IEAPM está perto de criar tinta anti-incrustante marítima ambientalmente correta e viável economicamente >> O Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), da Marinha do Brasil, localizado em Arraial do Cabo (RJ), desenvolve tecnologia para a produção de tinta anti-incrustante ecológica que pode tornar-se a primeira não agressiva aos ecossistemas marinhos. Uma das características do produto é que é isento de elementos metálicos (cobre, zinco, estanho, etc) e de compostos organo-halogenados (cloro, flúor, bromo), sendo não poluente e não persistente no ambiente marinho.
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A pesquisa está sendo conduzida pelo engenheiro químico e capitão-de-fragata William Romão e tem como base esponjas marinhas, que produzem tipos especiais de glicerofosfolipídeos, compostos que as mantêm livres de cracas ou bichos pegajosos e oportunistas. “Como diferenciais, relaciono que em sua fabricação usa-se uma fonte de matéria-prima nacional, abundante e barata; a sua composição não contém metais pesados ou compostos organo-halogenados; seu processo de síntese química é considerado simples e sem muitas etapas complicadas, o que torna viável a sua produção em escala industrial”, destaca Romão.
A pesquisa já mereceu o Prêmio Petrobras de Tecnologia e conta com três patentes. As esponjas estudadas são das espécies Amphimedon viridis, Aplysina fulva, Arenosclera brasiliensis, Darwinella sp e Geodia corticostylifera, disponíveis na costa brasileira. Romão isolou as substâncias anti-incrustantes produzidas pelas esponjas e sintetizou-as em laboratório.
Um desafio foi desenvolver uma maneira de coletar o material que interessava, já que um quilo de esponjas resultava em dois miligramas de glicorofosfolipídeos. Com essa quantidade, milhares de esponjas seriam necessárias para produzir poucos litros de tinta.
Com a ajuda do Laboratório de Avaliação e Síntese de Produtos Estratégicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a solução veio com a utilização de lecitina de soja, que se mostrou ideal para a síntese química das substâncias. A lecitina de soja é 90% mais barata do que o cobre, principal matéria-prima para tintas anti-incrustantes. A eficácia da substância foi testada em formulações de tintas da Akzo Nobel em placas de metal na Baía de Guanabara (RJ) por um ano, com ótimos resultados.
— Ainda não temos um custo industrial para produção. Entretanto, para se ter uma ideia, os óxidos de cobre, matéria-prima dos principais biocidas mais usados atualmente em tinta anti-incrustante, são 10 vezes mais caros do que a matéria-prima lecitina. Outro ponto importante é o uso de biocidas aditivos em tintas anti-incrustantes. Tais aditivos são normalmente compostos organo-halogenados importados que custam 60 vezes mais que a lecitina bruta. Realizamos alguns testes de campo que mostraram que o nosso biocida pode substituir satisfatoriamente estes biocidas aditivos, e que nos faz acreditar que isto já pode impactar imensamente o custo final de uma possível produção industrial — diz o pesquisador.
Com a patente em mãos, o IEAPM inicia procedimentos para conseguir um parceiro que tenha a intenção de investir na otimização e na produção do biocida. “Já foram feitos os primeiros contatos com duas empresas fabricantes de tintas, porém não há nada fechado”, finaliza Romão.