Por Ana Paula Ragazzi e Fernando Torres, de São Paulo
Quando encerrava a apresentação da OSX, do setor naval, para os potenciais investidores, o empresário Eike Batista perguntava à plateia: "E então, o que vocês acharam desta 'Embraer dos mares'?"
A resposta foi clara: o mercado achou caro o preço sugerido para as ações na oferta inicial da companhia, que variava entre R$ 1.000 e R$ 1333,33.
O Valor apurou que, ontem, empresa e bancos coordenadores optaram por mudar as condições da oferta. O preço mínimo sugerido desce para R$ 800,00 e a quantidade de ações emitidas também será diminuída. Segundo as informações de mercado, a esse preço os coordenadores têm demanda firme para cerca de US$ 1,2 bilhão, valor suficiente para conferir à empresa 25% de suas ações em circulação no mercado, mínimo exigido pelo Novo Mercado. Pelos termos iniciais, a OSX teria 40% de seus papéis negociados na bolsa.
No entanto, em dia de muitas informações sobre as mudanças na operação, o mercado também dizia que a operação poderia chegar a US$ 2 bilhões, que é o valor necessário para que a OSX construa seu principal projeto, um estaleiro em Santa Catarina.
Se a quantidade de papéis vendidos na oferta (sem lotes extras) fosse mantida e a ação saísse pelo peço mínimo do intervalo sugerido (R$ 1 mil), a operação seria de R$ 5,5 bilhões ou US$ 3,15 bilhões.
Além do corte no preço, o novo modelo prevê que a OSX terá uma opção de venda de cerca de US$ 1 bilhão em suas ações contra Eike Batista ao mesmo preço da oferta inicial. A opção será válida até 2013. O empresário teria dado garantias pessoais para a operação, o que seria uma sinalização de que, a esse preço, as ações estão baratas.
Em razão das mudanças, o fechamento do preço da oferta, inicialmente marcado para hoje, poderá ser adiado por alguns dias para que investidores qualificados tenham o direito de desistir de participar da oferta.
O desejo principal do empresário, neste momento, é listar as ações da OSX, independentemente da quantidade de papéis ou do preço, conforme apurou o Valor. Com a companhia aberta, ele deverá seguir a receita que tem conferido sucesso às outras empresas de seu grupo, divulgando notícias sobre o andamento dos negócios e acompanhando o impacto nas ações.
Segundo o mercado, a demanda pelos papéis da empresa foi quase que totalmente concentrada nos investidores estrangeiros -entre os domésticos, a procura teria sido praticamente zero.
Desde o início da semana, o mercado foi inundado de boatos sobre a operação. Na segunda-feira, havia alertas de que a demanda cobria apenas metade dos papéis ofertados, além de ter havido especulação até sobre a possibilidade de cancelamento da distribuição das ações.
Mas esta não será a primeira operação em que o empresário Eike Batista terá que fixar o preço de venda das ações abaixo do intervalo previsto por falta de demanda. Isso ocorreu também na oferta da MMX Mineração, primeira empresa do seu grupo a abrir capital, em 2006. O desconto em relação ao preço mínimo foi de 18,5%. No IPO da MPX Energia o preço saiu dentro do intervalo, enquanto na distribuição OGX Petróleo a ação foi vendida pelo teto da estimativa.
Nas três operações anteriores, as chamadas "pessoas vinculadas" também participaram da oferta. Essa classificação abarca pessoas ligadas à empresa emissora ou aos bancos coordenadores. Na oferta da MMX, as pessoas vinculadas ficaram com 13% das ações vendidas, índice que subiu para 18% na operação da MPX e atingiu 19% no caso da OGX.
Normalmente, as pessoas vinculadas podem ficar com até 25% dos papéis vendidos nas ofertas. No caso da OSX, conforme informações do prospecto, Eike havia manifestado o interesse de investir US$ 300 milhões na operação.
O fechamento da oferta da OSX coincidiu com a volta do empresário à mídia, depois de o ranking da Forbes classificá-lo como o oitavo homem mais rico do mundo, com uma fortuna de US$ 27 bilhões. (Fonte: Valor)
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