Impulsionada pelas exportações de gás, o aumento da renda e os gastos do governo, a economia boliviana deve bater neste ano um recorde de crescimento. Nesta semana, o presidente Evo Morales anunciou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país aumentará 6,5% em 2013, o maior nível dos últimos 28 anos.
"Graças ao esforço do povo boliviano, graças ao setor produtivo e às nacionalizações, a Bolívia alcança um crescimento de 6,5%", disse ele, em evento na cidade de Sucre.
Se confirmado o desempenho, a Bolívia só deve ser superada na América Latina nesse quesito pelo Paraguai, que vem de uma recessão e deve crescer 14% em 2013. Entre janeiro e agosto, o PIB boliviano cresceu 6,85%, em relação ao mesmo período do ano passado.
Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que a Bolívia continua nadando na bonança dos altos preços internacionais das commodities. A principal delas é o gás, estatizado durante o governo Evo Morales e responsável por metade das exportações do país. Entre janeiro e setembro, as exportações de gás totalizaram US$ 4,6 bilhões, alta de 18,5% em relação a 2012. O Brasil continua sendo o principal cliente, com cerca de 30 milhões de m3 diários. Mas o grande salto se deu nas exportações para a Argentina, que após a assinatura de um contrato de venda adicional passou a absorver 16 milhões de m3 por dia, contra uma média de 10 milhões de m3 diários em 2012.
"Claramente, o governo está com dinheiro. As reservas do Banco Central estão elevadas. O governo tem superávit fiscal e isso tem dado folga para aumentar o gasto público e o investimento público em várias áreas", diz o economista Gonzalo Chávez, diretor da Escola de Produção e Competitividade da Universidade Católica Boliviana.
As reservas internacionais do país chegam a US$ 14 bilhões, o equivalente a cerca de 19 meses de importações. O superávit fiscal do governo central é de 1,5% do PIB. Se somados Estados e prefeituras, o índice sobe a 4,5%, diz Chávez.
A receita do gás possibilitou ao governo ampliar os programas sociais, que levou à ascensão de 1 milhão de pessoas à classe média na gestão Evo Morales - cerca de 10% da população. Isso se refletiu num aumento do consumo, que vem tendo impacto na inflação.
O governo estipulou para este ano uma meta de inflação de 4,8%, que já foi superada em setembro, quando o índice acumulou alta de 5,65%. O indicador foi puxado pelos alimentos, que tiveram alta de 11% no período. O ex-presidente do Banco Central boliviano Armando Mendez acredita que o índice deve encerrar o ano acima de 7%. No ano que vem, em meio à campanha presidencial, o governo tende a acelerar os gastos, agravando ainda mais o problema.
Chávez e outros analistas, porém, advertem que o modelo de crescimento com base nas exportações do gás pode estar ameaçado. O país demora a encontrar novas jazidas e ainda não está claro se terá reservas suficientes para renovar o contrato de gás com o Brasil em 2019, quando expira o atual acordo. Especialistas afirmam que a produção nos poços que alimentam o gasoduto Brasil-Bolívia começará a declinar em 2017.
Fonte: Valor Econômico/Fabio Murakawa | De São Paulo
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