Na semana em que a OSX deve entrar com pedido recuperação judicial, a Lupatech, que também atua na produção de equipamentos para o setor de petróleo, anunciou um plano para equacionar sua dívida e conseguir colocar a empresa novamente em pé. E deve conseguir o que as empresas de Eike Batista não conseguiram: transferir o controle para os credores e abater a maior parte da dívida.
O caminho escolhido foi distinto daquele seguido por OGX e OSX. A Lupatech optou pela recuperação extrajudicial, que envolve um acordo formal, mas sem a mediação da Justiça ou a nomeação de um interventor. A estratégia é dar o controle acionário aos credores a partir da conversão em ações de cerca de R$ 1,1 bilhão em dívidas.
Os detentores de bônus perpétuos no valor de US$ 289 milhões (cerca de R$ 670 milhões) seriam os maiores acionistas, com 51,4% dos papéis. São eles que terão de aprovar o plano, que depende do aval de detentores de pelo menos três quintos do valor total da emissão.
Titulares de bônus ouvidos pelo Valor se mostram favoráveis ao plano e afirmam que há grande chance de sucesso, embora não haja nenhuma decisão oficial. A percepção é que a empresa tem futuro, especialmente por conta da exigência de conteúdo nacional na exploração e produção de petróleo no país. Segundo os credores, a companhia tem bons ativos e capacidade para gerar caixa e, atualmente, a maior parte desses recursos tem sido consumida com o pagamento de empréstimos.
Se o plano for aprovado, as dívidas financeiras cairiam de R$ 1,4 bilhão para apenas R$ 300 milhões e a empresa conseguiria novamente acesso à crédito - essencial no negócio, que é intensivo em capital. Desde maio, a Lupatech é classificada em nível de "default" pelas agências de risco porque está inadimplente com o pagamento de duas parcelas de juros referentes aos bônus, de US$ 6,9 milhões cada uma. Os títulos eram negociados ontem a apenas 10% de seu valor de face.
A composição acionária da empresa, de controle difuso, é um dos fatores que têm facilitado a negociação. Os credores ouvidos pela reportagem não fugiram à comparação com a OGX, empresa cujas negociações fracassaram em parte por conta da mão forte de Eike Batista na condução dos negócios.
A Lupatech também tem a seu favor o apoio do BNDES. O braço de participações do banco de fomento já socorreu a companhia com um aporte de R$ 300 milhões em conjunto com a Petros no ano passado, o que lhe alçou à posição de maior acionista, com 31% dos papéis.
O banco é detentor de mais de 90% de uma emissão de R$ 383 milhões em debêntures e, segundo pessoas próximas às negociações, já concordou em converter essa dívida em ações, nos mesmos moldes propostos aos titulares de bônus. De acordo com esses interlocutores, o BNDES acompanhou de perto o plano para reestruturação da dívida, coordenado pelo Bank of America Merrill Lynch (BofA).
Se a proposta for aprovada, apesar de deter mais ações, a BNDESPar teria sua fatia diluída para 30,1% do capital. Ainda assim, continuaria como maior acionista individual, já que os bônus estão nas mãos de diversos credores. Em nota, o BNDES negou que haja alguma decisão tomada, mas afirmou que considera o plano positivo e que, na qualidade de debenturista, "avaliará tecnicamente os detalhes da operação, de forma a permitir a deliberação final de sua diretoria, dentro do cronograma previsto na proposta da companhia".
A proposta da Lupatech prevê ainda que bancos para os quais a empresa deve cerca de R$ 180 milhões sem garantias também tenham a opção de subscrever novas ações - nesse caso, ficariam com 16% da companhia. Se não quiserem a participação acionária, há a opção de estenderem os empréstimos para oito anos, com carência de quatro anos para início dos pagamentos.
As negociações com os credores estão em fase preliminar e a conclusão deve levar pelo menos algumas semanas, dada a pulverização da dívida. Propostas para o modelo de gestão da companhia ainda não estão na mesa.
A operação nos moldes propostos pela Lupatech é singular, na medida em que causará uma diluição brutal dos atuais acionistas. Há previsão de direito de preferência para que eles acompanhem a operação, o que pode atrair interesse e trazer algum dinheiro novo para a companhia, dado que as ações em bolsa hoje estão mais de três vezes acima do valor proposto na capitalização, de R$ 0,25.
Caso não haja interesse dos minoritários, a diluição pode chegar a 96,5% - ou seja, o número de ações hoje seria apenas 3,5% dos papéis após a conclusão da operação. Nesse caso, a Petros, que tem 24% das ações, teria sua fatia diluída para apenas 0,9%. O fundo de pensão dos funcionários da Petrobras não deve acompanhar a operação. Seu representante no conselho, Wilson Santarosa, renunciou ao cargo há menos de um mês. Procurada, a Petros não quis comentar o assunto.
Fonte: Valor Econômico/Natalia Viri e Talita Moreira | De São Paulo
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