O novo plano de negócios da Petrobras indica que a companhia pretende manter em baixa os investimentos em exploração e que a recuperação do setor, nos próximos anos, dependerá essencialmente das demais petroleiras. Principal responsável pelas atividades exploratórias no país, a estatal prevê investir, em média, US$ 1,3 bilhão ao ano no segmento até 2021- corte de US$ 1 bilhão em relação ao investido pela empresa no já minguado 2015.
O número dá a dimensão do quanto a estatal pretende apertar os cintos e sinaliza que a retomada dos investimentos em exploração pode demorar mais do que o esperado. No primeiro semestre, as perfurações de poços exploratórios no Brasil caíram para os patamares mais baixos dos últimos 60 anos, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
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Na quarta-feira, ao apresentar o novo plano de negócios da Petrobras a empresários, no Rio, a diretora de Exploração e Produção da estatal, Solange Guedes, disse que a empresa possui um portfólio de ativos "invejável", mas que espera que ao final do horizonte do plano, a carteira de projetos da petroleira na área de exploração e produção seja mais enxuta.
"Ao final desse processo [de recuperação financeira da empresa], nossa carteira será mais enxuta, sim, mas de mais valor e de menor risco", disse a executiva.
Solange destacou, ainda, que a empresa não descarta entrar em novos leilões de blocos exploratórios e que a recomposição do portfólio dos ativos de exploração está no alvo da empresa.
"A Petrobras vai avaliar com muita atenção todas as oportunidades dos leilões que estão por vir, no pré-sal ou no pós-sal, no Brasil ou no exterior. Vamos olhar para a recomposição da certeira exploratória com muita atenção", afirmou, no lançamento do novo plano de negócios, na terça-feira.
Como parte da revisão de seu portfólio de projetos, a Petrobras já devolveu à União, desde a queda dos preços do barril do petróleo, no fim de 2014, 16 áreas de concessão exploratória. Ainda assim, a companhia detém outros 140 blocos em sua carteira.
Apesar do portfólio variado, a Petrobras vem se dedicando praticamente de forma exclusiva ao projeto de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos. Neste momento, apenas dois poços estão sendo perfurados pela companhia no país inteiro: um justamente em Libra e um no campo terrestre de Sanhaçu, na Bacia Potiguar.
Impactado pelos cortes de investimentos da estatal e das demais petroleiras que operam no país, em meio ao cenário de intensificação da queda do barril, o setor de exploração praticamente parou este ano. Enquanto a produção brasileira de óleo e gás cresce, sustentada pela entrada em operação de novas plataformas no pré-sal, dados da ANP mostram que o número de poços exploratórios perfurados no país, na primeira metade do ano (16 no total), foi o mais baixo para um primeiro semestre desde 1957.
O corte das atividades exploratórias tem um efeito imediato sobre a cadeia fornecedora, que inclui desde empresas de sísmica às prestadoras de serviços e fabricantes de equipamentos de perfuração. Para o consultor Nelson Narciso Filho, ex-diretor da ANP e ex-presidente da HRT África, o processo de recuperação financeira da Petrobras não será executado "sem dor" para a indústria. Por isso mesmo, segundo ele, a redução dos investimentos da principal agente do setor reforça a "necessidade premente" de se estimular investimentos pelas demais petroleiras.
"É bom que se reequilibre a Petrobras, mas que fique claro também que o Brasil tem um potencial enorme e que precisamos criar condições de investimentos para novos agentes", comentou.
Na semana passada, o Programa de Parceria de Investimentos, anunciado pelo governo Michel Temer, confirmou para 2017 as expectativas do mercado em torno da 14ª Rodada de blocos exploratórios e do leilão de áreas unitizáveis da União no pré-sal.
Fonte: Valor