Quatorze anos depois da descoberta do campo de gás de Azulão, no município de Silves (AM), a Petrobras finalmente iniciou o desenvolvimento de um projeto para o aproveitamento das reservas. O plano é construir uma usina termelétrica perto dos poços e aproveitar a linha de transmissão Tucuruí-Manaus, inaugurada este ano, para escoar a energia. Localizado a cerca de 200 quilômetros a leste da capital amazonense e distante do gasoduto Coari-Manaus, Azulão estava inoperante por falta de infraestrutura de transporte da produção para mercados consumidores.
O projeto prevê a construção de uma térmica com 100 megawatts (MW) de potência máxima e vem sendo apresentado à população local em audiências públicas para licenciamento ambiental. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) ressalta que o empreendimento só se tornou possível após o início de operações da linha de transmissão. "O campo possui reservas de gás que ainda não foram exploradas até o momento. A partir da implantação da linha de transmissão que conectará Manaus ao SIN e a subestação Silves 1, foi gerada a oportunidade de aproveitamento", diz o documento.
A ideia da Petrobras era incluir a usina no leilão de energia nova realizado pelo governo federal na última sexta-feira, mas o processo de licenciamento ambiental não foi concluído a tempo. As primeiras audiências foram realizadas em outubro e apontam como principais impactos a supressão de vegetação antes da obra e, durante a operação, emissão de efluentes, emissões atmosféricas e ruídos de máquinas. A empresa precisará ainda construir dutos ligando os poços à usina e um trecho de 13 quilômetros de linha de transmissão.
"A área da térmica é pequena e não possui vegetação primária. Os impactos são pequenos e entendemos que não há impedimentos para a licença", diz o presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Antonio Ademir Stroski. Ele diz que uma das exigências é o aproveitamento de mão de obra local, sempre que possível. Como impactos positivos, além da geração de empregos, a produção de gás garante arrecadação com royalties para o município e para o estado.
O modelo escolhido pela Petrobras para o desenvolvimento das reservas de Azulão é conhecido no mercado como gas by wire (gás por fio), com a opção pela geração de energia próxima a reservas distantes da infraestrutura de transporte de gás. Projeto semelhante tem a Eneva, antiga MPX, no Maranhão, onde a térmica Parnaíba transforma em eletricidade o gás extraído do campo de Gavião Real. É apontado por especialistas como uma alternativa para a produção de reservatórios em áreas mais remotas - a malha brasileira de gasodutos está hoje concentrada no litoral.
Segundo o plano de desenvolvimento aprovado pela ANP em 2010, Azulão deveria ter iniciado a produção em dezembro 2011. Ao lado de Azulão, a Petrobras tem outro campo de gás, chamado Japiim, descoberto em 2001. Os dois campos ficam na Bacia do Amazonas, região ainda pouco explorada. Na Amazônia, o principal foco da estatal tem sido a Bacia do Solimões, ao sul de Manaus, onde está o maior campo terrestre de gás do país, Urucu. Na mesma bacia, a HRT Petróleo, em parceria com a russo Rosneft, fez descobertas de gás, mas ainda não definiu o modelo de aproveitamento das reservas, que estão longe de gasodutos e de linhas de transmissão de energia.
Fonte: Brasil Econômico/Nicola Pamplona
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