Após serem deixadas de lado por muito tempo por grandes instituições financeiras, as ações da Petrobras estão no radar novamente. A reunião desta sexta-feira, quando a nova metodologia de reajuste de preços dos combustíveis será apresentada ao conselho de administração, já está impulsionando os papéis no curto prazo e dão esperanças de que a "hora da virada" esteja próxima.
Com altas de 4,9% e 4,1% em novembro, os papéis preferenciais e ordinários da companhia acumulavam ganhos respectivos de 14,2% e 5,5% no ano até segunda-feira (18). No mesmo período, o Ibovespa, índice de referência da bolsa brasileira, caía 10,9%.
A ideia é que a nova fórmula em discussão traga mais previsibilidade de caixa para a Petrobras, com um alinhamento dos preços praticados no Brasil com os do exterior. Segundo afirmou o diretor-financeiro e de Relação com Investidores da companhia, Almir Barbassa, ela também deverá permitir a redução da alavancagem para "níveis aceitáveis". "A nova metodologia traz uma indicação de que vamos retornar aos indicadores colocados no nosso plano de negócios", afirmou Barbassa, em teleconferência sobre resultados da empresa no terceiro trimestre.
Ainda que o mercado esteja aguardando os parâmetros da metodologia, ela já é encarada como um sinal de força da presidente da estatal, Graça Foster, no cargo desde fevereiro de 2012. Além disso, as ações vêm ganhando força no cenário mais recente em meio aos rumores de um aumento do preço da gasolina ainda neste ano.
A HSBC Corretora incluiu os papéis da empresa na carteira deste mês, assim como o BTG Pactual. O Bank of America Merrill Lynch, por sua vez, aumentou a alocação nas ações. As equipes da Votorantim Corretora e do BB Investimentos têm recomendação "outperform" (desempenho acima da média do mercado), com perspectivas favoráveis para os papéis.
A gestora de recursos 3R Investimentos tem uma posição relevante em Petrobras em sua carteira desde o início do ano, com foco na operação da estatal. "Compramos pela nova gestão, com um controle da operação muito maior, com a perspectiva de a produção finalmente começar a crescer. A gestão está muito mais focada nas prioridades da empresa, de produzir no Brasil e vender ativos fora, num movimento estratégico", afirma o sócio fundador e gestor da 3R, Tomás Awad.
Segundo ele, os papéis da Petrobras estão baratos, sendo negociados abaixo do valor patrimonial, a um múltiplo P/VPA (preço em relação ao valor patrimonial por ação) de 0,65 vez. A percepção de Awad é que a empresa tem melhorado há cerca de um ano e meio e que, se for divulgada uma fórmula de reajuste "razoável" para o mercado, criando uma paridade com os preços internacionais, essa melhora poderá se cristalizar.
Ainda que não descarte o risco de interferências políticas na companhia, o executivo vê as discussões de uma fórmula de preço como positivas, mas reforça que é importante acompanhar os papéis no dia a dia.
A Brasil Plural iniciou a cobertura das ações da Petrobras há cerca de um mês com recomendação "equal weight", equivalente à neutra, e preço-alvo de R$ 20 para os papéis preferenciais e de R$ 18,00 para os ordinários.
De acordo com o analista Andrew Muenh, no curto prazo, a questão se resume à paridade de preço. "A total transparência em relação à paridade de preços é o pré-requisito chave em nossa visão para a empresa executar suas métricas operacionais: produção e refinarias", afirma.
A instituição diz acreditar que variáveis como o câmbio tendem a ser priorizadas na nova fórmula, mas ressalta que as eleições são um risco, por ameaçarem a implantação das mudanças nos próximos 12 meses.
Atenta ao curto prazo, a XP Investimentos incluiu as ações da Petrobras na carteira desta semana, na expectativa de que a reunião do conselho seja bem sucedida diante da necessidade de caixa para a empresa realizar o plano de investimento até 2018. "Só o leilão do bloco de Libra consumirá R$ 6 bilhões que a Petrobras terá que desembolsar, pois a mesma possui 40% do consórcio" afirma, em relatório. A corretora também diz acreditar que a Petrobras vai anunciar um reajuste de combustíveis ainda este ano.
