Apesar da crise em que está metida a Petrobras, o Brasil é apontado pela Agência Internacional de Energia (AIE) como segundo país onde a produção de petróleo mais deve crescer nos próximos cinco anos fora da Opep, o cartel dos grandes países produtores. Daqui até 2021, a extração subirá dos atuais 2,53 milhões para 3,36 milhões de barris por dia, em ritmo de crescimento inferior apenas ao dos Estados Unidos. As estimativas constam de relatório lançado ontem pela AIE com projeções de médio prazo sobre o mercado de energia.
"A despeito de todos os problemas logísticos e institucionais, a produção de petróleo está em alta", afirma a entidade. O relatório cita o escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato, dívida elevada da Petrobras e atrasos na entrega de equipamentos como sondas e plataformas como fatores de incertezas para o cumprimento das previsões.
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Mesmo assim, a AIE aposta em um acréscimo de 830 mil barris por dia na produção brasileira durante o próximo quinquênio, com reforços vindos especialmente do pré-sal. Esse aumento deverá mais do que compensar a queda em campos maduros.
Segundo a agência, o navio-plataforma Cidade de Maricá deverá entrar em operação ainda no primeiro trimestre de 2016, adicionando 150 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural na área de Lula Alto (antes batizada como Tupi). Uma réplica da mesma FPSO, a Cidade de Saquarema, está em fase final de construção e iniciará suas atividades no fim deste ano.
Enquanto isso, os primeiros testes de longa duração no Campo de Libra - licitado no regime de partilha - começam até os primeiros meses de 2017, agregando 50 mil barris à produção diária. A AIE lembra que Libra tem potencial de reservas estimadas em cerca de 8 bilhões de barris.
O relatório aponta a atividade econômica fraca no Brasil como um freio brusco na demanda por combustíveis fósseis. Nos últimos seis anos, a demanda brasileira por gasolina subiu em ritmo anual de 6,3%. Entre 2015 e 2021, o consumo subirá de 1,0 milhão para 1,1 milhão de barris por dia, em velocidade de 1% ao ano. Além disso, a agência vê um processo de recuperação do etanol e de crescimento no uso do biodiesel, cuja mistura no diesel comum passará gradualmente de 7% para 10%.
Divulgado em meio à queda do petróleo para suas cotações mais baixas em 12 anos e aos esforços fracassados da Opep para reverter essa tendência, o relatório da AIE avalia que as condições do mercado não sugerem que os preços possam se recuperar significativamente no "futuro imediato".
Em 2014 e em 2015, respectivamente, a oferta global superou a oferta em 900 mil e 2 milhões de barris por dia. Neste ano, o desequilíbrio deve atingir 1,1 milhão de barris. Apenas em 2017 haverá alinhamento, mas os "enormes" estoques acumulados nos últimos anos vão atenuar a trajetória de recuperação dos preços.
Fonte: Valor Econ\õmico\Daniel Rittner | De Brasília