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Brasil precisa formar mão de obra especializada em petróleo e gás de forma acelerada

A formação de engenheiros, técnicos e operários para a exploração de petróleo e gás é o grande desafio brasileiro para o aproveitamento das novas reservas descobertas na camada pré-sal Entenda o assunto. Esta foi a principal conclusão dos participantes da audiência pública realizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) na noite desta segunda-feira (29).
A audiência foi o 5º painel do ciclo de debates Agenda Desafio 2009-2015 - Recursos Humanos para Inovação e Competitividade, proposta pelo presidente da Comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL). O painel teve como título "Desafios, necessidades e perspectivas na formação e capacitação de recursos humanos para exploração, refino e distribuição dos produtos existentes nas reservas petrolíferas do pré-sal".
O primeiro a se manifestar foi o presidente da BR Distribuidora, José Lima de Andrade Neto. Ele afirmou que a metodologia utilizada pelo governo brasileiro para a formação dos recursos humanos necessários à exploração do petróleo do pré-sal é diferente da usual. Segundo ele, a partir do projeto estabelecido, o país tem procurado adequar a formação da mão de obra necessária, em tempo hábil.
Lima Neto também salientou a necessidade de se reforçar a expertise de empresas de engenharia no Brasil. Ele disse que o país já teve grandes e competentes empresas de engenharia, mas a atuação e competência dessas empresas foram diminuindo ao longo dos anos.
Em seguida falou Marcelo Taulois, diretor-presidente da Aker Solutions do Brasil, uma multinacional de origem norueguesa. Ele falou da grande dificuldade da empresa em obter mão de obra qualificada. Segundo ele, um engenheiro recém-formado leva cinco anos para ser preparado para atuar neste mercado.
A empresa, que tinha 350 funcionários em 2007, hoje conta com 850 e pretende chegar a pelo menos 1,2 mil em 2012. Taulois afirmou que 4% dos custos com funcionários da empresa no Brasil é gasto em treinamento, fato sem similar em suas filiais em outros países.
- A demanda é muito maior do que qualquer pessoa aqui imagina - sentenciou, estimando que 200 mil novos profissionais terão de ser qualificados nos próximos dois anos.
Outro problema enfatizado por Taulois diz respeito aos fornecedores. Segundo ele, a Aker Solutions do Brasil tem um grupo de 16 engenheiros para ensinar aos fornecedores - são 78 no total - como elaborar os produtos necessários à empresa, que fabrica, entre outras coisas, a máquina que fica no fundo do mar abrindo e fechando válvulas dos diversos postos explorados.
Gestores
O presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando Santos Reis, salientou a necessidade de se formar gestores. Segundo ele, falta capacidade gerencial em todos os níveis.
De acordo com Santos Reis, o Brasil forma anualmente 23 mil engenheiros, contra 80 mil na Coreia do Sul e 200 mil na India. Enquanto no Brasil há seis engenheiros para cada grupo de 100 mil habitantes, a média dos países desenvolvidos se situa entre 12 e 24. Já entre os países em desenvolvimento, como o Brasil, esta média é ainda maior, situando-se entre 18 e 30 engenheiros para cada 100 mil habitantes.
O presidente do Sinicom afirmou que o Brasil irá dobrar, até 2020, o número de plataformas para exploração de petróleo, que hoje somam 171. Ele lembrou que a tecnologia da exploração do pré-sal ainda está para ser construída, lembrando que o trabalho irá se deparar com condições de temperatura e pressão ainda ignoradas.
Por fim falou o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Nelson Narciso Filho. Ele enfatizou a atuação da agência no fomento de programas de formação de mão de obra.
De acordo com Narciso Filho, os recursos estabelecidos em lei para a formação dessa mão de obra possibilitaram o lançamento de quatro editais, que totalizaram 46 programas com tal propósito. O último edital, lançado ano passado, teve 42 propostas, das quais dez se transformaram em programas.
Desde 1999, foram ofertadas 4,3 mil bolsas de estudos, a um custo de R$ 184,3 milhões. Embora não fosse o alvo inicial do projeto, afirmou que foram feitos "investimentos maciços" em infraestrutura laboratorial, uma vez que as escolas não tinham recursos para isso. Dos 515 projetos, 504 foram aplicados em investimento laboratorial, a um custo de R$ 1,36 bilhão. Outros 264 milhões foram utilizados no Programa de Mobilização da Indústria do Petróleo (Prominp).
Narciso Filho enfatizou a necessidade de se fortalecer o vínculo entre academia, governo e empresas privadas, para o desenvolvimento dos recursos humanos necessários à nova fase em que entrará o Brasil, na exploração do petróleo.
Ele também enfatizou a necessidade da formação de gestores que, a seu ver, é colocada como preocupação secundária.
A necessidade do fortalecimento desse vínculo entre governo, empresas e escolas foi também assinalada pelo presidente da comissão. Fernando Collor afirmou também que, mais uma vez, um painel realizado pela comissão conclui pela carência de mão de obra especializada, notadamente na área de engenharia. Ele lamentou que, para cada 100 alunos dos cursos de engenharia, apenas 30 chegam ao final do curso habilitados para exercerem algum trabalho. O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) disse que o painel desta segunda-feira foi "um grande alerta à sociedade brasileira".
José Paulo Tupynambá / Agência Senado






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