O Palácio do Planalto conta com Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado para fazer contraponto à oposição que prevê na Câmara. A expectativa é que Renan ajude a dialogar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem se espera uma oposição renhida.
Apesar da relação de confiança estabelecida com a presidente Dilma Rousseff nos últimos dois anos, Renan não atuará como o alicerce seguro do Planalto sem contrapartidas que espera do governo. Na abertura do ano legislativo, Renan elogiou o correligionário pela "vitória brilhante". A vitória de ambos introduz um novo xadrez no tabuleiro das nomeações.
Uma delas é a recondução do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ao cargo que ocupa desde 2003, quando foi nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a direção da subsidiária da Petrobras.
Machado afastou-se do cargo em novembro, depois que um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobras, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, o apontou entre os envolvidos nos desvios. A partir de então, o Conselho de Administração da Petrobras já prorrogou três vezes a licença de Machado. A última delas vigora até 20 de março. O PMDB entende que Machado pode voltar ao cargo, caso a auditoria interna da Petrobras o exima de envolvimento.
Outra contrapartida está na reforma ministerial que parecia definida: o destino do Ministério do Turismo, provisoriamente sob o comando de Vinícius Lages, um técnico indicado por Renan, está prometida para um aliado de Cunha, o ex-presidente da Câmara Henrique Alves (PMDB-RN).
Renan foi advertido, no início do ano, que Alves assumiria a pasta no futuro, caso seu nome não estivesse entre os indiciados ou denunciados do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na fase judicial da Operação Lava-Jato. A nomeação de Alves simbolizaria um gesto de pacificação do Planalto com Cunha, no esforço de composição com a base aliada. "Mas vão desvestir um santo para vestir outro?", questiona uma fonte do PMDB, com trânsito no Planalto.
Se Eduardo Cunha assumir uma postura de oposição radical, como espera o Planalto no pior cenário, o desempenho de Renan Calheiros pode se tornar ainda mais crucial no comando do Senado. Nesta hipótese, pode haver um recuo na definição do Turismo.
Renan também sofre pressão da bancada do PMDB, que se sentiu alijada da discussão de cargos na reforma ministerial. No último domingo, após o resultado da vitória de Renan na eleição do Senado, Dilma encontrou-se com o pemedebista na cerimônia de casamento da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, numa casa de festas em Brasília. Ambos analisaram o resultado das eleições nas duas Casas e o impacto da vitória de Cunha na Câmara.
Para garantir os votos da bancada do PT em Renan, até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena. Às vésperas da eleição, um senador petista telefonou para o ex-presidente José Sarney para avisar que a bancada só votaria no PMDB se o candidato fosse outro nome da bancada. Diante da ameaça, Sarney acionou Lula. Na contabilidade final, aliados de Renan registraram duas defecções na bancada petista.
O governo precisa aprovar medidas polêmicas nas duas Casas, como o ajuste fiscal e a revisão das regras trabalhistas e previdenciárias. Outra votação polêmica a caminho é a análise do veto presidencial ao reajuste da tabela do Imposto de Renda em 6,5%. Cabe ao presidente do Senado, que também preside as sessões do Congresso, colocar a matéria em pauta.
Fonte: Valor Econômico/Andrea Jubé | De Brasília
PUBLICIDADE