diminuir seus gastos diante dos atrasos de pagamentos de clientes. Mais tarde, o governo Collor reduziu o papel do Estado nas atividades e a situação se agravou para empresas que trabalhavam para estatais. Diante dos problemas, a companhia foi colocada à venda.

Adquirida em 1991 pela empreiteira OAS e rebatizada como UTC - para que não fosse confundida pelos clientes com o antigo controlador -, a empresa continuou procurando clientes. Mas a nova dona, a OAS, dava prioridade à construção pesada, sua atividade principal - que tinha contratos mais longos, caros e com riscos menores. Sem força, a UTC foi novamente posta em negociação.

Nesse caso, a solução surgiu dentro de casa. Quatro executivos e engenheiros de dentro da organização da OAS decidiram comprar a UTC em 1996: Ricardo Ribeiro Pessoa, João de Teive e Argollo, Francisco Assis Rocha e Luiz Alberto Torres. Ao assumir o negócio, eles renegociaram dívidas e fizeram a companhia sobreviver inclusive com projetos menores nos primeiros anos. Depois, com a melhora da economia, empreendimentos maiores começaram a aparecer, como a montagem da plataforma P-32 e a instalação da Usina Nuclear Angra 2.

No começo dos anos 2000, Torres saiu da UTC e os donos passaram a ser o trio formado por Pessoa (com 56,52%), Argollo (21,74%) e Rocha (21,74%) - atuais acionistas. Pessoa, o controlador, nasceu em Salvador (Bahia), é formado em engenharia civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e tem especialização em administração de negócios.

Apesar de já haver participado de grandes montagens industriais, inclusive para clientes privados como a Gerdau, foi no fim dos anos 2000 que começou a era dourada da UTC - graças à explosão de investimentos da Petrobras a partir de meados da década. Os contratos com a estatal nesse período chegaram a representar mais de 60% do faturamento da UTC Engenharia, diz material institucional da própria empresa.

Sob o comando dos três executivos, a UTC não só cresceu de maneira acelerada como passou por uma transformação radical: de uma companhia de engenharia industrial para um grupo com atuação em diferentes áreas.

O novo perfil ficou mais evidente em 2010, quando a UTC Participações comprou a Constran - empreiteira de obras pesadas criada pelo empresário da soja Olacyr de Moraes em 1957. Sob a UTC, a Constran passou a ser comandada por um novo presidente, o ex-ministro de infraestrutura do governo Collor João Santana, e mudou de patamar: o faturamento mais que dobrou de R$ 235 milhões em 2009 para R$ 596 milhões em 2010 (este, o primeiro ano sob a UTC).

Os desembolsos públicos do país em obras de infraestrutura foram fundamentais para o crescimento da construtora no período, de acordo com dados colhidos pelo Valor no Portal da Transparência do governo federal. Logo no primeiro ano sob a UTC, a Constran multiplicou por oito sua participação nos contratos do Planalto: o volume recebido do governo passou de R$ 52 milhões em 2009 para R$ 449,9 milhões em 2010.

Também em 2010, a Constran figurou - ainda de acordo com o Portal da Transparência - como a quinta colocada na lista de empresas que mais receberam recursos do governo (pódio encabeçado por outra construtora emergente, a Delta, e também composto por companhias como a Andrade Gutierrez e a farmacêutica ID Biomedical). Nos anos seguintes, os valores do governo recebidos pela Constran recuaram para patamares inferiores a R$ 200 milhões, fazendo com que ela deixasse a lista dos maiores fornecedores de contratos federais.

Os recursos recebidos pela Constran do governo federal desde 2010 somam quase R$ 1 bilhão e vêm basicamente de um único tipo de contrato: a construção da Ferrovia Norte-Sul, em diferentes trechos.

Em 2013, a empreiteira deu um salto no faturamento: passou de R$ 428 milhões em 2012 para R$ 1,2 bilhão em 2013 (crescimento de 183%). Impulsionam esses números as obras do aeroporto de Viracopos - cuja concessão foi arrematada em fevereiro de 2012 pelo consórcio que tem a própria UTC com 45% de participação, o grupo Triunfo com outros 45% e a francesa Egis com 10%. Juntas, as companhias têm 51% da concessão enquanto a estatal Infraero tem outros 49%. As obras já consumiram mais de R$ 1 bilhão em investimentos. Além disso, a Constran participa hoje de outros empreendimentos controlados pela iniciativa privada, como o estaleiro Enseada Indústria Naval.

Apesar de construção e engenharia industrial continuarem sendo os principais negócios, atualmente o grupo UTC - uma sociedade anônima de capital fechado - se diversificou para diferentes setores, como infraestrutura, energia, mercado imobiliário e óleo e gás. Em 2013, abriu sua unidade voltada a negócios de defesa - para o qual procura o primeiro contrato. Tem hoje mais de 20 subsidiárias, com escritórios também no Peru e nos Estados Unidos. Registrou receita líquida de R$ 4 bilhões em 2013. O resultado operacional (Ebitda) foi de R$ 303 milhões. E o lucro líquido ficou em R$ 106 milhões. Os números são auditados pela Directa Auditores.

Procurada, a UTC não colocou um porta-voz para falar com a reportagem, mas forneceu informações relativas a seus dados financeiros e outros dados. Em nota, afirmou que "não há nenhuma acusação formal contra a UTC e a Constran" e que "as empresas repudiam qualquer tentativa de relacioná-las a atos ilícitos".

Fonte:Valor Econômico\Fábio Pupo | De São Paulo






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