A iniciativa privada assumiu o papel do Estado e está treinando os trabalhadores para não inviabilizar a operação dos empreendimentos
Sem tempo para esperar que o governo resolva as deficiências estruturais na educação de Pernambuco, as empresas estão fazendo o papel do Estado e capacitando sua própria mão de obra. Não existe alternativa. É isso, ou inviabilizar a operação dos empreendimentos. As 2.323 vagas que deixaram de ser preenchidas no 5º ciclo de cursos gratuitos do Prominp por falta de candidatos com escolaridade básica para ocupá-las reforça a necessidade de intervenção das empresas para evitar um apagão de mão de obra ainda maior.
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) é o exemplo mais emblemático do que acontece hoje em Pernambuco. A empresa precisou desembolsar R$ 16,5 milhões para transformar canavieiros, comerciantes, pescadores e trabalhadores informais em profissionais da indústria naval.
“Precisamos percorrer um longo caminho para que essa mão de obra chegasse ao chão de fábrica. Transformamos um matadouro de porcos em Ipojuca na Escola Nascedouro de Talentos. Ali promovemos um reforço escolar com aulas de português e matemática para que as pessoas alcançassem um nivelamento mínimo antes de participar da qualificação profissional”, conta o presidente do EAS, Angelo Bellelis. Do total investido, R$ 3,5 milhões também foram aplicados na construção de um centro de treinamento que simula o processo de produção dentro do estaleiro.
“A situação era bastante crítica quando começamos. Encontramos trabalhadores com ensino fundamental completo que sequer sabiam fazer uma conta, que não conseguiam entender o que liam. Precisamos empreender um esforço muito grande, fazer parceria com o Senai e prefeituras para tentar transformar a crítica em realidade”, diz Bellelis. Hoje, o EAS conta com 9 mil trabalhadores entre próprios e terceirizados. Na avaliação do executivo, o governo precisa continuar apostando em programas emergenciais, como o Reforço de Escolaridade, que promoveu aulas de português e matemática para 5 mil pernambucanos e tem projeto de fazer um segundo programa para nivelar outros 10 mil alunos.
Assim como fez o estaleiro, outras empresas em implantação no Estado adotam a mesma política para garantir a mão de obra. São os casos da Impsa, Sadia, Kraft, Perdigão e PetroquímicaSuape (PQS), que tem a Petrobras como principal acionista.
Na Impsa – fabricante de aerogeradores –, além de convênios com o Senai e universidades, a empresa tem levado seus profissionais para fazer treinamento na fábrica da empresa na Argentina. A PQS vai investir R$ 4 milhões na construção da primeira escola profissionalizante na área têxtil para garantir mão de obra para o complexo petroquímico de Suape.
O conselheiro do Todos pela Educação e ex-reitor da UFPE, Mozart Neves Ramos, diz que uma das alternativas para melhorar a qualidade da educação, a média prazo, é a aposta nas escolas de tempo integral articuladas com instituições de ensino profissionalizante como o Senai. ”Num prazo de cinco anos já seria possível perceber alguma mudança”, acredita.
Fonte: Jornal do Commecio (PE)/Adriana Guarda
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