Governo estuda flexibilizar a regra trabalhista que impõe um número mínimo de brasileiros em plataformas
A quantidade de estrangeiros em áreas ligadas ao setor de petróleo praticamente dobrou nos últimos três
A falta de profissionais qualificados na indústria fornecedora de bens e serviços para o setor petrolífero pode não só ameaçar o cronograma de exploração na camada pré-sal como ampliar os riscos para a segurança nas operações.
As empresas perceberam que estão numa corrida contra o tempo. Enquanto não formam gente em número suficiente, recorrem a tra- balhadores importados pa- ra suprir a crescente ne- cessidade.
Diante desse quadro, o governo avalia flexibilizar o número mínimo exigido de trabalhadores brasileiros em sondas de perfuração e plataformas de exploração de petróleo e gás. A medida serviria para reduzir a falta crônica de mão de obra local.
A regra atual prevê que, no primeiro ano, 1/3 dos trabalhadores dessas unidades deve ser de brasileiros. A partir do segundo ano, a exigência sobe, e 2/3 de quem trabalha nessas ambiente da indústria do petróleo devem ter nascido no Brasil.
MAIS ESTRANGEIROS
Mas a falta de gente tem feito com que o número de estrangeiros trabalhando em áreas ligadas ao petróleo tenha quase que dobrado nos últimos três anos, segundo dados do Ministério do Trabalho.
A importação de mão de obra é intensificada especialmente pela escassez de trabalhadores em áreas específicas. Em 2008, 343 trabalhadores ligados a engenharia naval foram trazidos. Em 2010, esse número ultrapassou 700, segundo dados atualizados até setembro.
Faltam principalmente engenheiros de petróleo, engenheiros navais e geólogos. Nas universidades, apenas metade das vagas do curso de engenharia de petróleo é preenchida.
"O curso de engenharia naval ainda forma pouca gente. Está começando a crescer a procura, mas, durante anos, foi esvaziado. Então, as universidades estão retomando agora", diz Mariângela Mundim, gerente de planejamento de recursos humanos da Petrobras.
Por ano, o país forma 55 mil engenheiros, enquanto na China -um país com o qual o Brasil é sempre comparado- são 400 mil.
A área de exploração é a que mais sofre com essa carência. Para os próximos anos, está previsto um intenso movimento no mercado de sondas, equipamento usado na perfuração de poços. A Petrobras vai bancar a construção de 28 equipamentos desse tipo.
O problema é que a operação desses equipamentos requer profissionais experientes no setor, dada a complexidade embarcada em cada uma dessas sondas. O mercado brasileiro se desenvolveu recentemente, e ainda há carência de mão de obra qualificada.
"Há dúvidas se com essa demanda serão formados profissionais com tempo de capacitação e experiência suficientes para operar esses equipamentos. Com mais pessoas inexperientes, pode aumentar o risco de acidentes", afirma Adriano Bravo, presidente da Petra, consultoria voltada para o recrutamento de profissionais do setor de óleo e gás.
No curso de engenharia de petróleo, apesar da grande procura, boa parte dos interessados não consegue a nota mínima exigida para ser aprovada na universidade.
Ao olhar para essa carência, a Petrobras decidiu criar um projeto para mostrar a estudantes do ensino médio de todo o país as profissões ligadas ao petróleo.
A estatal vem percorrendo colégios e escolas técnicas para despertar nos estudantes o interesse pelas carreiras do setor.
As empresas fornecedoras se ressentem de escassez de informações para definir quais são e onde estão as principais carências da indústria petrolífera.
"Queremos unificar, de certa forma, as medidas das empresas para que haja ações mais efetivas", diz a gerente de RH da Promon, Roberta Bonamigo.
Fonte: Folha de São Paulo/CIRILO JUNIOR/DO RIO
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