Apesar de ter tradição na indústria e condições geográficas que favorecem a atividade na região, o setor de polo naval do Amazonas ainda sofre com a falta de investimentos para se desenvolver plenamente. Nos últimos anos, empresas estrangeiras deixaram de investir no setor por falta de estrutura, de áreas propícias ao desenvolvimento das atividades produtivas na capital.
Dados do Sindicato da Indústria Naval, Náutica, Offshore e Reparos do Amazonas (Sindnaval) indicam que há 48 estaleiros em funcionamento no Estado, com 4,8 mil postos de trabalho e um faturamento anual de R$2,6 bilhões. Esses números já foram mais expressivos: em 2013, eram 12 mil empregos diretos e mais de 60 empresas atuantes no ramo. A estimativa é que tenha ocorrido uma queda de 40% na receita da indústria de lá para cá.
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Uma das principais apostas do setor, o projeto de construção do polo naval do Amazonas luta para ser concretizado desde 2012. Inicialmente, o complexo seria implantado no Lago do Jacinto no Puraquequara, na Zona Leste de Manaus, mas foi suspenso pela Justiça Federal do Estado por não atender exigência de realização de consulta pública com os moradores do local.
Cenário
A situação do setor naval do Amazonas não é diferente de outros estados brasileiros. O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval Offshore (Sinaval) calcula que, de 2014 até o final de 2020, mais de 80 mil empregos sejam perdidos, ainda na onda de consequências da crise econômica da qual o país se recupera.
Para o presidente do Sindnaval no Amazonas, Irani Bertolini, o foco deve ser na busca de alternativas para o setor de construção naval. “A Amazônia depende muito da navegação, já que praticamente não temos rodovias. Nosso transporte é por rio ou mar. Ainda tem muita coisa para ser construída. Vamos trabalhar para que armadores e estaleiros tenham mais acessos aos recursos, melhorar essas operações, porque não adianta ter financiamento, mas ser muito burocrático para conseguir”, disse.
Bertolini é fundador da Transportes Bertolini Ltda, que também possui um estaleiro em Manaus, a Bertolini Construção Naval da Amazônia, com capacidade de processamento de aço de 1200 toneladas por mês. “São 250 balsas navegando que foram construídas pelo nosso estaleiro”, calcula Irani. Atualmente, o estaleiro emprega cerca de 600 pessoas.
Além do entrave jurídico, o custo do projeto também é outra barreira. Ainda no começo de 2019, o titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Jório Veiga, informou que o Estado não possui os R$ 800 milhões necessários para a construção do complexo. As alternativas seriam parcerias com o setor privado, concessão ou licitação internacional, mas não houve interessados.
Planos do governo
“Consideramos o polo naval importante para a economia do Estado. Entretanto, existem outras prioridades que requerem nossa atenção a curto prazo de forma mais assertiva. As tratativas para o polo naval são a médio e longo prazo”, declarou o secretário executivo de desenvolvimento da Sedecti, Renato Freitas, sobre os planos do governo para o setor.
No Plano Plurianual (PPA) de 2020-2023, há uma ação orçamentária destinada aos estudos e estruturação do complexo naval do Estado, focada na Região Metropolitana de Manaus. A ação prevê um investimento de R$ 60 mil para o tema em 2020, e de R$ 253,840 mil até 2023.
“Dependemos de recursos, que são escassos, então pretendemos trabalhar com parcerias com o setor privado. O que temos de concreto é o planejamento. O Estado quer reorganizar o segmento”, afirmou Freitas.
Outros desafios
Para o empresário naval e ex-presidente do Sindnaval, Mateus Araújo, a falta de interesse do governo estadual no segmento é uma das razões do declínio de faturamento e postos de trabalho observados nos últimos anos. “O polo naval sempre foi um patinho feio na política industrial do governo. Não é diferente de outros estados, por isso vemos a derrocada dessa indústria no país inteiro”, critica.
“A maior demanda hoje da indústria naval do Estado é de rebocadores e estruturas navais flutuantes não tripuladas e nem motorizados, que são os portos e balsas. O Governo reduziu a isenção dos impostos para esse fim de 100 para 60% em 2015, ou seja, tirou 40% da competitividade da fabricação dessas embarcações e portos", informa.
Por outro lado, a falta de empreendedorismo e capacitação do próprio empresariado também dificulta o avanço do polo no Amazonas, segundo Araújo. “Nossos empresários em sua maioria são amadores e não têm o conhecimento de empreendedor, ou seja, para eles investir em segurança e treinamentos é visto como custo e não aderem a esta demanda, não participam de feiras, congressos e treinamentos oferecidos gratuitamente pelos órgãos de capacitação, não investem em profissionalização e tecnologia”, lamenta.
Para reverter esse cenário, o empresário defende que o governo crie uma agência reguladora da indústria naval da região, aos moldes do distrito industrial. " A nossa indústria naval agora que está se modernizando, mas para isso precisamos de expansão e incentivos fiscais", afirma.
Fonte: Em Tempo