A Marinha do Brasil divulgará em março o resultado da licitação para escolha do consórcio que será responsável pela construção de quatro novas corvetas do Projeto Tamandaré. Passada a fase de refinamento das propostas, foram iniciadas neste mês as negociações finais que culminarão com a escolha da melhor oferta. Segundo as autoridades militares, as novas embarcações de escolta, de alta complexidade tecnológica, devem ser versáteis e de elevado poder de combate.
Algumas de suas missões serão: contrapor às múltiplas ameaças ao território nacional, garantir a proteção do tráfego marítimo, bem como controlar as áreas sob jurisdição brasileira. Também poderão realizar missões de defesa aproximada ou afastada, no projeto Amazônia Azul, que atua na proteção das águas da Amazônia e das fronteiras, além de combater a pesca ilegal, o tráfico de drogas e o desmatamento, entre outros fins.
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À medida que se aproxima a conclusão do processo licitatório, empresas em todo o mundo se mobilizam para fornecer os equipamentos para as embarcações de patrulha. A Thales, que tem unidades em países como França, Holanda e Brasil e já é parceira de longa data do governo brasileiro — é de sua fabricação o sistema de sonares do submarino Riachuelo, lançado ao mar em dezembro — aposta num sistema de inteligência baseado em radares e sonares de última geração, além da transferência de tecnologia para o país. Os dois quesitos são considerados fundamentais pela Marinha.
Seus principais trunfos são o radar de busca combinada 3D, da família NS 100 e o sonar Kingklip. O primeiro é um radar multisensor, de alta performance e com capacidade para detectar uma ampla variedade de alvos em um único modo, já utilizado pelas marinhas da Holanda e Cingapura. O segundo é um sonar de alto desempenho e capaz de detecção de longo alcance, mesmo em condições ambientais adversas, com alerta de torpedo permanente e capacidade de evitar obstáculos subaquáticos, além de possuir certificação como Produto Estratégico de Defesa.
A Thales não participa de nenhum dos consórcios que estão na disputa pelo programa de construção das corvetas da classe Tamandaré. A empresa adotou a estratégia de se posicionar como fornecedora para todos os estaleiros que se interessarem pelo seu sistema de combate, sensores, sistemas integrados de comunicação e guerra eletrônica. Parceira dos quatro finalistas, tem chances de se associar a quaisquer dos grupos que sair vencedor, entre os que seguem na disputa, numa decisão que caberá à Marinha brasileira.
Uma das exigências do governo brasileiro é de que o projeto tenha 40% de conteúdo nacional, o que não é um problema para a empresa que fabrica parte de seus componentes no país. A empresa possui um centro de excelência de radares nas instalações da Omnisys, a subsidiária da Thales, sediada em São Bernardo do Campo, São Paulo. Lá são produzidos os equipamentos dos quatro novos submarinos brasileiros, como sonares, antenas e consoles da cabine de tripulação (onde ficam os controles da embarcação), além de sistemas de comunicação.
— A gente não é o tipo de empresa que vende o produto numa caixa preta e vai embora. Pelo contrário. Vendemos o produto, instalamos, fazemos a transferência de tecnologia e ficamos um tempo — defende Ruben Lazo, vice-presidente da Thales América Latina, acrescentando, que a empresa também oferece a manutenção dos equipamentos instalados, teste de aceitação e apoio logístico integrado durante o ciclo de vida dos sistemas, além da transferência de tecnologia, que gera divisas, conhecimento e empregos no país.
Para Ruben Lazo, a transferência de tecnologia na parte de defesa é fundamental para a soberania do país, que poderá contar com a capacitação de mão de obra local, além de assegurar o domínio da tecnologia adquirida. Na sua opinião esse é o grande diferencial da Thales em relação à concorrência. Lazo e o diretor executivo da Thales, Luciano Macaferri Rodrigues destacaram ainda que empresa costuma direcionar 20% de seu faturamento para inovação, garantindo assim o avanço tecnológico dos seus produtos.
Nos últimos anos a Thales e a Omnisys investiram mais de R$ 20 milhões na produção dos transdutores (peças dos sonares que permitem emitir e ouvir sons) na unidade de São Bernardo do Campo. Isso faz da Omnisys a primeira empresa a ter infraestrutura industrial capaz de fabricar equipamentos de sonares de defesa no Brasil.
Na estrutura do Tamandaré, a empresa será responsável pela fabricação destes transdutores, testes de aceitação e suporte logístico, caso seja a escolhida. A Thales possui mais de 150 sonares de cascos HMS (sigla em inglês para Hull Mounted Sonar), operando em mais de 20 marinhas do mundo, desde 1975. O Kingklip, o mesmo que está sendo oferecido para a Marinha brasileira foi selecionado no ano passado pela França para equipar suas fragatas de classe La Fayette e a próxima geração das fragatas FTI (fragatas de tamanho médio).
Estão na disputa pela licitação para construção das corvetas brasileiras os seguintes consórcios: Águas Azuis, Damen Saab Tamandaré, FLV e Villegaignon. A Marinha espera investir no projeto até US$ 1,6 bilhão (cerca de R$ 6,2 bilhões). As entregas estão para ocorrer no período de 2022 a 2025. Os navios escolta, que é o caso dessas corvetas, se distinguem dia demais pela versatilidade, capacidade de detecção, mobilidade e autonomia para a patrulha de extensas áreas marítimas na defesa dos interesses econômicos nacionais.
O objetivo da Marinha com o programa das corvetas é expandir e modernizar sua força naval, que hoje conta com duas corvetas da Classe Inhaúma e uma da Classe Barroso, que se encontram em plena operação. As corvetas existentes foram construídas no Brasil, bem como os futuros navios, "visando cooperar com o desenvolvimento da BID (Base Industrial de Defesa) e estaleiros nacionais, gerando renda, empregos e transferência de tecnologia", segundo a Marinha, que aponta a importância de radares e sonares de última geração nas embarcações como forma de "ampliar a capacidade de detecção e identificação de ameaças de superfície, aéreas e submarinas".
Para o vice presidente regional da Thales as soluções tecnológicas oferecidas pela empresa são fundamentais num momento em que se discute soberania e defesa das fronteiras, por meio do projeto Amazônia Azul. Elas serão fundamentais no combate à entrada de drogas e ao contrabando no Brasil, exemplifica:
— Não temos a guerra tradicional, mas sim uma criminalidade sofisticada em que o inimigo possui mais poder de fogo que muitos governos. Temos que responder a isso com tecnologia. Nossos sistemas conseguem identificar se um fluxo de embarcações é normal ou anormal, de forma a permitir a quem está no controle (de uma corveta ou submarino) a tomar as decisões.
Fonte: O Globo