A segunda mudança na diretoria da Petrobras na gestão de Graça Foster, prestes a completar 80 dias no comando da empresa, parece indicar duas coisas. A primeira é que a presidente da República, Dilma Rousseff, e Graça passam a ter total controle sobre a companhia, que passa a ter uma diretoria alinhada diretamente com as orientações do Planalto. A segunda é que a estatal estará menos acessível a ingerências políticas diversas do que na gestão de José Sergio Gabrielli durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A primeira grande intervenção de Dilma na Petrobras foi em 2007, então no cargo de ministra chefe da Casa Civil (e presidente do conselho da Petrobras desde 2003), conseguiu tirar Ildo Sauer da diretoria de Gás e Energia. Sauer se opunha a Dilma abertamente, desagradou ao próprio presidente Lula e foi substituído por Graça Foster.
As nomeações na sexta-feira de José Carlos Cosenza para a diretoria de Abastecimento, e de Richard Olm para a de Engenharia, Tecnologia e Materiais (novo nome da diretoria de Serviços), completam um ciclo. Contudo, a repercussão política ainda não é claramente identificável. As nomeações de técnicos sem vinculação desagradaram principalmente o PMDB e o PP, que apoiavam Paulo Roberto Costa no Abastecimento. Essa seria uma razão para a não substituição de Jorge Zelada, diretor da área internacional e indicado pelo PMDB de Henrique Eduardo Alves (RN) e Eduardo Cunha (RJ).
Na sexta-feira era certa a indicação para o cargo do atual gerente executivo da área internacional para a América Latina, José Carlos Vilar Amigo. Contudo, Zelada, que já tinha "limpado" sua mesa, recebeu um pedido do conselho de administração - que se reuniu em São Paulo para fazer as definições das nomeações na estatal - para aguardar um até a escolha de seu substituto.
O problema político com essa diretoria é que a vaga, que era do PMDB, agora terá que ser "dividida" com o PP do senador piauiense Ciro Nogueira e do deputado federal Eduardo da Fonte (PE), herdeiro político de Severino Cavalcanti, que pediu a Lula para indicar o diretor de exploração e produção certa vez - nas palavras de Severino para "a área que fura poço e acha petróleo". Ao que parece, os dois partidos agora terão que se entender e chegar a um consenso sobre a indicação do substituto de Zelada e isso teria "travado" a nomeação na sexta.
Sob o ponto de vista político, a diretoria internacional não é muito atraente porque já foi esvaziada e as principais decisões já estão nas mãos da presidente da Petrobras. Ninguém duvida que as mudanças que Graça Foster fez na diretoria da Petrobras tiveram o aval da presidente da República. E não à toa, elas não foram bem recebidas no Congresso. Uma liderança da casa teria dito que a atitude delas é "o não à política".
Um interlocutor do Valor no Congresso admite que a decisão de colocar uma diretoria técnica apolítica na Petrobras deve agradar a opinião pública. Mas a avaliação desse mesmo congressista é que tanto a presidente como Graça Foster deveriam ter dado uma satisfação aos partidos antes de decidirem as trocas.
"Foi uma manobra correta. Não questiono colocar profissionais de carreira sem vinculação política nas diretorias. Mas o jeito não foi correto. Elas acertaram no mérito, mas estão criando problemas no relacionamento e podem perceber isso lá na frente", afirma.
O PT está representado pelo novo diretor corporativo, José Eduardo Dutra. Na nova composição da diretoria da Petrobras, o único que permanece da gestão anterior é o diretor financeiro e de relações com investidores, Almir Barbassa, que era gerente executivo de finanças e assumiu a vaga quando Gabrielli foi nomeado presidente da estatal em 2005, no lugar do mesmo Dutra que hoje é diretor. Naquela ocasião, o nome preferido de Dilma Rousseff para presidir a Petrobras não era o de Gabrielli mas o de Rodolfo Landim, que deixou a Petrobras um ano depois e ajudou Eike Batista a criar a OGX.
Um petista explicou que Gabrielli era o nome do PT e que o partido não aceitaria uma indicação de fora do partido.
Agora, já surgem rumores sobre a saída em breve de Almir Barbassa, apesar de não existir nenhum sinal da parte de Graça Foster de que ela esteja insatisfeita com ele e pretenda substituir seu executivo financeiro.
Não é possível identificar ainda as razões para Brasília querer o cargo, a não ser uma certa identificação do executivo com planos de maior austeridade financeira da companhia. Barbassa vem executando o plano bilionário de captações e investimentos da companhia e é muito respeitado pelo mercado financeiro, que não via com bons olhos a escalada de gastos da Petrobras.
No mercado, as mudanças iniciadas por Graça em fevereiro, com a indicação de José Formigli para a diretoria de Exploração e Produção e de José Alcides Santoro Martins para a área de Gás e Energia estão sendo bem recebidas. Inclusive por setores da indústria.
"Ainda que elas [Dilma e Graça] tenham uma enorme batalha a vencer contra a corporação nesses últimos oito anos de indicações políticas, não só para a diretoria, é um bom começo", resumiu uma fonte de um grande banco. "Os dois novos diretores são técnicos bem vistos", concluiu.
Na sexta-feira foram aprovadas as trocas de gerentes gerais de nove refinarias da Petrobras. Segundo uma fonte qualificada do Valor, a troca ocorreu porque esses gerentes estavam há muito tempo nos cargos.
Na quarta-feira, quando se soube da saída simultânea de três diretores da Petrobras, os boatos começaram. Dos três, Renato Duque e Jorge Zelada já tinham pedido para sair há mais tempo. Ao contrário do que se soube na ocasião, o único chamado a Brasília na quarta-feira pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi Paulo Roberto Costa, que, após 35 anos na Petrobras, foi surpreendido com a decisão de tirá-lo do cargo.
Fonte:Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner | Do Rio
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