Em junho de 2015, a exploração do pré-sal contará com o primeiro dos 29 navios-sonda encomendados pela holding financeira Sete Brasil a cinco estaleiros. A conclusão desse primeiro equipamento, produzido pelo Estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo, dá início a um cronograma de entrega desses navios que só terminará em 2020, sendo sete produzidos pelo Jurong e os demais divididos entre os estaleiros Atlântico Sul (EAS, de PE), Rio Grande (RS), Enseada Paraguaçu (BA) e Brasfels (RJ).
A construção desse primeiro navio-sonda de perfuração em águas ultra profundas, chamado de Arpoador, começou em Cingapura, sede do grupo Sembcorp Marine (SCM) do qual a Jurong faz parte, e será concluído no Brasil, no Jurong Aracruz ainda em fase final de construção. O navio terá um índice de nacionalização entre 55% e 65%. De acordo com Luciana Sandri, diretora institucional da Jurong, a empresa investiu R$ 1 bilhão na construção do estaleiro onde serão concluídos os navios-sondas.
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"Após a entrega, eles serão afretados pela Petrobras, Odfell e Seadrill por 15 anos. O custo dos sete é de US$ 5,6 bilhões e a capacidade de operação de cada um deles é de 10 mil pés de profundidade no mar e perfuração de até 40 mil pés de profundidade com acomodações adequadas para 180 tripulantes", explica.
A decisão do governo de construir vários navios ao mesmo tempo no país, incorporando parte da tecnologia e com alguns estaleiros ainda sendo construídos foi arrojada, na opinião de Sérgio Mello, diretor comercial do Bureau Veritas, empresa de conformidade e certificação. "Vai ser muito bom se der certo, pois os efeitos acessórios são importantes, como a formação de mão de obra e de um parque industrial que terá se capacitado. E esses laços com empresas do exterior podem gerar frutos no futuro para outras iniciativas em outras áreas, como energia e gestão de materiais e de projetos", afirma.
Em sua opinião, por se tratar de uma área de atuação nova, a produção desses equipamentos exige métodos de trabalho mais rigorosos e pessoal muito mais qualificado, gente com mestrado, experiência no exterior, mestrado e fluência no inglês.
Para Luciana Sandri, a Jurong está vencendo os desafios para a construção da embarcação com o treinamento de 2 mil profissionais que serão absorvidos gradativamente e em conjunto com o treinamento em Cingapura. " O Grupo Sembcorp Marine, do qual a empresa faz parte, investiu US$ 4 milhões em um projeto de capacitação para a indústria naval que será desenvolvido em cinco anos. Estudantes do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) fazem um treinamento que é equivalente a um curso de pós-graduação em tecnologia naval e oceânica no Ngee Ann Polytechnic de Cingapura, por um período de um ano. Eles passam por estágio nos estaleiros da Jurong e podem atuar como multiplicadores", explica.
Segundo ela, o programa tem como objetivo preparar mão de obra especializada na indústria naval e oceânica para atuar no Jurong Aracruz com treinamento nos padrões internacionais. Além disso, propicia a transferência de tecnologia e capacitação de estudantes e docentes, com treinamento, informação e imersão nas culturas e práticas de trabalho de Cingapura.
De acordo com José Roberto Mendes Freire, diretor executivo de operações integradas do EAS, de Pernambuco, a empresa se preparou para vencer os desafios que a construção desses navios exige e será responsável pela fabricação de sete, sendo que o primeiro será entregue em 2016 e os demais em sequência até 2018.
"Desde 2009, a empresa vem investindo em qualificação de mão de obra, desenvolvendo lideranças, formando profissionais e apoiando a inserção dos jovens no mercado de trabalho. O EAS enfrentou uma oferta de mão de obra escassa, a inexistência de uma cadeia de suprimentos no mercado nacional e as dificuldades naturais de se criar uma nova fronteira do setor no país, aproveitando as condições de logística favoráveis do Nordeste", afirma. Ele destaca ainda que esse tipo de embarcação nunca havia sido construída no país, o que levou a empresa a absorver e aplicar tecnologias inovadoras, a capacitar mão de obra, envolvendo equipes e empresas de cinco continentes.
O Grupo Galvão, que atua no segmento de óleo e gás por meio de uma joint venture com a norueguesa Odfjell, também vê esse segmento de mercado como de grande potencial. A empresa atua com navios-sonda por meio da Odfjell Galvão, que é sócia da Sete Brasil para afretamento e operação de três dessas embarcações que serão construídas pela Jurong, sendo que a Sete tem 80% e a Odfjell tem 20% dessas unidades.
"Neste momento nossa visão é para o projeto com a Sete Brasil. Devido à dimensão desse projeto, esperamos consolidá-lo antes de ampliarmos nossas projeções nesse mercado", diz Leonel Queiroz Vianna, diretor-presidente da Óleo e Gás Participações S.A, do Grupo Galvão.
Fonte: Valor Econômico\Rita Cirne | Para o Valor, de São Paulo