A venda da MMX, empresa de mineração de Eike Batista, passa por discussões com os potenciais compradores em torno de um título de renda variável emitido em 2011, o MMXM11, e que está contabilizado como passivo no balanço da companhia. No momento, o mercado aposta que uma parceria entre a trading Trafigura e o grupo Mubadala, de Abu Dhabi, está na frente na corrida pela MMX. Procurados, a Trafigura disse que não comenta potenciais aquisições e Mubadala não respondeu o e-mail.
"Qualquer negociação envolvendo a compra da MMX terá que passar pelo MMXM11", disse fonte. O título, negociado em bolsa, têm valor de mercado de R$ 2,35 bilhões considerando-se a emissão de 992,4 milhões de títulos e a cotação de R$ 2,37 por papel, de acordo o fechamento de ontem do mercado. Batista detém 67% desses títulos, algo como R$ 1,6 bilhão.
Na avaliação de fontes do mercado ouvidas pelo Valor, um cenário possível, na venda da companhia, consiste em a MMX fazer um aumento de capital a preços muito baixos envolvendo a ação ordinária, a MMXM3, que fechou ontem cotada a R$ 2,20 por ação. De acordo com essa cotação, a MMX valia ontem R$ 2,14 bilhões. Batista tem 59% do MMXM3.
Em contrapartida, o empresário teria que vender parte ou toda sua fatia de MMXM11 com desconto. Procurada, a EBX, holding de Eike, disse que não comentaria o assunto. A MMX afirmou que não poderia se manifestar sobre o tema até a conclusão das negociações.
Nessa transação, o comprador conseguiria adquirir o título barato e reduzir o passivo da empresa. No mercado, desde que Batista anunciou sua intenção de vender a MMX, tem circulado a informação segundo a qual os potenciais compradores da empresa estariam interessados só na compra do porto Sudeste, hoje o principal ativo da companhia. Isso porque os ativos minerais da empresa, em Minas Gerais, seriam difíceis de desenvolver. A MMX já afirmou em teleconferência que não é sua intenção vender o porto separadamente.
A empresa também havia informado ao mercado que negociava com Trafigura e Glencore Xstrata. Siderúrgicas nacionais também vinham analisando o negócio.
Fontes de mercado dizem que uma dificuldade para segregar o porto na venda da MMX está justamente na existência do MMXM11. A emissão do título surgiu, em 2011, como uma forma de a MMX investir no porto Sudeste. À época, o porto pertencia à PortX, criada a partir de uma cisão da LLX, a empresa de logística de Batista. Na operação, a PortX foi incorporada pela MMX. E houve permuta segundo a qual os detentores de PortX podiam trocar suas ações por um título de remuneração variável baseado em royalties mais ações da MMX ou título mais dinheiro. O título dá ao detentor o direito de receber US$ 5 por tonelada de minério de ferro embarcado pelo Porto Sudeste. O título é corrigido pelo Índice de Preços ao Produtor dos Estados Unidos.
A MMX vem fazendo provisões no balanço para fazer frente aos compromissos assumidos com o título uma vez que ficou acertado que os papéis serão remunerados a partir da entrada em operação do porto ou a partir de 1º de janeiro de 2013, o que ocorresse primeiro. A expectativa é de que o porto comece a operar no fim do ano, mas só atingirá a capacidade plena de 50 milhões de toneladas em 2017. O porto está com as obras atrasadas, mas o pagamento dos royalties só vai ocorrer quando o porto gerar lucro bruto.
Segundo a MMX, em 30 de junho, o fluxo futuro dos royalties reconhecidos no balanço, descontado a valor presente, correspondeu a US$ 874.717, equivalentes a R$ 1,922 bilhão. Em 31 de dezembro de 2012, esse valor era de R$ 1,625 bilhão. A alta do dólar em relação ao real aumenta o passivo do título uma vez que a remuneração do MMXM11 é fixada em dólares. No segundo trimestre do ano, a MMX registrou prejuízo de R$ 441,5 milhões, dos quais R$ 243 milhões referentes ao efeito dos royalties. Se por um lado a valorização do dólar aumenta o passivo do título, por outro também eleva a perspectiva de receita da empresa: "A MMX tem passivos, ativos, despesas e receitas em dólar", afirmou a companhia em nota.
A provisão dos títulos no balanço é inferior ao valor dos papéis no mercado. Em resposta por escrito, a MMX afirmou: "Para o reconhecimento inicial dessa obrigação [o pagamento dos royalties], foi utilizado um fluxo de caixa descontado a valor presente à taxa de 15% ao ano com base nos volumes mínimos garantidos nos contratos de take-or-pay [firmes] vigentes na data de emissão dos títulos."
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio
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