Os efeitos dos cinco anos sem leilões da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre 2008 e 2013, atingiram este ano o seu pico sobre a indústria de exploração de óleo e gás no Brasil. Embora a produção nacional caminhe para encerrar em alta, de cerca de 10% no acumulado do ano até outubro, as atividades exploratórias registraram em 2014 seus piores números dos últimos anos.
De acordo com o Banco de Dados de Exploração e Produção da ANP, o número de poços exploratórios perfurados este ano no país, até dezembro, foi o pior desde 2002. Ao todo, foram perfurados 81 poços entre janeiro e novembro, o que representa uma queda de 30% na comparação com igual período do ano passado.
O maior número de perfurações foi registrado na bacia de Santos, seguida da bacia Potiguar, em terra. As bacias do Espírito Santo e Campos, no offshore, e Recôncavo, no onshore, também se destacaram.
"Sem áreas para explorar, não tem perfuração. Esse recuo é, sem dúvida, fruto dos anos sem leilões. Já era um resultado esperado pela indústria. A própria Petrobras reduziu seus investimentos em exploração nos últimos por falta de novas áreas", comenta o consultor e ex-diretor da ANP, David Zylbersztajn.
Com a redução dos investimentos em exploração, o número de descobertas também despencou. Segundo dados da ANP, até 5 de dezembro, 80 indícios de descoberta de petróleo e gás foram reportados pelas petroleiras à agência reguladora. O número só não é menor que o registrado em 2005. Na comparação com igual período de 2013, a redução do número de descobertas foi de 38%.
Os dados da ANP mostram que a Bacia de Santos, que concentra os principais projetos do pré-sal, se consolida como principal fonte de descobertas. Ao todo, as petroleiras informaram 14 indícios de óleo e gás na região, que representam 18% do total de descobertas no Brasil. Em 2013, Santos já havia liderado o ranking, com 30 descobertas reportadas.
As atividades exploratórias deste ano foram frutíferas também para a bacia do Espírito Santo, em mar, onde foram informadas onze descobertas. A costa capixaba foi uma das poucas bacias, ao lado da parte terrestre da Bacia de Sergipe-Alagoas e a Bacia do Parecis, onde houve aumento no número de descobertas anunciadas.
O destaque negativo ficou com a Bacia de São Francisco. Nenhum poço sequer foi perfurado na região este ano. Em 2013, 14 descobertas foram anunciadas nas perfurações no local.
A retração nas atividades de exploração no Brasil gera impactos não somente na renovação das reservas provadas de óleo e gás do país, como também impacta os negócios da cadeia de fornecedores da indústria.
No rastro do menor ritmo das petroleiras, empresas globais como Tenaris (controlada do grupo ítalo argentino Techint), a americana Baker Hughes e a francesa Vallourec, por exemplo, vêm reportando queda de receita no mercado brasileiro nos últimos meses e já colocam o país como principal responsável no recuo de negócios na América Latina.
"A redução no Brasil é atribuída primeiramente pela redução nas atividades de perfuração e pela deterioração do preço praticado no país", citou a Baker Hughes em seu relatório financeiro do terceiro trimestre.
A recuperação da perfuração de poços exploratórios é esperada para os próximos anos. A expectativa do setor é que as perfurações dos blocos arrematados na 11ª e 12 ª Rodadas da ANP, em 2013, se intensifiquem entre 2016 e 2017.
Fonte: Valor Econômico/André Ramalho | Do Rio
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