O derretimento de bilhões de dólares da fortuna de Eike Batista na semana passada foi provocado por problemas que só dizem respeito ao grupo EBX, mas o drama faz jus ao desempenho de suas “colegas” do setor de petróleo, gás, refino e petroquímica. Juntas, essas companhias já perderam 22,43% do seu valor de mercado na BM&FBovespa do fim de 2011 à segunda-feira passada, segundo a consultoria Economática. Ao todo, evaporaram R$ 79,5 bilhões dos seus papéis neste ano, o que equivale praticamente a duas Souza Cruz. O declínio do setor supera em muito a queda da bolsa como um todo: o Ibovespa, índice de referência do mercado, caiu apenas 3,63% no mesmo período.
Como o segmento é muito concentrado em Petrobras e OGX - que detêm respectivamente 88,3% e 6,5% do valor de mercado total -, os ocasos dessas duas empresas respondem por praticamente todo o dinheiro perdido. A gigante Petrobras registrou no ano uma depreciação de 16,69% em seu valor de mercado, que foi mordido em R$ 48,6 bilhões. Esse montante representa 61,2% das perdas do setor. Apesar de bem menor, a OGX é culpada pela evaporação de R$ 26,2 bilhões, 33% do total. No ano, a joia de Eike Batista recuou praticamente 60% em seu valor. E mais de dois terços desse tombo ocorreram no fim da semana passada, com o anúncio de que a petrolífera produzirá em um poço apenas um quarto do que divulgara.
Mas mesmo as companhias menores vêm sofrendo perdas significativas em suas ações. A Queiroz Galvão teve desvalorização de 55,5% no ano, passando de cerca de R$ 4,4 bilhões, ao fim de 2011, para quase R$ 1,9 bilhão, na segunda-feira. A petrolífera, que representa apenas 0,71% do setor, causou 3,07% das perdas. A jovem HRT, que opera blocos na Bacia do Solimões (AM) e na costa africana, desvalorizou-se em 44,6%, ou cerca de R$ 1,5 bilhão. Também tiveram perdas proporcionalmente consideráveis a Refinaria de Manguinhos (33,15%) e a Unipar (13%). A única que sustentou seu valor ao longo do ano foi a Braskem, cujo recuo ficou em 2,53%.
Para Nataniel Cezimbra, da BB Investimentos, reveses no fluxo de caixa explicam grande parte do mau desempenho do setor. Ele lembra que as quatro principais companhias foram impactadas por notícias negativas para o seu faturamento. No caso da Petrobras, Cezimbra destaca o corte na meta de produção de petróleo, previsto no plano de negócios elaborado para os próximos quatro anos. Responde também pelo ocaso das ações a defasagem do preço dos combustíveis no Brasil em relação ao mercado internacional.
“O desempenho do segmento de abastecimento foi o grande vilão da Petrobras, e os investidores receberam com decepção o aumento no preço dos combustíveis junto às refinarias. O mercado também não viu com bons olhos um plano de investimento de R$ 236,5 bilhões com uma produção projetada para crescer apenas 2% ao ano até 2013”, avalia Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. “Além disso, com a frágil situação econômica global, os investidores internacionais estão mais sensíveis a risco. Nesse cenário, a ação da Petrobras sofre por ser muito líquida.” Quanto à OGX, há consenso de que o que houve foi frustração das expectativas dos investidores. Mas a reação deles também é vista como exagerada.
Os analistas estão apostando que, no médio prazo, o dinheiro que evaporou vai se condensar em ganhos. Tanto a Coinvalores quanto a BB estão revendo o preço-alvo para a ação da Petrobras daqui a 12 meses.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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