O projeto da Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) de construir no Brasil grandes navios para transporte de derivados vem enfrentando uma série de dificuldades, o que tem atrasado o término e aumentado o custo das embarcações. Os venezuelanos decidiram mudar especificações técnicas nos dez navios contratados com o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), do Rio, uma encomenda de cerca de US$ 800 milhões. O estaleiro, que é controlado pelo grupo Synergy, de German Efromovich, incluiu na discussão a renegociação de preços.
As negociações entre PDVSA e Eisa vêm se desenvolvendo há algum tempo e estariam próximas de um desfecho. As discussões técnicas também envolvem aspectos econômicos, entre os quais está o efeito sobre os contratos da valorização do real frente ao dólar. Na visão do estaleiro, haveria um desequilíbrio econômico-financeiro do contrato. Isso ocorreu porque a maioria dos custos são em reais enquanto o contrato é denominado em dólares.
Da encomenda total de dez navios, dois tiveram as obras iniciadas e serão usados para o transporte de derivados claros de petróleo. São embarcações de 47 mil toneladas de porte bruto e preço de US$ 70 milhões cada um. O primeiro navio está com cerca de 70% dos serviços de montagem concluídos, enquanto a segunda unidade avançou só 30%. Os outros oito navios, do tipo Panamax, não saíram das pranchetas de projeto. Cada Panamax, com capacidade de 70 mil toneladas, custaria cerca de US$ 80 milhões.
Fontes que acompanham as discussões disseram que os contratos entre PDVSA e Eisa não foram cancelados, mas postergados. Individualmente, é a maior encomenda que o Eisa tem carteira. Um executivo disse que a demora nos entendimentos com os venezuelanos teria levado o Eisa a executar primeiro outros projetos em carteira. Um executivo disse que os contratos com a PDVSA são "complicados" em função dos valores envolvidos e pelo fato de o mercado de petróleo ter mudado desde a contratação dos navios, há cinco anos.
Na época, em 2005, a indústria do petróleo não estava aquecida, mas nos anos seguintes a situação mudou e os preços dos equipamentos dispararam. Nesse contexto, a PDVSA teria mudado os projetos dos navios para atender necessidades logísticas da empresa, disse uma fonte. Os oito Panamax foram pensados para derivados claros, mas agora a PDVSA estaria interessada em dividir esses navios separando-os para transportar diferentes produtos.
O Valor enviou correios eletrônicos à PDVSA solicitando informações sobre as discussões com o Eisa, mas não obteve retorno.
Jorge Roberto Gonçalves, diretor do Eisa, não quis entrar em detalhes uma vez que as negociações estão em andamento. Disse, porém, que os motores para os dez navios foram comprados, sendo que dois já estão no Brasil. Gonçalves afirmou que o estaleiro e a PDVSA compraram juntos 20% do aço necessário às dez embarcações. A PDVSA criou uma conta vinculada para fazer os pagamentos relativos à obra e o dinheiro só é debitado com autorização dos venezuelanos.
Para gerenciar a encomenda, a empresa criou a PDVSA Naval, que administra os contratos para a PDV Marina, braço naval da empresa de petróleo. Os contratos com o EISA fazem parte de um pacote maior de encomendas de navios da PDVSA. Gonçalves negou que as duas primeiras embarcações, parcialmente construídas, estejam paradas. "Só não estão em ritmo acelerado de construção", diz. E afirmou que os venezuelanos sinalizaram ao estaleiro que vão manter a encomenda: "O navio do Eisa será o primeiro do programa da PDVSA." Mas a situação da Venezuela, cuja economia passa por problemas, pode impor dificuldades adicionais ao negócio, disseram fontes do setor.
Fonte: Valor Econômico/ Francisco Góes, do Rio
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