Empresa marcou a entrega do primeiro de 30 navios com capacidade para mais de 400 mil toneladas de minério de ferro para o primeiro semestre de 2011
O lançamento dos maiores navios de carga seca do mundo pela gigante brasileira de mineração Vale em 2011 vai cortar o custo de transporte de commodities e sufocar uma recuperação no mercado de frete marítimo por anos.
O apetite da China por minério de ferro e carvão, as duas principais commodities despachadas pelo mercado de carga seca em volume, transformou a indústria, com as empresas de mineração e transporte construindo embarcações cada vez maiores para atender a demanda.
A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, marcou a entrega do primeiro de 30 navios com capacidade para mais de 400 mil toneladas de minério de ferro para o primeiro semestre de 2011. Os navios, que serão entregues até 2013, vão superar a capacidade do maior navio cargueiro atualmente em operação, o MS Berge Stahl, que tem capacidade para 365 mil toneladas.
A chegada desses cargueiros, chamados de Chinamax, não somente vai cortar custos para a Vale como também vai reduzir fretes marítimos em toda a indústria, considerando que os novos cargueiros chegarão em um mercado que já enfrenta excesso de oferta.
"Este será o principal fator a afetar o mercado por pelo menos alguns anos", afirmou Rahul Sharan, analista sênior da Drewry Shipping Consultants.
O índice báltico de carga seca, formado por rotas de comércio global para commodities secas, caiu quase 30 por cento este ano, para 2.173 pontos, por causa da grande tonelagem disponível e da esperada torrente de novos navios que serão lançados no próximo ano.
Os navios gigantes da Vale, que terão comprimento maior que os 324 metros da Torre Eiffel, devem exacerbar o problema de excesso de oferta e podem pressionar o indicador para abaixo dos 2.000 pontos no próximo ano, afirmam analistas. Isso significa menos dinheiro para os donos de navios, muitos dos quais se opõem aos novos cargueiros da mineradora.
"Não precisamos dos navios (da Vale)", disse Torben Skaanild, presidente-executivo da Bimco, maior grupo de navios do mundo. "Temos um enorme fluxo de navios com capacidades para 150.000 a 180.000 toneladas vindo ao mercado. Se você começar a construir navios de 400.000 toneladas vai acabar tirando-os do mercado."
Um porta-voz da Vale não comentou as críticas da indústria contra os Chinamax da empresa.
O Credit Suisse estima que os navios da Vale vão substituir até 168 cargueiros de tipo capesize, representando cerca de 15 por cento da atual frota e forçando essas embarcações a fazer rotas mais curtas ante viagens de longo percurso.
O ganho médio com navios capesize, normalmente usados para transporte de minério de ferro e carvão, pode despencar entre 20 e 35 por cento no próximo ano, para abaixo de 25 mil dólares por dia, dizem analistas. O lucro de navios menores, que geralmente transportam de grãos a cimento, também deve cair.
O presidente do conselho da chinesa Cosco, maior empresa de cargas secas do mundo, afirmou à Reuters no mês passado que se opõe fortemente aos meganavios da Vale e previu um problema de excesso de oferta que vai impedir a recuperação da indústria até 2013, pelo menos.
A frota global de navios de carga seca do mundo deve crescer 11% no próximo ano, para 594 milhões de toneladas, superando o crescimento de 8 por cento da demanda, segundo a Macquarie Securities.
"Parece que oferta e demanda poderão voltar ao equilíbrio em 2012, mas muito disso vai depender de se o ambiente atual de frete baixo desencorajará novas encomendas", afirmou Janet Lewis, analista da Macquarie.
A indústria de frete foi atingida pela crise econômica de dois anos atrás e tem enfrentado dificuldades para se recuperar. O mercado de carga seca ainda está mais de 80% abaixo do auge de maio de 2008.
Fonte: Gazeta do Pvoo (PR)/Reuters
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