A suspensão dos contratos da Transpetro com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) é temporária, sendo mais uma forma de pressionar os donos a negociarem mais rapidamente um parceiro tecnológico para as futuras construções. Os demais estaleiros nacionais estão muito comprometidos com outras obras e os novos estaleiros ainda vão demorar um pouco a ficarem prontos. Não acredito que a Transpetro queira transferir estas encomendas para fora do Brasil.
Deve-se notar que os contratos com os navios Suezmax, iguais ao João Cândido, não foram suspensos e o EAS ainda tem que entregar os 5 navios restantes. Estes navios ainda contam com o antigo parceiro tecnológico, a Samsung, que irá manter o contrato firmado para estes navios. Isto ainda garante ao estaleiro cerca de três anos de obras.
Desta forma, o impacto a curto prazo não é significativo, desde que o grupo controlador do EAS queira honrar os compromissos assumidos, e não vejo porque não o fariam. Portanto, acredito que, apesar de alguns ajustes que serão inevitáveis no estaleiro, inclusive com algumas demissões e reduções de custos, ainda não veremos nenhuma catástrofe.
A suspensão do contrato para os demais navios é uma clara posição da Transpetro de insatisfação com a gestão estratégica da Camargo Corrêa e da Queiroz Galvão, num empreendimento que, fica claro, não estavam preparados para assumir. Desde o fim da parceria com a Samsung, os donos do EAS não avançaram muito em encontrar um novo parceiro e acumulam cada vez mais problemas.
As regras do Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota) exigem um conteúdo nacional relativamente alto, transferência de tecnologia e redução gradativa dos tempos de fabricação e de custos para níveis internacionais. As empresas estrangeiras ainda estão receosas de investir muito e lucrar pouco. Aumentar a participação destas empresas no capital acionário do grupo também não é bem visto por seus atuais donos. E esta é uma equação que precisa ser resolvida.
Se o prazo dado pela Transpetro não for cumprido – ou seja, se até 30 de agosto o EAS não solucionar os seus problemas ou, pelo menos, apresentar um bom plano de ação–, será difícil para o grupo manter um empreendimento deste porte, com consequências danosas para a economia do estado a médio e longo prazo.
Apesar do grupo controlador do EAS ter todas as condições de reverter a situação, as exigências da Transpetro são muitas, caso já não estejam bem adiantados no cumprimento das mesmas. Três meses é muito pouco para tudo que eles tem que fazer para dar garantias a Transpetro e manter os contratos. Só teremos certeza quanto a isto nos próximos meses.
*Silvio Melo é engenheiro naval pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre e doutor em Engenharia Oceânica pela Coppe/UFRJ, na área de estruturas oceânicas e planejamento de processos de construção naval. Atualmente, é professor adjunto do curso de Engenharia Naval da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na área de Construção Naval e Offshore.
Fonte:Diário de Pernambuco/Silvio Melo/professor da Engenharia Naval da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
PUBLICIDADE