Gabrielli, presidente da Petrobras, e Rossetto, que comanda a PBio, subsidiária de biocombustíveis
Entrada de petroleiras estrangeiras na produção de álcool faz estatal preferir aquisição de usinas para crescer mais rápido.
Diante da ofensiva de empresas estrangeiras como a anglo-holandesa Shell no mercado brasileiro de etanol, a Petrobras Biocombustível (PBio) vai dar uma guinada na estratégia de negócios a partir deste ano, com maior agressividade na política de aquisições.
Uma fonte da companhia, subsidiária da Petrobras para etanol e biodiesel, afirma que a estratégia de crescer por meio da construção de novas usinas foi deixada em segundo plano.
"A chegada de uma grande concorrente, e já na liderança, está nos levando a focar as aquisições", diz a fonte, um alto executivo da PBio que prefere não se identificar.
A Shell e a Cosan fecharam em janeiro parceria por meio da qual vão transferir para uma nova companhia seus ativos de produção de etanol e açúcar e de distribuição de combustíveis no país.
O negócio incomodou a Petrobras. Na semana passada em São Paulo, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli deixou claro que vai disputar espaço no setor com a construção e a aquisição de empresas.
Guinada
O anúncio fez a PBio mudar de estratégia por vários motivos. Basicamente, a empresa entende que precisa crescer rápido e tomando oportunidades de grandes concorrentes do setor de petróleo, que começam a entrar no etanol.
Além da Shell e da Petrobras, a British Petroleum (BP) também está presente na produção de álcool no Brasil, com 50% da Tropical Bioenergia.
Era das petroleiras
No mercado de açúcar e álcool, fala-se na "era das petroleiras", com a expectativa de que novos investimentos cheguem ao setor. "Os biocombustíveis estão para as petroleiras como a ala das baianas está para as escolas de samba: não tem nada a ver com o enredo, mas quem não investir perde pontos", compara o diretor do Itaú BBA, Alexandre Figliolino. O executivo trabalha com fusões e aquisições de usinas.
Diante dessas perspectivas, as aquisições permitirão à PBio um crescimento mais rápido do que a construção de novas usinas, que leva no mínimo dois anos. É muito tempo, considerando a diferença entre as participações que Petrobras e Shell detêm no setor.
O único ativo da Petrobras em etanol é 40% na usina Total, de Bambuí (MG), pelo qual a estatal pagou R$ 150 milhões em dezembro de 2009. A Total tem capacidade de produzir 100 milhões de litros de álcool por ano, e crescerá para 200 milhões com os recursos da PBio.
Já a Shell ficará com uma participação de 50% das usinas da Cosan, que produzem 2 bilhões de litros de etanol por ano.
Mercado externo
Além disso, a fusão Cosan-Shell também afeta diretamente a estratégia de crescimento orgânico da Petrobras Biocombustível. Isso porque o plano de negócios prevê que o foco da estatal nas aquisições de usinas é o mercado interno.
Já a construção de novos projetos estaria voltada ao mercado externo, em sociedade com tradings e compradores internacionais.
Mas a força da rede de distribuição de combustíveis da Shell no mundo dá à joint venture com a Cosan uma capacidade imbatível de desenvolver mercados mundiais de etanol. Ficar esperando por parceiros para construir usinas perdeu o sentido, segundo a fonte da PBio.
Fonte: Brasil Econômico/Luiz Silveira e Ricardo Rêgo Monteiro
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