A estreia de Pernambuco no cobiçado setor da construção naval provocou uma corrida não só para formar mão de obra na área industrial (como soldadores e caldeireiros), mas também está demandando projetistas, desenhistas e auxiliares de desenhistas de embarcação. O enfraquecimento da atividade nos anos 80 e 90 no Brasil fez minguar os cursos na área e afastou os profissionais das salas de aula. Sem tradição no segmento, o Estado terá que começar do zero para formar pessoal. A demanda abre oportunidade para quem tem aptidão para a área de desenho ou mesmo para leigos dispostos a aprender uma nova profissão.
O chefe de projeto dos dez navios petroleiros (Suezmax) em construção no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), Alex Luz, de 39 anos, conta que para montar a equipe de desenho do empreendimento foi necessário importar metade da mão de obra. Da equipe de 53 pessoas, 50% são de Estados como Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Ele próprio é uma das aquisições do EAS fora de Pernambuco. Depois de prestar serviços a estaleiros no Rio e de trabalhar como projetista no Estaleiro Itajaí (SC), trouxe a sua experiência para Pernambuco.
“Como não encontramos pessoas com formação específica na área naval, em função da escassez de profissionais após a fase de decadência do setor, fomos obrigados a fazer adaptações, aproveitando pessoas da área de arquitetura, por exemplo”, conta Luz. Ele explica que para trabalhar na área, os requisitos mínimos são possuir ensino médio completo, ter noção de desenho técnico e saber operar o software Autocad – muito usado em arquitetura (veja arte ao lado). Boa parte dos cursos técnicos oferecem essas noções. No câmpus de Ipojuca do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), os alunos dos cursos de automação industrial e segurança do trabalho usam o Autocad como ferramenta e aprendem desenho.
“Nos anos 70, os navios eram desenhados na fábrica, com as peças sendo riscadas no chão. Agora existem vários softwares e recursos tecnológicos que mudaram esse patamar. Para se ter uma ideia, trabalhamos com uma precisão de milímetros. Os desenhos apresentam todo o delineamento da embarcação, desde o volume de tubulações, até a espessura das chapas de aço e as localizações por onde vão passar as soldas”, detalha Alex Luz. Ele explica que o desenho simula tudo o que será executado na área industrial.
O Atlântico Sul não faz o desenho dos navios porque os modelos já são padrão. O projeto básico dos petroleiros, numa versão em duas dimensões (2D), é feito pelo estaleiro sul-coreano Samsung, parceiro tecnológico do EAS. “Eles oferecem uma média de cinco modelos de petroleiros Suezmax, por exemplo. Nós escolhemos o que se adequa melhor à necessidade do nosso cliente (no caso a Transpetro) e delineamos o projeto em 3D aqui no estaleiro”, observa Luz.
O mercado local paga um salário médio de R$ 4 mil para um projetista, de R$ 2 mil para um desenhista e R$ 1 mil para um auxiliar de desenhista. “Esses são valores iniciais para o mercado interno. No EAS, o patamar salarial é maior porque tivemos que trazer mão de obra de fora, que tem um custo maior”, afirma. Na avaliação do projetista, a previsão é que a remuneração para a área de desenho se valorize ainda mais com a chegada de novos estaleiros, em função de uma equação básica: aumento da demanda e escassez de oferta.
Para contribuir com a formação da mão de obra, o EAS repassou a doação de 300 licenças de softwares que recebeu das empresas Autodesk do Brasil e Shipconstructor Software Inc. para a Universidade Federal de Pernambuco, Universidade de Pernambuco e IFPE. Os dois softwares são as principais ferramentas de desenho dos navios.
Além de importar profissionais, o Atlântico Sul também transformou operários em desenhistas. São os casos de Bartolomeu Francisco da Silva e Joselma Ferreira Leite, que atuavam como soldadores e hoje são auxiliares de desenhistas. “Fiz um curso de Autocad e mostrei interesse em me transferir. Nunca imaginei trabalhar com desenho, mas me encontrei nessa área. Isso sem falar no meu ganho salarial, com minha renda saltando de R$ 469 para R$ 1 mil”, compara Bartolomeu. “No meu caso, nem cheguei a fazer curso de desenho, aprendi na prática aqui no estaleiro”, conta Joselma.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)/Adriana Guarda
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