A compra dos ativos de gás natural e campos de petróleo em águas profundas da BG Group PLC pela Royal Dutch Shell PLC por quase US$ 70 bilhões agora deve enfrentar desafios regulatórios na China, Brasil e em outros países, além de um exame detalhado dos investidores.
A megafusão transformaria a Shell na maior participante do crescente mercado mundial de gás natural liquefeito e ela passaria a ser a principal petrolífera internacional a explorar as ricas reservas brasileiras de petróleo em águas profundas. Essas posições também podem transformar a Shell num alvo dos reguladores, dizem analistas do setor.
As empresas se recusaram a comentar ontem, mas o diretor-presidente da Shell, Ben van Beurden, e o da BG, Andrew Gould, disseram na última quarta-feira que questões regulatórias em vários países empurrariam a conclusão do acordo para o início de 2016. Eles disseram, porém, que não esperam grandes problemas.
Os obstáculos regulatórios são apenas parte da razão pela qual os acionistas da Shell parecem descontentes. As ações da companhia perderam 8% desde que o The Wall Street Journal divulgou em primeira mão artigo sobre a fusão na noite de terça-feira. Alguns investidores dizem que também estão preocupados com o prêmio de 50% que a Shell está pagando pela BG e como isso afetará os dividendos futuros da petrolífera. A aquisição será um desafio para a Shell, que havia prometido se tornar mais enxuta e se concentrar mais nos lucros.
"Há sempre riscos nessas megaoperações", diz Dougie Youngson, diretor de pesquisa de petróleo e gás da corretora finnCap.
Entre os fatores imprevisíveis está como a China vai reagir ao negócio. O país é um comprador cada vez mais importante de GNL e sua principal agência antitruste, o Ministério do Comércio, tem se tornado cada vez mais exigente. Nos últimos anos, a China bloqueou pelo menos dois acordos envolvendo empresas não chinesas. No ano passado, os reguladores chineses rejeitaram planos para uma aliança entre as três maiores empresas de transporte marítimo de carga do mundo, mesmo depois do plano ter sido aprovado pelos Estados Unidos e a Europa. Quando a gigante da mineração Glencore PLC comprou a Xstrata, em 2011, uma mina de cobre teve de ser vendida a uma estatal chinesa como parte do processo de aprovação.
As autoridades chinesas não responderam a pedidos de comentário.
"Não vejo como a China, como compradora, vá se entusiasmar com a consolidação da indústria em termos de seu poder de barganha", diz Bill Fries, gerente de portfólio da Thornburg Value Fund International, que detém posições na Shell e BG.
No Brasil, cujos campos de petróleo altamente valorizados da BG foram um dos principais motores para a fusão, os riscos vão além do demorado processo de aprovação antitruste. Os escândalos de corrupção na Petrobras S.A., que tem parceria com a BG em campos da Bacia de Santos, também são um complicador. Além disso, o Brasil sofre com uma cadeia de suprimentos subdesenvolvida, inflação de custos endêmica e diversos atrasos.
"O Brasil tem uma capacidade infinita de decepcionar. Não é fácil de operar lá, embora as reservas sejam enormes", diz Andy Brogan, especialista do setor de petróleo da Ernst & Young.
Na Austrália, a revisão regulatória provavelmente será "um processo rigoroso", prevê Youngson, da finnCap, já que a fusão dará à empresa combinada uma posição substancial em ativos de gás no país, algo que historicamente preocupa o governo.
Além dos desafios regulatórios, alguns investidores estão céticos de que a Shell possa cumprir a promessa de que a fusão vai reforçar significativamente seu lucro por ação a partir de 2018. Para isso, os preços do petróleo teriam de voltar a US$ 90 o barril, quase o dobro do seu nível atual.
(Fonte: Valor Econômico/Selina Williams e Sarah Kent | The Wall Street Journal/Colaborou Brian Spegele.)
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