Braskem e Petrobras ainda não chegaram a um acordo sobre o preço do gás natural que servirá de base para a produção da companhia no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). No projeto, que inclui duas refinarias comandadas pela petroleira, há uma unidade de petroquímica prevista, que segue sem cronograma e investimento definido em função de acertos ainda a serem feitos.
O gerente-geral de Desenvolvimento de Projetos Petroquímicos da Petrobras, Luiz Fernando Marinho Nunes, disse ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, que dentro do modelo discutido com a Braskem está o estabelecimento de correlações de preços entre os mercados americano e o brasileiro.
"Reavaliamos o Comperj permanentemente. Com a realidade do shale gas [gás não convencional] nos Estados Unidos e do pré-sal no Brasil, a equação antiga não se sustentava mais, então houve essa oportunidade feliz da Braskem e Petrobras retomarem essa discussão em outras bases", disse Nunes.
O presidente da Braskem, Carlos Fadigas, disse que está entre as prioridades da companhia a construção de uma unidade petroquímica no Estado do Rio, mas que o projeto ainda está em fase de discussões de matéria-prima com a Petrobras. A empresa busca também, segundo o executivo, incentivos junto aos governos federal e estadual.
A questão do preço do gás nacional, que agora compete com o gás não convencional americano, tem preocupado o setor químico de forma geral, e também o governo. Para o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, tudo indica que o Brasil terá mais disponibilidade de gás, mas, quando este momento chegar, o país precisa estar preparado para ser um país produtor e não comprador.
"Então o preço do gás no Brasil não pode ser de país consumidor, tem que ser preço de país produtor", alertou. O diretor do departamento de Setores Intensivos em Capital do ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alexandre Cabral, disse que o ministério tem comandado, junto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), " a complexa e delicada equação do gás natural no Brasil".
"Jamais chegaremos aos US$ 4 por milhão de BTU do gás não convencional americano e duvido muito que eles próprios consigam manter esse valor por muito tempo. Muito provavelmente o preço [americano] vai [para] algo em torno de US$ 6 por milhão de BTU, mas ainda muito distante dos nossos US$ 14 por milhão de BTU atuais, e que achamos que bem ajustado pode chegar a US$ 8 por milhão de BTU a US$ 10 por milhão de BTU", afirmou.
Caso o Brasil de fato alcance esse patamar, Cabral considera que o país terá uma "equação razoavelmente melhor de competitividade". Para um especialista em química que preferiu não se identificar, entretanto, o gás não convencional americano aumenta sim a dificuldade brasileira de produzir alguns insumos petroquímicos de forma competitiva.
"Quando o Comperj começou a ser planejado, ainda não havia nos Estados Unidos a solução que existe hoje para o gás não convencional. E um projeto como o Comperj é de longa maturação", avaliou.
Para ele, se o americano utilizar o gás não convencional para produzir polietileno, ficará difícil para o Brasil competir. "Será que a Petrobras vai conseguir baixar esse gás de Lula a um preço que fique equivalente ao custo americano? A resposta é que não, porque esse gás está a 300 quilômetros do continente e só para levá-lo até o Comperj deve custar R$ 1 bilhão", disse.
A solução, para ele, é focar a produção petroquímica do Comperj em outros produtos.
Nunes, da Petrobras, não tem a mesma visão. Para ele, os efeitos do gás não convencional já estão conhecidos, e seu custo de produção mais baixo, não se reflete, necessariamente, em preços menores para a cadeia.
"O mercado americano não é de baixos preços, ao contrário. Se você pegar os preços do polietileno, do polipropileno no mercado americano são preços tradicionalmente elevados. E o gás não convencional já está sendo amplamente usado. A indústria americana converteu quase 90% da petroquímica americana para esse gás, então esse elemento não se reflete automaticamente em preços", explicou.
Ele considera relevante, entretanto, que a realidade americana sirva de base para a precificação no Brasil. Quando perguntado se o Comperj continua viável, Nunes foi taxativo: "Sim, claro".
Fonte: Valor Econômico/Elisa Soares | Do Rio
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