O BB Investimentos tem recomendação "outperform" para as ações da Petrobras, com preço-alvo de R$ 24,50 para as preferenciais e de R$ 23,00 para as ordinárias em dezembro de 2014, sem levar em consideração a fórmula de reajuste de preços.
A analista Carolina Flesch assinala que as perspectivas para a companhia são otimistas, com confiança na retomada da alta da produção e de olho nos programas de otimização de custos operacionais, de eficiência e de desinvestimentos. "A companhia está se focando em negócios no Brasil e conseguindo mais caixa", diz.
A Votorantim Corretora também tem uma visão favorável sobre Petrobras, com recomendação "outperform" e preço-alvo de R$ 25,00 para as ações preferenciais ao fim de 2014. O analista Leonardo Alves aponta que a expectativa pela nova metodologia e um aumento da produção são os dois grande pilares que sustentam a tese de investimentos. O preço-alvo para o próximo ano já incorpora os dois fatores.
Ainda que espere que a fórmula leve os preços dos combustíveis no cenário doméstico a se aproximarem dos praticados no exterior, a Votorantim não prevê repasse total da volatilidade nos mercados de petróleo e câmbio para o consumidor brasileiro.
Segundo a própria Petrobras, a metodologia de precificação aprovada pela diretoria contempla reajuste automático do preço do diesel e da gasolina em periodicidade a ser definida, baseado em variáveis como o preço de referência no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado. Ainda está previsto um mecanismo que impede o repasse da volatilidade dos preços internacionais ao consumidor doméstico.
Exercício feito pela Votorantim levando em consideração uma taxa de câmbio e um preço do petróleo tipo Brent médios para cada período mostra que o aumento do preço do combustível no Brasil chegaria a 10,6% em 2013; a 1,6% em 2014; a 2,9% em 2015; e a 2,5% em 2016. Do lado negativo, a corretora considera a Petrobras uma empresa ainda com alta alavancagem, além da necessidade de nova dívida para financiar seu agressivo plano de investimentos. Há ainda nova menção aos riscos de ingerência política.
Luiz Henrique Guerra, sócio da gestora dedicada a fundos de renda variável Indie Capital, que tem exposição ao papel, aponta ainda que a nova metodologia valeria para "cima e para baixo", o que significaria uma possível redução de preço caso o valor do petróleo no exterior diminuísse ou se o câmbio se apreciasse.
Na expectativa pela divulgação da fórmula de reajuste de preços, Guerra mostra preocupação com um prazo curto de duração do método, diante de uma possível pressão do governo para que a nova regra só valha até a Petrobras deixar de ser importadora líquida de petróleo e derivados. "O que o mercado gostaria de ver seria uma regra permanente e com gatilhos automáticos", defende.
E em meio ao peso dos combustíveis na inflação e ao calendário político, Guerra também destaca como um fator de atenção o início de implantação da nova metodologia. "É difícil imaginar que no ano que vem já haja uma mudança significativa."
O HSBC incluiu as ações preferenciais da Petrobras na carteira de novembro e afirmou que o novo método de preços poderá ter um "forte impacto positivo no fundamento da companhia, principalmente se a regra adotada for clara e permitir previsibilidade". Embora considere os fundamentos da empresa ainda fracos, com a metodologia e o aumento de 8% da produção esperado pelo HSBC em 2014, a casa diz acreditar que a Petrobras poderá recuperar a confiança dos investidores.
Da mesma forma, o BTG Pactual destacou em seu relatório deste mês que adicionou Petrobras na carteira por acreditar que a intenção da empresa de se distanciar de uma metodologia de preço subjetiva é real e provavelmente será bem executada. Na visão da instituição, a mudança poderá alterar significativamente o sentimento dos investidores.
O BofA, por sua vez, aumentou a alocação nos papéis ordinários da Petrobras em novembro, dada a visão de uma elevação potencial da produção doméstica de petróleo no quarto trimestre e da adoção da metodologia de preços.
Fonte: Valor Econômico/Beatriz Cutait | De São Paulo
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