Uma visão "dissidente" do mercado mostra que a CSN pode fazer um bom negócio caso realmente consiga fechar a compra da Steel Americas, divisão da alemã ThyssenKrupp que reúne a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e uma usina de laminação de aço no Estado americano do Alabama. A brasileira teria a capacidade de investir menos do que os analistas estão imaginando para tornar a CSA competitiva e teria até a possibilidade de usar seu próprio minério de ferro para a operação, cortando custos, diz o Credit Suisse.
Os bancos em geral têm uma opinião divergente e creem que a transação seria ruim para a CSN. Ao menos desde setembro, quando o Valor revelou que a empresa estava avaliava os dois ativos, suas ações já registram queda em torno de 15%. O mercado teme que o levantamento de recursos para a aquisição eleve demais a dívida da siderúrgica, que já é alta, e colocaria em risco os tetos de alavancagem em contratos de dívida - também elevados, segundo o balanço do terceiro trimestre.
O próprio Credit Suisse admite que a relação entre endividamento líquido e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) saltaria demais, para cerca de 4,6 vezes, com a operação. Entretanto, enquanto alguns analistas, como Jonathan Brandt, do HSBC, estimam em até 15 anos o tempo necessário para tornar a CSA um bom negócio, o banco suíço acredita que no máximo em dois anos a recuperação já estaria em bom ritmo, fazendo com que a compra valesse a pena.
Em setembro, a CSN informou que sua dívida líquida era R$ 15,6 bilhões. As demonstrações financeiras do quarto trimestre ainda não foram reveladas, mas, na comparação com o último período de 2011, essa alta já seria de 24,8%. De julho a setembro, a alavancagem era de 3,3 vezes. O banco suíço alerta que os balanços trimestrais sofreriam nesse período, o que pode desvalorizar ainda mais seus papéis, mas que no longo prazo seria o melhor negócio.
Para tornar o negócio interessante, a CSN precisaria fazer uma aplicação de recursos na usina, localizada no Rio de Janeiro, para reduzir os custos de sua operação. Hoje, para se produzir uma tonelada de aço, a Thyssen - e a Vale, que tem uma participação na CSA - gastam mais do que o preço pelo qual conseguem vender os produtos, numa relação de cerca de US$ 700 para US$ 500.
Uma das medidas, aponta, seria melhorar a área de coqueria da CSA. O Credit vê chances de apenas algumas reformas já darem conta do recado. A CSN também não tem tradição de investir altos volumes para construir novos projetos do zero. Portanto, faria sentido que o dispêndio de capital fosse menor do que o mercado está calculando. Analistas falam em US$ 1 bilhão além dos supostos US$ 3,8 bilhões (dado não divulgado oficialmente) que a CSN já usaria para pagar pela aquisição, mas o analista Ivano Westin do banco suíço prevê esse montante em US$ 500 milhões.
O segundo passo seria arrumar a estrutura de outros equipamentos da usina e conseguir utilizar seu próprio minério de ferro, vindo de Casa de Pedra, para a operação. Brandt, do HSBC, lembra que a participação da Vale é um entrave para que isso ocorra. "Mesmo que eles produzam o próprio insumo que vão utilizar, ainda assim há partes que teriam de comprar da Vale, pois ela tem um contrato de longo prazo para fornecer a commodity à CSA", lembra.
É possível, entretanto, que a Vale queira rever esse acordo. Com a saída da Thyssen do negócio, ela precisa que alguma empresa próxima assuma a unidade, já que não está em um bom momento para gastar de seu próprio bolso para tocar a fábrica. Essa perspectiva de enfrentar despesas no momento em que corta projetos não rentáveis e até reduz a distribuição de dividendos para enfrentar o cenário mais adverso do setor de mineração faria com que ela estivesse mais aberta a negociações.
Há ainda - e nesse ponto há consenso no mercado - as sinergias que a CSN pode captar na operação por causa da proximidade com sua usina de Volta Redonda (RJ), que utiliza o porto de Itaguaí para escoar a produção. A CSA também tem um terminal para estocar e transportar os produtos, que poderia focar no envio de carvão produzido em Volta Redonda - o porto da usina já está preparado para essa operação - e utilizar Itaguaí para expandir o volume de minério de ferro exportado. Comprando a usina da Thyssen, também deixaria de comprar placas no mercado. No terceiro trimestre foram cerca de 200 mil toneladas.
Para Westin, do Credit, o principal motivo para compra da Steel Americas pela CSN é que, se não o fizer, algum concorrente pode levar os ativos e complicar a situação da empresa no mercado. Ele aponta perda de margens, redução na fatia de venda que controla e o risco de um grande rival entrar com força no setor no país.
O mercado, todavia, não acha que a história será diferente para a CSN do que foi para a Thyssen. "Não vejo como poderia ser melhor na gestão e, mesmo assim, demoraria muitos anos para que conseguissem", opina Brandt, do HSBC. "A CSN continuaria enviando placas para o Alabama? Isso não funcionou para a Thyssen", pondera Carsten Riek, do UBS.
A aquisição só faria sentido se fizer parte do plano da brasileira de expandir a produção de aço. Atualmente, a CSN opera perto do nível de sua capacidade (5,6 milhões de toneladas/ano, em Volta Redonda). Para isso, teria de construir uma nova usina ou adquirir ativos, como a Steel Americas. As projeções para o mercado no Brasil não são otimistas no curto prazo, mas os investidores aguardam uma recuperação neste ano ou até 2014.
Para o Credit Suisse, que se mostra propenso a aceitar a transação, o dinheiro não poderia sair totalmente do caixa da CSN. Entre as alternativas aparecem a emissão de papéis de dívida com lastro na participação que a CSN tem na concorrente Usiminas e a própria venda dessas ações no mercado para levantar recursos. Mas uma negociação com o BNDES financiando a compra faria muito mais sentido e tornaria o rombo financeiro na siderúrgica muito menor do que o previsto.
Fonte: Valor / Renato Rostás
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