A Lupatech, de Caxias do Sul, deu mais uma demonstração do tamanho da crise que vive: a empresa informou ao mercado ontem, quinta-feira, que não pagou uma dívida de US$ 6,7 milhões relativa a juros devidos sobre bônus emitidos na Bolsa de Luxemburgo. A falha em saldar uma obrigação relativamente pequena é, segundo analistas, um sinal da grave situação de caixa da companhia.
Ao fim do primeiro trimestre, a companhia prestadora de serviços para a indústria de petróleo, comandada pelo empresário Nestor Perini, só contabilizava R$ 21 milhões em caixa, ainda menos do que as magras reservas do quarto trimestre de 2012, de R$ 31,8 milhões. É muito pouco diante das obrigações que a empresa tem pela frente - mais de R$ 700 milhões da dívida total de R$ 1,3 bilhão vencem no curto prazo - e da ausência de perspectiva de melhores resultados operacionais para a companhia
A situação da empresa, criada em 1980 pelo empresário gaúcho, se reflete diretamente em suas ações: os papéis, que valiam R$ 10,00 há dois anos, hoje são negociados a R$ 0,50. No auge da euforia da Lupatech, que coincidiu com o anúncio das reservas do pré-sal, em 2008, os papéis passaram da marca de R$ 40,00.
Segundo os analistas Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, da corretora Coinvalores, não há como a Lupatech seguir no mercado sem receber novos aportes de capital dos sócios. “O backlog (carteira de projetos futuros) não é suficiente para garantir uma melhoria do ponto de vista operacional”, dizem os analistas.
Neste cenário, a perspectiva é que o bloco de controle - formado por BndesPar (braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Petros (o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras) e a GP Investimentos - deverá ser acionado novamente. À medida que as dificuldades da Lupatech se amontoaram, os sócios com maior capacidade de investimento foram sendo acionados. A participação do braço de investimentos do Bndes na empresa saltou de 11,4% para 31% entre o fim de 2011 e o primeiro trimestre de 2013.
O problema, de acordo com Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), é que o cenário atual é desfavorável para novos investimentos do banco de fomento no negócio. “A situação econômica mudou, com o País vivendo dificuldades para controlar a inflação e para fechar a conta do superávit primário”, diz o especialista no setor de petróleo. “Com o atual clima político, vai ser mais difícil o Bndes explicar um aporte numa empresa que não está dando certo. É um problema semelhante ao que vive o empresário Eike Batista.”
Não faz muito tempo que o Bndes e a Petros capitanearam uma tentativa de resgate para evitar a quebra da Lupatech. Em abril do ano passado, foi feito um aumento de capital de R$ 700 milhões, no qual BndesPar e Petros tiveram preferência de compra das novas ações.
Segundo fontes, há duas razões para o drama vivido pela Lupatech. A primeira é de gestão. Com o caixa inflado pela abertura de capital, em 2006, a Lupatech foi às compras: gastou cerca de R$ 400 milhões em 17 aquisições. No entanto, quando começou a enfrentar dificuldades, ficou claro que algumas das compras não foram acertadas. A partir de 2011, a empresa se desfez de negócios como Microinox e Metalúrgica Ipê.
A outra face do problema é a lentidão da Petrobras em fazer os investimentos para tirar os projetos do pré-sal do papel. Hoje, cerca de dois terços do faturamento da Lupatech estão ligados à estatal. O problema, conforme os analistas da Coinvalores, é que a fornecedora não pode mais esperar, já que suas obrigações são de curto prazo.
Estatal muda contabilidade para reduzir impacto do câmbio
Para evitar o forte impacto do câmbio em seus balanços, a Petrobras informou que passou a adotar desde maio deste ano uma nova regra contábil, conhecida como contabilidade de hedge - instrumento usado para proteção contra variações de moedas em empresas que têm receitas ou dívidas em outras moedas que não o real. Segundo a Petrobras, essa prática é regulamentada no Brasil e “permite que empresas reduzam impactos provocados por variações cambiais em seus resultados periódicos (balanços trimestres)”.
O mecanismo só pode ser usado por companhias que “gerem fluxos de caixa futuros em moeda de outro país que se equivalham e tenham sentidos opostos”, de acordo com a estatal. Em outras palavras, a empresa terá de obter receitas em moeda estrangeira que compensem, por exemplo, o impacto negativo do câmbio em suas dívidas.
No caso da Petrobras, a nova regra contempla, inicialmente, cerca de 70% do total das dívidas expostas à variação cambial (ou seja, denominada em dólar ou outras moedas) por um período de sete anos. Desse modo, a estatal tem esse prazo para “compensar” eventuais perdas decorrentes do câmbio.
A compensação se dará por meio das exportações da estatal, protegendo cerca de 20% das vendas externas da companhia pelo mesmo período. “Com a aplicação da contabilidade de hedge, os ganhos ou perdas oriundos das dívidas em dólares norte-americanos, provocados por variações cambiais, somente afetarão o resultado da companhia na medida em que as exportações forem realizadas. Até que sejam feitas, as referidas variações serão acumuladas em conta do patrimônio líquido”, diz a estatal em comunicado.
Para o banco britânico Barclays, espera-se, com a introdução do mecanismo, “reduzir o impacto causado pela variação cambial” no balanço da estatal.
Fonte: Jornal do Commercio (POA)
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